Relatórios da PM e da Polícia Rodoviária listam políticos e empresário que organizaram atos ilegais em rodovias e na frente de quarteis
Os protestos ilegais que fecharam rodovias no Paraná desde o dia 30 de outubro foram liderados por empresários e políticos segundo relatórios apresentados pela Polícia Militar e a Polícia Rodoviária Federal ao Supremo Tribunal Federal (STF). Policiais militares e funcionários de empresas bolsonaristas também estão entre as pessoas identificadas. Os relatórios são parte da investigação determinada pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre Moraes e que tramita no STF.
Os nomes dos líderes mostram um envolvimento de políticos ligados a partidos de direita (PL, PP), empresários do transporte e do agronegócio, policiais militares e financiadores da campanha de reeleição do atual presidente, Jair Bolsonaro (PL) e do governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD).
As investigações, no entanto, não foram além da identificação das pessoas e veículos nos locais dos bloqueios. O detalhamento da relação das pessoas citadas com a campanha de Bolsonaro e de partidos aliados foi apurado pelo Plural e não estão nos relatórios das autoridades policiais paranaenses, que parece ter limitado sua atuação ao registros dos veículos e emissão de multas.
A reportagem do Plural teve acesso a três documentos enviados ao STF. Um primeiro relatório, entregue no dia 8 de novembro, é assinado por Adilson Luiz Lucas Prüsse, Chefe do Gabinete de Gestão de Crises da PMPR. Um segundo relatório, também da PMPR, foi enviado ao STF dois dias depois. O documento é assinado por Wagner Lucio dos Santos, diretor de Inteligência da PMPR. Já o terceiro documento é de autoria da Polícia Rodoviária Federal, assinado pelo superintendente interino Davi Rogério Artigas.
Maringá e arredores
Na região de Maringá, onde a PM identificou oito pontos de bloqueios em rodovias entre o dia 30 de outubro e 8 de novembro, uma das lideranças apontadas em um relatório da Polícia Militar é Sandro Gregório da Silva, candidato a deputado federal pelo Partido Progressistas (PP) e que concorreu à prefeitura de Umuarama, também no noroeste do Estado. A campanha de Silva recebeu R$ 400 mil de doação do partido, mas teve apenas 7 mil votos, um desempenho muito abaixo da média do partido, que foi de 22 mil votos por candidato.
No relatório assinado pelo setor de Inteligência da PMPR, um rapaz indicado como liderança é, na realidade, funcionário de uma indústria agrícola em Cianorte cujos sete sócios doaram, no total, R$ 250 mil para a campanha de Ratinho Júnior e R$ 155 mil para a de Bolsonaro. Essa ligação não está no texto da PM.
O mesmo documento diz que Robson Leandro Calistro “auxiliava nas ações de bloqueio, verificação dos veículos que seriam parados, além de discursas aos manifestantes repassando informações e notícias de interesse de todos”. Calistro aparece na prestação de contas da campanha do deputado federal Sargento Fahur (PSD) como tendo recebido R$ 3000 por serviços de militância e doado outros R$ 2250 em trabalho.
O documento também identifica um dos veículos usados para bloquear a PR-323 como pertencendo a Ouro Verde Locação e Serviço, que é parte das empresas citadas no inquérito da Operação Rádio Patrulha, do GAECO. Também foram relacionados no relatório veículos das empresas LOJAS STRICHER & OLIVEIRA LTDA e UNIAO NATIVA INSUMOS AGRICOLAS LTDA.
No total, a PM informa ter registrado 28 boletins de ocorrência e identificado 14 lideranças.
Na mesma região, foram apontados como principais envolvidos:
- Márcio Cesar Kazama, Conselheiro da Associação Comercial e Empresarial de Goioerê
- Estefano Demczuk, empresário
- Robson Leandro Calistro, trabalhou na campanha de reeleição do deputado federal Sargento Fahur (PSD). Recebeu R$ 3000,00 por serviços de militância e outros R$ 2.250,00 doados em serviços (valores estimados).
