Após consecutivos adiamentos e meses de tratativas, governador não apresentou contraproposta
Em assembleia realizada na manhã desta quarta-feira (25), professores da Universidade Estadual de Londrina (UEL) aprovaram, por unanimidade, a retomada da greve da categoria a partir da próxima segunda-feira (30). No mesmo dia, os professores irão realizar nova assembleia pela manhã.
A decisão foi tomada após o governo Ratinho Júnior (PSD) não oficializar o novo Plano de Cargos, Carreiras e Salários (PCCS) anunciado pela Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (SETI) (saiba mais aqui). O plano é visto como uma tentativa de amortizar a dívida acumulada pelo governo do Paraná com a categoria.
Após consecutivos adiamentos e meses de tratativas com o representante da pasta, Aldo Bona e parlamentares, a expectativa era que a contraproposta do PCCS fosse apresentada durante a reunião do governo com os reitores, que estava agendada para a quarta-feira passada, dia 18. Entretanto, a reunião foi novamente desmarcada e, posteriormente, agendada para esta terça-feira, dia 24. Mesmo assim, nenhuma contraproposta foi apresentada pelo Palácio do Iguaçu.
Esta é a segunda greve deflagrada pelos docentes neste ano. A primeira ocorreu entre maio e junho. “Nós estamos vindo de uma campanha de natureza salarial que começa no período de março devido uma defasagem de 42% por conta de sete anos consecutivos sem revisão anual dos salários determinada por lei e não cumprida pelo governo do estado. No mês de agosto, fora da data-base, portanto, o governo concedeu 5,79%, mas continuamos com uma defasagem superior a 36% sem fazer o cálculo de maio para cá, mas por conta de um projeto do governo que alterou todos os PCCS dos servidores do poder Executivo, somente o dos docentes universitários não o fez, a conclusão disso é que nos suspendemos o processo de greve em face de uma medida compensatória que é alteração do nosso PCCS”, lembra Cesar Bessa, presidente do Sindiprol/Aduel em entrevista ao jornalista e assessor do coletivo, Guilherme Bernardi.
O docente pontua que mesmo não tendo agendamento específico para reunião, o Comando Estadual de Greve foi a Curitiba ontem. Porém, ao se reunirem com assessores do líder do governo, deputado Hussein Bakri (PSD) constataram que as informações eram as mesmas das últimas semanas, sem nenhuma novidade no andamento da contraproposta.
“Esta mudança vinha sendo discutida com os reitores e o governo do estado, mas nenhuma contraproposta foi apresentada, passou o mês de agosto, o de setembro, outubro, estamos iniciando novembro e não foi apresentada nenhuma proposição por parte do estado. É sempre uma desculpa, ‘vai sair essa semana’ e não saí. Neste dia 24 de outubro, estivemos em Curitiba, houve uma reunião com o governador do estado e todos os reitores e novamente essa proposição não aconteceu”, observa.
Ainda, de acordo com a liderança, o secretário de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior Aldo Bona em comunicação deixou o seguinte recado ‘não teremos anúncio do plano hoje porque não fechamos os cálculos da mitigação”, relatou o professor.
Na tarde desta quarta-feira, a Associação Paranaense das Instituições de Ensino Superior Público (APIESP) declarou: “Logo após o encontro, a SETI retomou o grupo de trabalho, formado pelas pró-reitorias de recursos humanos das universidades estaduais, para realização de um estudo técnico para indicar formas de absorver o impacto orçamentário da proposta. Está prevista para a próxima semana uma nova agenda entre o governador, equipes das Secretarias envolvidas e APIESP para fechamento da proposta”.
As seções sindicais docentes das universidades estaduais do Paraná realizarão assembleias durante a semana para avaliar e deliberar sobre a sequência da luta da categoria pela reposição salarial. “A expectativa é que os sindicatos das demais universidades estaduais do Paraná deliberem por intermédio de assembleias que já estão designadas a partir de hoje, inclusive, também pela paralisação por tempo indeterminado. A questão é a gente unir as forças do estado inteiro na nossa reivindicação, pois a alteração do PCCS vai atender a todos os docentes universitários estado do Paraná”, acrescenta Bessa.
O sindicalista salienta que a luta atravessa a recomposição salarial da categoria, trata-se, da defesa da carreira e da educação pública. “O movimento de greve, em um primeiro momento, é reivindicatório por condições de salário, mas isso é no plano imediato. No plano mediato é a luta institucional, nós só teremos universidade forte se tivermos uma carreira fortalecida senão ninguém vai querer participar desta carreira, temos que estimular que as pessoas queiram ser professores nas universidades, pesquisadores e possam melhorar a sociedade como um todo”, adverte.
Confira a seguir nota do Comando Estadual de Greve dos Docentes das Universidades Estaduais do Paraná:
Governo chantageia, recua e não apresenta contraproposta de PCCS!
Ratinho Jr., mais uma vez, demonstrou o seu desrespeito aos docentes das universidades. Depois de meses, a tão esperada, protelada e negligenciada reunião para apresentação da contraproposta do governo finalmente ocorreu. Porém, desgraçadamente, o resultado veio na contramão do que vinha sendo anunciado por representantes do próprio governo.
Argumentos sobre os impactos financeiros deram o tom da reunião. Membros do Comando Estadual de Greve – CEG ficaram muitas horas esperando na porta do Palácio Iguaçu para uma reunião com os reitores e o secretário da SETI visando obter informações para levar às assembleias. No entanto, não houve reunião com os docentes e nem apresentação de contraproposta alguma.
Em suma, em junho, o governo fez chantagem para a suspensão da greve e, ao fim, restou apenas o usual descaso com a categoria docente. Precisamos lotar as assembleias dos próximos dias e, conjuntamente, deliberarmos pelos caminhos da nossa luta.
Com a colaboração da estagiária Victoria Luiza Menegon.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.