Desemprego recua, mas contratações são puxadas por trabalho informal
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada nesta quarta-feira (30) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicou que a taxa de desemprego, no trimestre encerrado em outubro, foi de 8,3%, atingindo mais de 9 milhões de pessoas. O índice representa um recuo em relação ao mesmo período de 2021, quando 12,1% da população estava fora do mercado de trabalho.
Entretanto, o aumento ocorre, sobretudo, pela criação de vagas informais, ou seja, sem reconhecimento de vínculo trabalhista e, portanto, sem acesso a direitos garantidos pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) como 13º salário, férias, intervalo para descanso remunerados. Ainda, segundo o levantamento, o contingente de empregados com carteira assinada no setor privado cresceu 8,1% nos últimos 12 meses, ultrapassando 36 milhões de trabalhadores. Já o de empregados sem carteira assinada aumentou 11,8% no mesmo intervalo, são 39 milhões de pessoas sobrevivendo na informalidade.
Chama atenção também a totalidade de trabalhadores desprotegidos no serviço público: mais de 3 milhões, crescendo 33,6% em um ano. Para o economista Venâncio Oliveira, a informalidade tem sido uma característica do mercado de trabalho no Brasil, assentado pela intensa concentração de renda. Ocorre que, neste momento, ela passa atingir trabalhadores com mais anos de estudo. “A gente sempre conviveu com a informalidade. Nos anos 90, tínhamos a desproteção e desemprego, sobretudo, entre pessoas com menor grau de escolaridade. Então, as que estudavam mais, tinham menos chances de estar nesta situação. Agora não, também acomete pessoas com mais instrução”, analisa.
Registrados, mas com rendimento mais baixo
De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados pelo Ministério do Trabalho e Previdência nesta terça-feira (29), foram criadas 159.454 vagas com carteira assinada no mês de outubro. O número considera a diferença entre as 1.789.462 contratações e as 1.630.008 demissões no período, e indica queda na criação de postos de trabalho formais no país.
Em setembro, o saldo foi de 278.085 novas oportunidades, representando recuo de 7,7% no ritmo de contratações. Já as demissões caíram 1,9%. O salário médio de admissão no mês passado foi de R$ 1.932,93, diminuição de R$ 7,28 em relação ao valor do mês de setembro. A remuneração também é 2,4% menor do que o valor recebido pelos trabalhadores na dispensa (R$ 1.981,39).
O setor de serviços lidera a oferta de vagas, com 91.294 novos postos abertos no último mês. Em seguida, estão as contratações do comércio com 49.356 vagas e a indústria, com 14.891 novas oportunidades. Entretanto, a área da agropecuária registrou variação negativa, ou seja, apresentou mais desligamentos do que admissões, 1.435 postos foram fechados.
Em Londrina, o saldo de empregos formais também sofreu pequeno arrefecimento, mas segue positivo. Foram oferecidas 1.110 novas vagas no último mês, resultado de 7.873 contratações e de 6.763 demissões.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.