- Jamil Freitas Amadeu Júnior, empresário do setor de transportes e agronegócio
- Edison Cecílio de Camargo, presidente da Associação de Apoio Assistencial e Segurança Social da Dependentes Químicos
- Valmor Gerônimo Ferro, empresário
Ponta Grossa e arredores
Em Ponta Grossa, região dos Campos Gerais, dois irmãos estão entre as principais lideranças: Helenton Fanchin Taques da Fonseca e Douglas Taques Fonseca, sócios na Ibera Agropecuária s e outras empresas do setor agropecuário. Douglas também já foi da União Democrática Ruralista do Paraná (UDR). A atuação política de Fanchin também inclui doações no total de R$ 340 mil a candidatos na eleição de 2022, incluindo uma de R$ 20 mil para o candidato eleito ao Senado pelo Paraná, Sérgio Moro (União).
Outra liderança é a candidata a deputada federal pelo PP, Keyla Regina Sanson de Avila. Keyla apenas 2 mil votos, mas mereceu uma doação de R$ 550 mil do partido.
Outras lideranças identificadas na região são:
- Silvestre Dill, empresário do setor madereiro
- Reverson Gutierrez, subtenente aposentado da PM-PR
- Edison Laranjeira, soldado 1a. Classe aposentado da PM-PR
Cascavel e arredores
Nas cidades da região de Cascavel que tiveram pelo menos quatro bloqueios a PM só conseguiu identificar uma única pessoa, Marcelo Kalinoski, que fez campanha nas redes sociais para Bolsonaro, Ratinho Junior, Paulo Martins, Sperafico e Lucio de Marchi, mas não consta na prestação de contas deles.
Londrina e região
- Dayane Dias Gomes Miyasaki, trabalhou na campanha de Filipe Barros, deputado federal eleito pelo PL
- Ronival Cavalheiro, candidato a vereador em Ivaiporã em 2020 pelo Republicanos
São José dos Pinhais
O nome mais conhecido da lista de líderes dos bloqueios em rodovias da região de São José dos Pinhais é o do ex-prefeito de Guaratuba, José Ananias dos Santos. Ananias já foi preso por crime ambiental e condenado a devolver dinheiro para os cofres públicos pelo Tribunal de Contas.
- Anderson Laverde, empresário do setor de transportes
- Adriano Geraldo Cruz Ribeiro, líder da igreja Dia a Dia Junto com Deus, em Matinhos
- José Ananias dos Santos, ex-prefeito de Guaratuba
- Luis Alvim Matias, empresário de Morretes
- Geraldo Ricardo Borkoski, empresário do setor de transporte em Palmeira
- Fabiano da Conceição Catharina, candidato a vereador pelo PSL em 2020, em Palmeira
Foz do Iguaçu
Na região de Foz do Iguaçu, a PM identificou como líderes da manifestação em frente ao 34° Batalhão de Infantaria Mecanizada dois homens, ex-candidatos. João Bosco de Oliveira Melo foi candidato a vereador em 2020 na cidade pelo PRTB. “Ajudou a organizar a concentração de manifestantes em frente ao 34º BIMEC/Foz do Iguaçu no dia 2 nov. 22, 10h, afirmando que faz parte de um grupo que “não vai entregar, de jeito nenhum, a nação aos criminosos”, pedindo que “as FFAA atuem em favor dos brasileiros””.
O segundo líder seria Ranieri Marchioro, candidato do PTB a deputado estadual em 2022. Além de investir R$ 55 mil na própria campanha, Marchioro também doou R$ 32 mil ao candidato a deputado federal Filipe Barros. Ranieri é listado como proprietário de dois caminhões usados no protesto.
Apucarana
Em um relatório da Polícia Rodoviária Federal do Paraná enviado ao STF, o principal líder do bloqueio na BR-376 na região de Apucarana é João Paulo Bertoli, sócio da Transapucarana Transportes Rodoviários. O outro sócio da empresa é Manoel Luis Bertoli, que se filiou ao MDB no início de 2022 com a esperança de se lançar candidato a deputado estadual pelo partido, o que não aconteceu. Manoel é irmão do vereador por Apucarana, Mauro Bertoli (União Brasil).
Fonte: Redação Plural