Estudo mostra que mesmo com experiências provando que há um aumento de produtividade, redução da semana de cinco para quatro dias de trabalho é ‘bem vista’ por apenas 4,9% dos empresários
Mesmo com várias experiências mostrando que a redução de dias trabalhados durante a semana de 5 para 4 aumenta a produtividade por elevar o nível de satisfação dos trabalhadores, somente 4,9% das empresas se mostram simpáticas à ‘semana de trabalho de quatro dias’, sem redução de salário.
A resistência das empresas frusta um grande contingente de trabalhadores: 81% desejam a redução, segundo estudo publicado pelo jornal Valor Econômico, nesta terça-feira (13).
Os dados foram obtidos a partir de uma pesquisa realizada por uma plataforma especializada em recursos humanos, a Empregos.com.br. Ao todo foram ouvidas 2.552 pessoas e 251 empresas no mês de agosto. Dessas, 25% disseram ser contrárias à semana de 4 dias, 71% não têm opinião formada sobre o tema e o restante (4,9%) é favorável.
Não somente ao redor do mundo, mas também no Brasil, várias inciativas têm mostrado bons resultados. Uma delas acontece em Franca, no interior de São Paulo, onde os trabalhadores da Novahaus têm folgas todas as quartas-feiras. A empresa do setor de tecnologia ainda ofereceu R$ 400 para todos os cerca de 40 trabalhadores para usarem em aplicativos de lazer como música, filmes, livrarias, cinemas, teatros e shows.
Outro exemplo é a Zee.Dog, que comercializa produtos para pets, onde, de acordo com a própria empresa, a redução de jornada foi implantada para aumentar a qualidade de vida, diminuição do stress e, claro, para melhorar a produtividade dos trabalhadores.
Em outros países, os exemplos mais exitosos vêm do Reino Unido. Desde junho deste ano, cerca de 3,3 mil trabalhadores de mais de trinta setores da economia estão experimentando esse modelo de trabalho que promete “vidas mais saudáveis para trabalhadores e um mundo mais sustentável – sem perda de lucratividade das empresas”.
Experiências semelhantes estão sendo realizadas na Irlanda, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e Israel, como parte de uma campanha chamada 4 Day Week (semana de quatro dias) que, somente no Reino Unido, despertou o interesse de mais de 500 empresas.
Na Islândia, a jornada semanal foi reduzida para 35 horas em quatro dias úteis entre os anos de 2015 e 2019 para 2,5 mil pessoas. O resultado apurado foi de trabalhadores produzindo mais e com maior motivação.
“É a prova de que a medida, ao contrário do que pensa grande parte do empresariado brasileiro, não representa prejuízos e sim investimentos que, a médio e longo prazos, podem trazer ainda mais lucratividade”, explicou em entrevista ao PortalCUT a economista do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho (Cesit) da Unicamp, Marilane Teixeira.
Ela afirma ainda que as experiências internacionais mostram que reduzir a jornada faz com que as pessoas trabalhem mais felizes, mais satisfeitas. “E o que se faz em 44 horas, se faz em 40 horas. O que se faz em cinco dias, se faz em quatro”, ela completa.
Sobre a ‘mentalidade’ de patrões contrários à iniciativa, a economista afirmou que “ainda prevalece a ideia no Brasil de que qualquer direito ou benefício que possa se entender para os trabalhadores é ‘perda’ para os patrões e como a concepção é atrasada, evidentemente, eles enxergam isso [a redução] como um ataque aos seus lucros”, disse Marilane Teixeira.
Movimento sindical
Algumas categorias já têm incluído o tema em suas pautas de reivindicações. Os bancários, por exemplo, levaram a redução à mesa de negociação com os bancos durante a Campanha Nacional 2022.
Ivone Silva, presidenta do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e uma das coordenadoras do Comando Nacional dos Bancários, afirma que reivindicação da semana de quatro dias se baseia na premissa de que a classe trabalhadora deveria usufruir dos benefícios que a tecnologia oferece para ter maior qualidade de vida, ou seja, se há uam tecnologia disponível para facilitar as vida das pessoas, isso deveria começar pela redução da jornada, oferecendo mais tempo para os trabalhadores terem lazer e qualidade de vida.
“Por que os trabalhadores não podem participar e usufruir dos benefícios da tecnologia que fez vários processos de trabalho serem diminuídos? É uma reivindicação muito coerente e justa, nós participarmos também do acúmulo de riqueza que a tecnologia tem permitido a todo o sistema”.