Segundo relato do pai, ela vem sendo constrangida e ameaçada de expulsão da escola caso não retire a tinta do cabelo
Há dois anos, a filha de Márcio Fernando Sedlak estuda na Escola Estadual República do Uruguai, em Curitiba. Frequentava normalmente as aulas, porém desde o início do ano letivo de 2023 a aluna do 2º ano de ensino médio vem sendo ameaçada e constrangida pela direção escolar, que desde o ano passado passou a ser cívico militar. O motivo é porque a aluna voltou às aulas com o cabelo pintado de azul.
Ela retornou às aulas em 6 de fevereiro com o cabelo pintado, devidamente autorizada pelo pai. A escola informou à aluna que ela teria que retirar a tinta, voltar ao tom natural. Se isso não ocorresse, no dia posterior não poderia entrar na escola.
No outro dia, ao ser informado pela filha, Márcio foi até a escola, garantindo que ela pudesse assistir às aulas. Além disso, se reuniu com a diretora, Professora Maria Elisângela, argumentando que esse tipo de proibição não consta em nenhum documento ou regimento da escola.
Constrangimento
“Nesse dia que fui à escola, acompanhei a formação da fila e vi eles tirando várias crianças e adolescentes com cabelos tingidos ou descoloridos e os colocando no centro do pátio. Eu vi esse absurdo de exposição não só com a minha filha, mas com outros alunos”, relata Márcio.
Além da conversa com a diretora da escola, o pai também fez a reclamação à ouvidoria, mas não recebeu nenhuma resposta até agora.
Segundo ele, a filha continua sendo exposta e constrangida na escola. “Ontem um sargento que integra a gestão da escola entrou dentro da sala de aula e anotou uma advertência para ela e ainda falou que se até o dia 10 de março ela não fizer a pintura do cabelo, teria que trocar de escola”, diz. O pai destaca que são coações verbais diárias voltadas à filha.
“Não pretendo deixar que isso continue acontecendo. Soube de outros pais que pretendem processar a escola por outros tipos de assédio com alunos. Torna-se um agravante essas pessoas que não têm formação pedagógica num ambiente escolar”, diz
O Brasil de Fato Paraná entrou em contato com a direção da escola por telefone e e-mail, mas até o fechamento deste texto não obteve retorno. Caso a escola responda, a matéria será atualizada.
O que diz a SEED
Em nota ao Brasil de Fato Paraná, a assessoria da Secretaria de Educação do Estado (SEED-PR) informou que “tomou conhecimento da situação na manhã desta quinta-feira (2) e, em diálogo com a comunidade escolar da Escola Estadual República do Uruguai, esclarece que:
Como todas as instituições de ensino (cívico militares ou não), a Escola Estadual República do Uruguai conta com regimento interno. O documento não obriga os alunos da instituição a frequentar as aulas com os cabelos na cor natural.
Porém, cada comunidade escolar também possui regras, fruto da autonomia pedagógica de cada instituição e das aspirações de pais, alunos, funcionários, professores e diretores. Nesse colégio específico, a cultura escolar prefere uniformidade estética por conta da realidade local. São questões delicadas nas quais a escola balanceia preferências individuais e coletivas.
Isto posto, a Seed-PR lamenta qualquer mal-entendido que tenha gerado constrangimento à aluna e à sua família. O papel da secretaria é garantir que todos os estudantes tenham aulas e ninguém pode ser privado do direto à educação.
O fato será usado pela comunidade escolar para promover o diálogo sobre esse acontecimento e sobre direitos individuais e aspirações coletivas.”
E a nota ainda destaca sobre o Manual dos Colégios Cívico Militares do Estado:*
“As orientações referentes ao uso do uniforme e aos aspectos de apresentação pessoal não pretendem excluir e nem restringir a liberdade pessoal, mas sim criar uma identidade visual do estudante e, ao mesmo tempo, estimular a sensação de pertencimento ao ambiente escolar.
A apresentação individual é um dos pontos considerados de grande importância dentro do Programa Colégio Cívico Militar do Paraná. Engloba o uniforme, a padronização do cabelo e o uso de adornos. Está inserido nos aspectos educacionais relacionados com a higiene, boa aparência, sociabilidade, postura, dentre outros.”
Fonte: Brasil de Fato