Candidatos militares somam patrimônio multimilionário; 158 declararam R$ 1 milhão ou mais de bens, incluindo generais do governo Bolsonaro, como Pazuello
General, tenente, comandante, coronel, major e, claro, capitão. Apesar de altos membros do Exército questionarem a segurança das urnas eletrônicas, diversas patentes militares irão estampar as urnas em outubro deste ano, quando mais de 1,5 mil candidatos ligados às Forças Armadas (FAs), polícias militares (PMs) e bombeiros irão concorrer às eleições.
Segundo levantamento da Agência Pública, ao todo, 1.520 políticos declararam serem das FAs, PMs, bombeiros ou irão utilizar nomes de urna com alguma patente militar — como coronel, sargento e capitão, dentre outros. A lista também inclui candidatos que são militares reformados (similar à aposentadoria para civis).
Desse total, 822 se registraram como policiais militares, 245 como militares reformados, 118 disseram ser bombeiros militares e 60 informaram serem membros das Forças Armadas. Os demais candidatos que usam nomes de urna militares se registraram com outras ocupações, como deputados, vereadores, servidores públicos e empresários.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) declarou como ocupação ser presidente da República. Ele informou ter R$ 2,3 milhões em bens.
Já o seu vice, o general Braga Netto (PL), informou ser militar reformado e declarou mais de R$ 1,6 milhão em bens. Segundo reportagem do Estadão, ele recebeu R$ 926 mil em apenas dois meses de 2020, enquanto ocupava a Casa Civil da Presidência. Os valores seriam referentes à sua ida para reserva.
A quantidade de concorrentes militares em 2022 é maior que a de 2018, quando houve 1186 candidatos declarando ocupação militar ou utilizando patentes no nome de urna.
Militares milionários: 158 candidatos declararam mais de R$ 1 milhão em bens
Os candidatos militares somam um patrimônio multimilionário: são mais de R$ 583 milhões, uma média de R$ 383 mil por político.
Juntos, apenas os que se declararam membros das Forças Armadas ou militares reformados possuem mais de R$ 134 milhões, uma média de R$ 440 mil por candidato.
O patrimônio declarado dos militares, contudo, não é distribuído uniformemente: 158 candidatos declararam R$ 1 milhão em patrimônio ou mais. Por outro lado, 466 não declararam nem um real.
No grupo de militares milionários, está o ex-ministro da Saúde durante a pandemia, o general Eduardo Pazuello. Ele declarou R$ 1,2 milhão, que inclui um apartamento e oito veículos, além de participações em empresas e fundos. Pazuello disputa o cargo de deputado federal pelo partido de Bolsonaro e Valdemar Costa Neto, o PL, no Rio de Janeiro.
De todos os candidatos militares, o com maior patrimônio é o bombeiro militar Major Souza, que concorre como deputado federal no DF pelo partido Democracia Cristã (DC). Neste ano, ele declarou R$ 13 milhões em bens imóveis. Devido à redução na transparência com a que o Tribunal Superior Eleitoral passou a divulgar o patrimônio dos candidatos, não é mais possível saber com exatidão informações dos bens ou localização dos imóveis.
Esta é a sétima eleição do Major, que já concorreu a vice-prefeito de Santana, na Bahia, em 2008, a vereador de Formosa do Rio Preto, também na Bahia, em 2012, e a deputado distrital no DF em 2018. O político já passou pelo PSB, PMDB e PRB antes de chegar ao DC, de José Maria Eymael.
Já o candidato ligado às Forças Armadas com maior patrimônio declarado é o coronel reformado do Exército Nilson Jespersen, apoiador explícito do presidente Jair Bolsonaro. Ele concorre pela primeira vez a deputado federal em São Paulo pelo PTB de Roberto Jefferson, que irá disputar a presidência.
O coronel, que se declara um patriota de direita e empresário do agronegócio, tem um patrimônio de mais de R$ 4,8 milhões. Ele declarou cinco apartamentos, uma casa, dois terrenos e três veículos. Apenas em aplicações financeiras, créditos, quotas e outros bens móveis, o coronel declarou R$ 3 milhões.
PL de Bolsonaro — e de Valdemar Costa Neto — é partido com mais candidatos militares
O PL, partido pelo qual concorrem Jair Bolsonaro e seu vice, Braga Netto, é o partido com maior registro de candidatos que informaram serem militares, policiais, bombeiros ou usam no nome alguma patente. Ao todo, são 181 políticos militares no partido, 31 só em SP.
Em seguida, os partidos com mais candidatos militares são o PTB, com 121, o Republicanos com 112, o Patriota, com 107, e o União Brasil, com 102.
O Rio de Janeiro é o estado com mais candidatos militares no país: são 219. Em seguida estão os dois maiores colégios eleitorais do país, SP, com 187, e MG, com 94.
A maior parte dos militares concorre ao cargo de deputado estadual: são 838. Em seguida vêm 579 que disputam uma vaga de deputado federal. Além disso, existem 15 militares candidatos a governador, nove a vice-governador e nove que disputam o senado.
Além de Braga Netto, a policial militar Fátima Pérola Neggra é outra candidata militar à vice-presidência. Candidata pelo Partido Republicano da Ordem Social (PROS), ela não declarou bens.
A maioria dos candidatos militares se identificam no masculino: são 1318, para 202 que se identificam no feminino. Há 866 candidatos negros, para 633 brancos. Três candidatos militares se identificaram como indígenas.
Fonte: Redação A Pública