Ao todo, mais de 80 nomes foram identificados e encaminhados para o Ministério Público Federal e Ministério Público do Paraná na tarde desta quinta-feira (12)
Desde a tentativa de golpe contra o Estado brasileiro no último domingo (8), quando apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) tentaram invadir a sede dos Três Poderes em Brasília, uma série de medidas estão sendo tomadas a fim de minimizar os danos materiais (o prejuízo é estimado em R$ 8 milhões apenas para recuperação de obras de arte), restabelecer a segurança e punir os envolvidos.
Uma das medidas foi criada ainda no dia do atentado. O Partido dos Trabalhadores (PT) do Paraná criou um canal anônimo de denúncias, via número de WhatsApp (DDD: 041 9522-2650), para o envio de informações sobre possíveis participantes. De acordo com o presidente da sigla no Paraná, deputado estadual Arilson Chiorato, a motivação para a oferta da ferramenta é colaborar na identificação dos responsáveis pela ação terrorista que juntamente aos danos financeiros colocou à prova a soberania popular e legitimidade das instituições democráticas no país.
“Face ao ocorrido no último domingo, em Brasília, cenas trágicas, lamentáveis para a história do país, nossa democracia e imagem do Brasil mundo afora, onde uma minoria radical bolsonarista criminosa depredou e roubou o patrimônio público. Nós do PT do Paraná vamos colaborar com a Justiça”, pontua.
De acordo com o parlamentar, até esta quinta-feira (12), o partido já havia recebido mais de 2.500 relatos. A natureza das mensagens é diversificada e são registradas, principalmente, em conversas via aplicativos de mensagens, publicações em redes sociais, fotos e vídeos. Após formulação de relatório com todos os materiais coletados, o PT Paraná encaminhou, na tarde de hoje, Pedido de Providência ao Ministério Público Federal (MPF) e ao Ministério Público do Paraná (MRPR). Ao todo, foram identificados mais de 80 nomes. A denúncia foi protocolada no MPPR sob o número PRPR 000021772023.
“Nós não podemos permitir que pessoas saíam do estado do Paraná e cometam aqueles crimes, fazendo com que nosso estado e país fiquem marcados por um episódio tão triste e violento. Estamos ajudando na identificação para que as pessoas paguem, fazendo com que o patrimônio seja recuperado”, indica.
De acordo com levantamento publicizado pela Agência Pública, na segunda-feira (9), a maioria dos 86 ônibus usados pelos golpistas, identificados pela Polícia Federal, partiu dos estados de São Paulo e Paraná: 31 e 23 veículos, respectivamente. Londrina, com cinco ônibus, é o município com mais veículos enviados.
Em âmbito nacional, o Ministério da Justiça e Segurança Pública também criou e-mail (denuncia@mj.gov.br) para receber dados sobre envolvidos na ação terrorista. Até esta terça-feira (10), o canal já contabilizava cerca de 20 mil queixas. A Polícia Federal, por sua vez, também criou endereço eletrônico para envio de informações (denuncia8janeiro@pf.gov.br). Até o momento, a Instituição não divulgou um primeiro balanço com o número de mensagens recebidas.
Conforme informações fornecidas pela Secretaria de Administração Penitenciária do DF (Seap-DF), até a tarde de ontem, 1.138 pessoas tinham sido presas por participação no ato antidemocrático, sendo 696 homens, levados ao Centro de Detenção Provisória 2, no Complexo da Papuda, e 442 mulheres encaminhadas à Penitenciária Feminina do DF.
Silêncio na ALEP
Por outro lado, na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP), a maioria dos parlamentares preferiu se omitir. De acordo com apuração do Jornal Plural, apenas 26 dos 54 deputados estaduais repudiaram o atentado ao Palácio do Planalto, Supremo Tribunal Federal (STF) e Congresso Nacional. Confira listagem com nomes que não se pronunciaram abaixo:
- Adao Fernandes Litro (PSD);
- Alexandre Curi (PSD);
- Alisson Wandscheer (Pros);
- Artagão Júnior (PSD);
- Batatinha (MDB);
- César Mello (PP);
- Cobra Repórter (PSD);
- Cristina Silvestri (PSDB);
- Delegado Jacovos (PL);
- Delegado Tito Barichello (União Brasil);
- Douglas Fabricio (Cidadania);
- Evandro Araujo (PSD);
- Flavia Francischini (União Brasil);
- Gilberto Ribeiro (PL);
- Gugu Bueno (PSD);
- Luis Corti (PSB);
- Luiz Fernando Guerra (União Brasil);
- Marcel Micheletto (PL);
- Marcio Nunes (PSD);
- Marcio Pacheco (Republicanos);
- Maria Victoria (PP);
- Marli Paulino (SD);
- Ney Leprevost (União Brasil);
- Paulo Gomes Da Tv (PP);
- Ricardo Arruda (PL);
- Samuel Dantas (Pros);
- Soldado Adriano José (PP);
- Tiago Amaral (PSD).
Empresário de Londrina
Ainda, conforme reportagem do Plural, dez paranaenses e três empresas do Paraná aparecem na lista da Advocacia-Geral da União (AGU) que relaciona nomes ligados ao financiamento do ato golpista em Brasília (confira aqui). O documento foi encaminhado à Justiça Federal do Distrito Federal. Em medida cautelar, a AGU pediu o bloqueio de R$ 6,5 milhões em bens de 52 pessoas e sete empresas que financiaram o fretamento de ônibus para os atos golpistas.
Entre os citados, está o empresário Pedro Luis Kurunczi, de Londrina. Segundo a matéria, ele possui participação em 10 CNPJs perante a Receita Federal do Brasil. Todos na cidade, estando dois ativos: Laris Empreendimentos Ltda. e E.E.G.P. Escritório de Engenharia e Gestão de Projetos Ltda.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.