Evento reuniu professores, estudantes, representantes sindicais na UEL
Na última terça-feira (29), ocorreu o I Fórum das Entidades em Defesa da Educação Pública na Universidade Estadual de Londrina (UEL). Organizado pelo Departamento de Educação, Fórum de Licenciaturas (FOPE), com a participação da Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE), Sindicato dos Trabalhadores de Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato) e Sindicato dos Professores do Ensino Superior Público Estadual de Londrina e Região (SINDIPROL/ADUEL), o evento debateu o projeto “Parceiro da Escola”.
A medida, anunciada pelo governo Ratinho Júnior (PSD) no início de outubro, tem sido amplamente criticada visto que autoriza que empresas assumam a gestão de 27 escolas públicas no estado, negligenciando o papel dos poderes públicos em garantir a oferta de um ensino gratuito e de qualidade para toda a população.
Adriana Medeiros Farias, professora do Departamento de Educação da UEL e uma das coordenadoras do Grupo de Pesquisa em Educação, Estado Ampliado e Hegemonias (GPEH) chama atenção para o fato de que o programa provoca o “empresariamento da escola pública” e, ainda, reforça um modelo de escola cuja preocupação não é o ensino crítico e emancipatório, mas apenas preparação de mão de obra precarizada.
“O projeto Parceiro da Escola destrói os fins públicos da educação pública, fere o princípio da gestão democrática e coloca em risco toda organização escolar na perspectiva de um currículo que tem uma premissa político-pedagógica. Ao transplantar o modelo empresarial, não só para administração, mas também para os currículos, nós estamos na eminência da formação de um tipo de trabalhador e trabalhadora que interessa a forma como o capital-trabalho vem se reorganizando e isso significa que o novo ensino médio, a BNCC [Base Nacional Comum Curricular], todas estas normativas estão alinhadas a este modelo de qualificação”, observa a docente.
Farias destaca que a ofensiva privatista, neste momento destinada à educação básica, poderá ser adotada também por instituições de ensino superior. “A privatização da universidade não é só a venda, estabelecimento de mensalidades como se imagina. É um processo que já vem sendo realizado, primeiro, de destruição, que é o que o governo do Paraná tem feito, destruir a educação pública, falta de investimento para formação docente. Para depois dizer ‘olha, está vendo, esta instituição está com problema’ e procura-se uma empresa para resolver”.
Para a pesquisadora, o empresariado que atua na área de educação possui interesse em firmar acordos com o estado, que torna-se seu “principal cliente”, devido à grande escala de atendimentos e produtos que são requeridos, gerando, assim, pagamentos com altos valores. Estimativa publicizada pela APP-Sindicato, indica que o projeto custará, em um ano, mais de R$ 2 milhões aos cofres públicos.
Ivo Ayres, professor e secretário educacional na APP-Sindicato, compartilha da mesma avaliação. Para ele, é urgente ampliar a discussão com todos os setores da sociedade, alertando para os prejuízos da iniciativa e rompendo com visões falaciosas de que a qualidade da educação seja a principal finalidade.
“A fala da SEED encanta, mas é uma fala que não corresponde à realidade. Então, nós precisamos esclarecer a população para que digam ‘não’ a este processo de privatização. Nós estamos ao longo desta semana, realizando panfletagem nas entradas e saídas das quatro escolas envolvidas contra todo o processo de privatização que está acelerado, mas não é apenas das escolas, visto a privatização da Copel, hospitais públicos, sistema penitenciário”, evidencia.
Em Londrina, a APP-Sindicato juntamente com outras organizações a exemplo do Fórum Paranaense de Educação de Jovens e Adultos, tem realizado reuniões nas escolas indicadas pela SEED para novo modelo de gestão. São elas: Colégio Estadual Professora Lúcia Barros Lisboa, Colégio Estadual Professora Olympia Morais de Tormenta, Escola Estadual Rina de Francovig e Escola Estadual Roseli Piotto.
Ayres ressalta a estratégia do Palácio do Iguaçu de propor a privatização de empresas e serviços públicos no final de ano, próximo ao recesso parlamentar e sem possibilitar ampla discussão com a população, reafirmando a lógica de gestão autoritária das políticas públicas pelo governador reeleito. “São ações bem no final do ano, como tem sido a estratégia não só deste governo, deixar estes pacotaços da maldade que vem quando as pessoas já não estão mobilizadas”, afirma.
Para o professor, uma das preocupações que o programa desperta é a ampliação das desigualdades socioeducacionais e, consequentemente, a evasão dos estudantes, já que diferentemente da busca da inclusão, o setor privado privilegia a obtenção de lucro.
“A escola pública atende a todos, inclusive, aqueles que tem dificuldades de aprendizagem, com deficiência. Estes, provavelmente, serão excluídos porque eles não se enquadram nesta ideia de estudante padrão que estas empresas serão obrigadas a ter para ter elevação, a todo custo do IDEB e garantirem o ganho de R$ 800 por aluno. É um absurdo, ao invés de investir na educação pública, repassa dinheiro público para empresários”, ele adverte.
Acompanhe entrevista com os professores Ivo Ayres, Luciana Suwigawa, ambos da APP-Sindicato e Gisele Masson, do Departamento de Educação da UEL concedida à Rádio UEL FM. Na conversa, os docentes apontam as consequências do projeto para o que consideram o “fim do ensino público paranaense” e indicam as ações de enfrentamento que estão sendo traçadas.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.