Sindicato alerta para práticas antissindicais, fechamento de agências e casos de assédio moral e sexual nos ambientes de trabalho
No Paraná, trabalhadores dos Correios aprovaram estado de greve a partir desta quarta-feira (19). A decisão foi tomada em assembleia estadual realizada no último dia 6 de março.
Elisabete Ortiz, agente de Correios, presidenta do Sintcom/PR (Sindicato dos Trabalhadores dos Correios do Paraná) e secretária de Mulheres da Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Correios e Telégrafos e Similares) explica que a deliberação ocorreu após várias tentativas de acordo com a Superintendência Estadual dos Correios no Paraná.
Entre as principais reivindicações da categoria estão melhores condições de trabalho, incluindo o combate ao assédio moral e sexual nos ambientes corporativos, e a denúncia do desmonte da estatal. Conforme informado pelo Portal Verdade, no apagar das luzes de 2024, os Correios anunciaram o fechamento de 38 agências conhecidas como CEM (Correios Empresa) a partir de fevereiro de 2025.
No Paraná, quatro unidades localizadas em Curitiba, Ponta Grossa, Arapongas e Londrina foram selecionadas para interromper as atividades (relembre aqui).
De acordo com Elisabete, a expectativa é que a mobilização conte com a adesão de todo o Paraná e de diferentes segmentos da categoria como carteiros, atendentes e operadores de triagem.
Ainda, segundo a liderança, foi deliberado pelo CONSIN, que é Conselho de Sindicatos formado por representantes da Fentect, um calendário de lutas. “A tendência da mobilização é de ampliar até a data-base e possivelmente uma greve nacional”, assinala.
Confira as pautas abaixo:
Práticas antissindicais recorrentes: ataques ao movimento sindical por parte da chefia da empresa que descumpre acordo coletivo e tenta jogar os trabalhadores contra o sindicato em reuniões, onde falam mal do sindicato, inventam notícias falsas e tentam desconstruir o trabalho sindical. Proíbem o sindicato de entrar nas unidades e desenvolver as atividades sindicais, demonstrando o desrespeito à organização sindical e aos direitos dos trabalhadores.
Fechamento e junção de unidades: medidas que prejudicam o atendimento à população e sobrecarregam os trabalhadores, já exaustivamente demonstradas por documentos e testemunhos. Várias unidades sendo fechadas ou por falta de pagamento dos alugueis, ou falta de efetivo ou simplesmente com a justificativa de economizar.
Retirada de funções de atendimento e quebra de caixa: a Superintendência do Paraná com a simples justificativa de economizar, passa por cima de normas e manuais da empresa, bem como de acordo coletivo e prejudica o financeiro e previdenciário dos trabalhadores, retirando funções que constam em seu contrato de trabalho e fazem parte da sua folha de pagamento, diminuindo seus salários e trazendo grande impacto negativo em suas aposentadorias.
Implantação de sistema de remodelagem: mais uma vez a empresa descumpre o acordo coletivo com a imposição de um sistema de distribuição domiciliaria que consiste numa entrega unificada que causa transtornos, prejuízos físicos, doenças ocupacionais e perdas aos trabalhadores e a sociedade.
Assédio moral e sexual: inúmeras denúncias que não foram devidamente apuradas, demonstrando a falta de compromisso da empresa com a segurança e o bem-estar dos trabalhadores.
A quem interessa a privatização dos Correios?
Questionada pela reportagem sobre a mídia hegemônica que, frequentemente, repercute matérias sinalizando que os Correios estariam com dificuldades para fechar as contas e, portanto, causando “prejuízo” ao governo federal, Elisabete chama atenção para ofensiva privatista encampada pelos veículos.
“A mídia de direita, em geral com cunho privatista, usa situações para tentar trazer à discussão novamente a privatização das empresas públicas e dos Correios. Toda a situação que envolve o sucateamento da empresa e um planejamento ruim, se dá, principalmente, pela escolha de chefias de direita que mesclam toda diretoria da empresa e além de não resolver as situações mais urgentes, ainda travam o grupo que tem preparo e vontade de tornar a empresa sólida, competitiva e saudável. É uma politica de desmonte para tentar privatizar”, diz.
“No Paraná são nomeados muitas pessoas despreparadas para gerir pessoas e processos, o que resulta numa bola de neve que culmina em situações extremas que também não sabem gerenciar”, ela complementa.
Importância do movimento sindical
Elisabete aponta a importância das forças sindicais para tentar barrar a precarização. “Diante de toda essa situação os trabalhadores são os mais atingidos e são desrespeitados os seu direitos mínimos. O Sindicato entende que tem que fazer o seu papel e brigar pelo direito dos trabalhadores e que independente de quem seja o nosso patrão”, observa.
“Empresa é empresa e sindicato é sindicato, toda vez que o trabalhadores sofrerem ataques em seus direitos a gestão do Sindicato do Paraná juntamente com os trabalhadores farão a luta de forma administrativa, judicial ou política e se de todas as formas não tivermos êxito, usaremos o nosso direito de greve”, adverte.
Nesta terça-feira (18), a categoria volta a se reunir em assembleia ordinária geral. O encontro virtual ocorre a partir das 18h45 e tem como intenção discutir a deflagração de greve em todo o estado.

Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.