Sindicato indica a necessidade de fortalecer rede de acolhimento das vítimas
O Coletivo de Mulheres do SindSaúde-PR (Sindicato das Trabalhadoras e Trabalhadores do Serviço Público da Saúde e da Previdência do Estado do Paraná) lançou, neste mês de março, campanha contra o assédio sexual nos ambientes de trabalho.
A psicóloga e integrante da frente, Amanda Galerani Thomaz explica que o grupo surgiu no ano passado e uma das primeiras demandas foi o combate ao assédio.
A campanha prevê a distribuição de uma cartilha com exemplos, orientações para denúncias, entre outras informações que pretendem auxiliar as vítimas. Segundo Amanda, o material foi construído com base em relatos que chegaram ao Coletivo (acompanhe a cartilha na íntegra aqui).
“O tema do assédio sexual surgiu a partir das próprias conversas anterior do Coletivo, das primeiras reuniões, e o material também foi produzido partir do compartilhamento dos relatos. A gente foi pensando que precisava contar essas histórias e deixar explícito para quem ler, para quem ouvir de que isso não é brincadeira, não é algo para se deixar para lá, não é algo para relativizar ou para se questionar, são situações muito sérias”, diz.
O assédio sexual é definido, de forma geral, como o constrangimento com conotação sexual no ambiente de trabalho, em que, como regra, o agressor utiliza sua posição hierárquica superior ou sua influência para obter o que deseja.
“Esse material foi construído coletivamente com o intuito justamente de falar sobre algo que é difícil de falar, mas que precisa ser enfrentado, dar os nomes de fato, os caminhos para se denunciar”, ela complementa.
Ainda, de acordo com a liderança, mesmo com o cuidado para manter a privacidade das vítimas, como a ocultação dos nomes e locais, tem sido comum as pessoas sinalizarem que já presenciaram situações semelhantes.
“Algumas mulheres relataram histórias que já viram, já vivenciaram e foi interessante, mas também foi difícil, triste, dolorido. Todas nós, na verdade, começamos a ouvir essas histórias e pensar ‘nossa, mas parece um colega com o qual eu já trabalhei’, ‘nossa, parece que está falando do meu colega’, e a gente se deu conta de que essas situações de assédio, elas acontecem muito mais do que a gente percebe, várias pessoas estão lendo o material e dizem que já viram muito isso acontecer”, reforça.
Embora o assédio sexual não seja cometido exclusivamente contra mulheres, são elas as vítimas mais frequentes.
A iniciativa também também estabelece a fixação de cartazes nos locais de trabalho com alertas sobre o assédio sexual e a importância da denúncia.
“A gente lançou agora, muito recentemente, ainda temos que circular nos locais de trabalho para abordar o tema e, de fato, problematizar essa questão em todos os locais, mas nos locais que a gente já foi, a gente já observa esse efeito sendo concretizado, de que as pessoas tenham consciência de que não está certo, que não pode ocorrer, e as pessoas que fazem também tenham consciência de que isso tem consequência. Não é algo que pode continuar repetindo”, aponta.

Arte: SindSaúde-PR/Reprodução
Importância de redes de acolhimento
Amanda chama atenção para o fato de que muitas mulheres que sofrem assédio sexual acabam não denunciando por vergonha, medo, e quando se queixam dentro do próprio local de trabalho para as chefias, as acusações frequentemente são relativizadas.
“Em várias situações, inclusive, que a gente pode chamar de machismo mesmo na nossa sociedade, em que as denúncias das mulheres, os relatos das mulheres muitas vezes são desqualificados ou desacreditados ou relativizados e todos esses fatores fazem com que as mulheres muitas vezes não denunciem de fato”, adverte.
Além da importância de efetuar as denúncias, ela reforça a necessidade de que as vítimas tenham uma rede de acolhimento para que não sejam revitimizadas.
“Mesmo não existindo denúncia, não quer dizer que o fato não ocorreu e isso não pode ser questionado ou relativizado como se a vítima fosse culpada, inclusive, por não conseguir denunciar. Não são situações simples e muitas vezes as pessoas são abaladas emocionalmente. Tem situações em que as mulheres têm medo de denunciar e serem mais ainda perseguidas nos locais de trabalho ou punidas de alguma forma e muitas vezes são mesmo”, alerta.
O assédio sexual é um crime previsto no Código Penal Brasileiro. A pena prevê detenção de um a dois anos, podendo ser aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18 anos.
“As histórias que a gente traz no material são todas baseadas em situações que a gente já viu acontecer, infelizmente, e muitas dessas situações não tiveram a denúncia, mas não diminui de nenhuma forma a gravidade do ocorrido. E, claro, a gente tem que estimular essas denúncias, mas fortalecer as condições para que essas denúncias ocorrem tenham encaminhamentos efetivos também, para que as mulheres não sejam mais ainda vitimizadas”, salienta.

Segundo dados do Ministério Público do Trabalho as denúncias de assédio sexual contra mulheres em ambiente de trabalho cresceram 16,8% no último ano. O órgão registrou 1.281 denúncias em 2023, 143 termos de ajustes de conduta e 45 ações civis. Em 2024, os números saltaram para 1.497 denúncias, 151 ajustes de conduta e 50 ações.
Em 2025, o Ministério Público do Trabalho já recebeu 240 denúncias, até 6 de março, e realizou 25 termos de ajustes de conduta.
“Às vezes, no dia a dia, a gente acaba naturalizando, quase como se isso fosse normal, e não é normal, é muito grave, é muito sério, traz graves consequências. A gente sabe de várias mulheres que têm muito sofrimento em relação a isso, é uma situação de violência, e a gente não pode relativizar, ou naturalizar, ou normalizar, e nesse sentido, trazer essas histórias e conversar sobre elas com os termos corretos, como nomear como assédio sexual, como crime em muitos casos, como uma situação grave de violência, tem ajudado nesse sentido de enfrentar de fato o problema”, observa Amanda.
Para formalizar uma denúncia de assédio é necessário acessar o site do Ministério Público do Trabalho, selecionar o seu estado e relatar a situação, incluindo os detalhes, as vítimas, os agressores e as testemunhas, além de indicar o endereço, e-mail ou telefone das testemunhas, se possível.

Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.