Doações buscam garantir segurança alimentar e dignidade neste Natal
“O Brasil precisa ser dirigido por uma pessoa que já passou fome. A fome também é professora”. Já afirmava Carolina Maria de Jesus, mulher negra, mãe, favelada, catadora, escritora invisibilizada ao longo da história. A desigualdade apontada por ela na década de 1960, ainda se faz presente e buscando superá-la, às vésperas do Natal – para alguns data marcada também pela corrida aos supermercados e carrinhos cheios para o preparo das receitas – nesta quinta-feira (22), o Coletivo Popular Vista Bela em Movimento entrega cestas de Natal a moradores da região em situação de vulnerabilidade econômica.
O conjunto habitacional, localizado na Zona Norte, possui aproximadamente 2.700 moradias e 12.000 habitantes. De acordo com Vanessa Carolina Prates Rocha, estudante do curso de Serviço Social na Universidade Estadual de Londrina (UEL) e fundadora do grupo, a finalidade da campanha é proporcionar uma ceia de Natal, garantindo na mesa das famílias alimentos tradicionais à época como pêssego em caldas.
“Sabemos que a campanha não irá mudar a vida de quem por ela for alcançada é algo paliativo, mas sabemos também da importância de ações como essas para proporcionar o mínimo de dignidade alimentar principalmente no Natal uma data tão simbólica”, conta.
A liderança lembra do crescimento da fome e pobreza sob o governo de Jair Bolsonaro (PL). Dados da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, divulgados em junho deste ano, demonstraram que cerca de 33 milhões de brasileiros não tem o que comer, 14 milhões a mais do que em 2020. Com estes índices, o país retorna ao cenário de 1990.
Alguns moradores das ocupações Silvano Caramori Neto e Flores do Campo e de municípios vizinhos como Rolândia e Porecatu também serão contemplados. Juntamente com as doações do Coletivo, cada família também receberá uma cesta do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Integrando a campanha “Natal sem fome”, até o próximo dia 10 de janeiro, serão distribuídas 100 toneladas de alimentos em todo o Brasil. Somente em Londrina, foram entregues 14 toneladas de alimentos, sendo 840 cestas e mais 800 litros de leite.
Além dos mantimentos, também serão compartilhados itens de higiene pessoal, brinquedos e livros para crianças. “No próximo ano estamos com o objetivo de fazer um clube de leitura com este público-alvo, então essa é a oportunidade para que eles tenham uma aproximação e despertem neles o interesse por leitura”, ela indica.
Rocha explica que durante todo ano, o Coletivo busca desenvolver ações para conscientização política a fim de proporcionar à comunidade conhecimento sobre seus direitos, mobilizando-a a lutar por eles. Em janeiro, nova campanha será realizada para arrecadação de materiais escolares. Quem desejar contribuir, pode entrar em contato através do telefone (43) 99953-2930. O número também é chave PIX, para aqueles que puderem contribuir com alguma quantia.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.