Protesto chama atenção para aumento da letalidade policial na cidade e reivindica investigações mais detalhadas
Familiares e amigos de vítimas de violência policial em Londrina chamam a população para novo ato que ocorre hoje, quarta-feira (30), às 18h30, na Praça do Conjunto Maria Cecília, localizada na zona norte da cidade. A manifestação é organizada pelos grupos “Justiça por Almas” e “Sem justiça, sem paz”.
“O objetivo do ato é marcar o mês da Consciência Negra e trazer a tona que as maiores vítimas de violência policial são homens negros e periféricos. A motivação desta nova manifestação é o número de mortes em supostos confrontos policiais que têm acontecido na cidade de Londrina e na região metropolitana. Avaliamos que a repressão tem aumentado e não podemos permitir que seja tratado como confronto, fica cada vez mais nítido que são, de fato, execuções e precisamos garantir vida a nossa juventude”, aponta o coletivo Sem justiça, sem paz.
A atividade busca também expressar apoio ao projeto de instalação de câmeras de segurança nas fardas da Guarda Municipal de Curitiba. O grupo considera que, se aprovada, a legislação abre um importante precedente para todo o estado do Paraná, visto que em localidades em que o procedimento foi adotado, a exemplo de Santa Catarina, tem sido observado um recuo na letalidade policial.
Hayda Melo da Silva, mãe de uma das vítimas, pontua que o movimento busca chamar atenção para alta letalidade decorrente da ação policial no município. Também procura cobrar investigações mais detalhadas por parte das forças de segurança pública, desconstruindo os discursos corriqueiros disseminados pela polícia militar e veículos de comunicação hegemônicos de que os assassinatos de civis foram por autodefesa, ou seja, decorrentes de “confrontos”.
“Queremos justiça por nossos filhos executados pela polícia militar na cidade de Londrina e região. Em confrontos ilegítimos. Exigimos câmeras de monitoramento nas fardas e viaturas, exames toxicológicos nos policiais”, aponta Silva. Este é o segundo ato convocado neste mês. O primeiro ocorreu no Dia de Finados e contou com a participação de cerca de 50 pessoas que saíram em cortejo silencioso do Moringão ao Cemitério São Pedro.
Lucia Bueno, também mãe de uma das vítimas, salienta que longe de oferecer segurança, as forças policiais provocam medo, visto o aumento da repressão. “Que segurança que é esta que nós temos? As pessoas menos favorecidas que moram nas periferias estão morrendo de medo. Os jovens quando encontram os agentes nas ruas correm, não porque eles devem, mas porque sabem que se eles ficarem, irão apanhar ou morrer, principalmente, se tiverem alguma passagem. Então, o que a gente percebe é que, na verdade, não são confrontos, são execuções. Quem é que em sã consciência vai enfrentar uma Choque ou Rotam? Com policiais todos com armas potentes?”, questiona.
Levantamento do Ministério Público do Paraná, divulgado em abril deste ano, aponta que em 2021, ocorreram 417 mortes decorrentes de confrontos com policiais civis, militares e guardas municipais no estado, aumento de quase 10% em comparação ao ano de 2020, quando ocorreram 380 mortes. Dos óbitos, a maioria das vítimas tinha até 29 anos (62,9%) e era negra (53,3%).
O ato é aberto a todos aqueles que se solidarizam com as reivindicações. Organizadores pedem para os participantes irem de roupa preta e utilizarem máscara facial devido ao crescimento de novos casos de Covid-19 em Londrina nas últimas semanas.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.