Contemplando todas as faixas etárias, atrações ocorrem entre os dias 1 e 5 de novembro no bairro Vista Bela
Desde a última terça-feira (1), acontece a segunda edição da “Semana da Favela” em Londrina. As ações ocorrem no bairro Vista Bela, na zona norte da cidade e são abertas a toda a população. Até o próximo sábado (5), diversas atividades compõem a programação: desde atrações artísticas como oficinas com contação de histórias, teatro de bonecos e meditação à distribuição de marmitas e feira de negócios. Representantes de pastas associadas a Prefeitura de Londrina, a exemplo da Educação e Assistência Social, também participam do evento fornecendo mais informações sobre serviços e políticas públicas ofertadas pelo município.
“A gente vai cuidar das pessoas por dentro e por fora. Vamos pensar na estética como autoconhecimento sobre a identidade do povo preto através das tranças e a história que existe por trás. Vamos falar sobre autocuidado da pele, de reconhecer sua própria beleza olhando para o espelho juntamente com técnicas de maquiagem”, aponta Lua Gomes, fundadora do grupo Conexões Londrina e coordenadora regional da Central Única das Favelas (CUFA).
A liderança afirma que além de um momento comemorativo, a Semana também tem finalidade educativa não apenas para os “favelados”, mas para toda sociedade que ainda tem muito preconceito com os territórios localizados a margem da cidade e seus moradores. Distanciando-se de visões estigmatizadas, ela lembra que “favela” é uma planta de Nordeste, uma espécie de cacto, e um ponto de encontro durante a Guerra de Canudos, onde as pessoas que iam lutar utilizavam como referência.
“Há que se entender toda a simbologia de resistência que esta palavra [favela] tem entre os povos pretos e periféricos. O termo “favela” foi usado, pela primeira vez, para se referir ao Morro da Providência no Rio de Janeiro no dia 4 de novembro de 1900 por um delegado que falava sobre a ocupação do Morro e o higienismo, da necessidade de tirar as pessoas “sujas” de lá”, explica.
Ela também evidencia que a intensa concentração de renda faz com que a classe trabalhadora, explorada nos grandes centros, recorra às regiões mais marginalizadas devido ao custo de vida ser mais baixo. Segundo o levantamento “Um país chamado favela 2022”, divulgado pelo Data Favela em parceria com a CUFA e o Instituto Locomotiva, o país tem hoje 13.151 favelas – o dobro do registrado 10 anos. Em 2012, existiam 6.329 favelas.
“Existe uma demagogia muito grande neste discurso de criminalizar as pessoas que moram na favela. A maioria das pessoas que fazem com que as classes dominantes continuem dominando são as pessoas que trabalham para elas. E as pessoas que trabalham para elas estão aqui na periferia, nas bordas da cidade, nos bairros onde as redes de serviços não conseguem dar vasão da demanda, onde as desigualdades são históricas e gerações de vidas são subjugadas”, ela observa.
Para Gomes, a presença de prestadores de serviços na comunidade é fundamental para que as pessoas conheçam mais sobre seus direitos e oportunidades. “Às vezes a pessoa tem a demanda e não sabe que o serviço é público, gratuito e pode ser prestado a ela”, afirma.
Confira a programação completa:
Dia 1/11
9h30: Oficina de Macramê
Rua Celeste Conto Moro, 182
15h: Oficina de “Tranças: histórias e técnicas”
Rua Celeste Conto Moro, número 182
Dia 3/11
9h30: “Balanço de Pano: Oficina de Sling- conforto e saúde nos cuidados do bebê”
Avenida Giocondo Maturi, número 730
15h: Oficina de “Automaquiagem e autocuidado”
Avenida Giocondo Maturi, número 730
Dia 4/11
Das 9h às 12h: Feira de Serviços
Rua Anibal Balarotti, 100, esquina com Celeste Conto Moro
8h e 13h30 (duas sessões): “Contação de Histórias da Mitologia Yorubá, com a Preta do Leite”
Evento Lotado
Escola Municipal America Sabino
10h e 15h (duas sessões): “Teatro de bonecos da cidadania e educação no trânsito”
Evento Lotado
CMEI Irmã Nívea
15h: Sessão de Meditação Inaugural do Projeto “Conexão Interior”
Avenida Giocondo Maturi, número 730
Dia 5/11
Evento Livre – Praça do Vista Bela
10h: Abertura das atividades culturais e desportivas
Oficina de Capoeira com projeto da UEL; Pista de Skate; Jogos e brincadeiras de rua com a equipe do curso de Educação Física da UEL
12h: Distribuição de marmitas
15h: Abertura das apresentações artísticas: sertanejo; samba e pagode; funk; hip-hop, com batalhas de rimas; circo e arte de rua; DJ’s; break dance e C-Walk; meia hora de palco aberto
Das 18h às 21h30: Feira de negócios, produtos e serviços locais
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.