Pessoas que presenciaram abordagens da MP e da GM questionam seletividade das operações
Desde a madrugada de sábado (9) circulam nas redes sociais e foram enviados à reportagem ao menos três vídeos de abordagens policiais a jovens nas ruas Quintino Bocaiúva e São Luís, área central de Londrina. Ativistas questionam a seletividade dos locais escolhidos para as operações e os alvos, comumente jovens negros e periféricos.
Um rapaz que presenciou a abordagem da Polícia Militar a um motociclista e preferiu não se identificar, diz que houve truculência. “Desde a hora que chegamos (em um bar na São Luís) começou a chegar um monte de polícia na Quintino. Do nada, uma movimentação meio estranha, o pessoal saiu correndo, já fecharam a rua. A hora que eu cheguei lá tinha uns 4, 5 policiais em cima do motoboy. Foi bem feio”, relata.
De acordo com o rapaz, um policial afirmou que o motociclista havia se exaltado e, por isso, houve a contenção. “Eu disse que aquilo era truculência”. Em nota, a polícia militar afirma que a motocicleta estava sem documentação e que o rapaz se recusou a atender às ordens de descer do veículo.
O rapaz que presenciou a abordagem ainda questiona a seletividade da ação das polícias. “Perguntei se eles iam na Gleba Palhano fazer o mesmo tipo de abordagem”.
Natália Lisboa, da Frente Antirracista, compartilhou vídeo nas redes sociais e questionou o direito da juventude ao lazer. “A violência policial contra nossa juventude é pesada demais. (…) O pobre tem direito sim de tomar sua cerveja e ter seu direito ao lazer sem atender os interesses dos donos de bares, sem atender aos interesses das elites que é deixar o pobre lá preso no seu bairro sem ir ao centro”, defendeu.
Em nota, o tenente Emerson Castro, porta-voz da PM, diz que a blitz realizada na Rua Quintino Bocaiúva faz parte da Operação Carnaval e atende “a pedido dos moradores da região que reclamam da perturbação do sossego promovida pela reunião de pessoas na via pública, que frequentam bares na área.”
“Segundo denúncias, há ocorrências de diversas denúncias de infração de trânsito com motos barulhentas, que também realizam direção perigosa.
As operações prosseguem.”
Ativista é autuada
A professora e ativista Ângela Silva presenciou e filmou abordagem da Guarda Municipal a um grupo de jovens na mesma região, na noite de sábado. Ela acabou autuada por desacato após seguir com a filmagem, que é direito de todo cidadão.
Nas redes ela apontou que os jovens enquadrados eram todos negros e periféricos. “Nosso dinheiro público sendo gasto para impedir jovens periféricos de ocupar o centro.”
No vídeo gravado por Ângela um GM argumenta que os jovens estavam bebendo na rua após as 22h, infringindo lei municipal. A reportagem não conseguiu contato com a assessoria da GM.
Ângela também enviou à Rede Lume um texto sobre o ocorrido no qual classifica a ação como racista.
“O racismo estrutural se materializa em ações abusivas como na noite desse sábado (10), onde pessoas são proibidas de acessar os espaços públicos. Em outro vídeo o GM mostra uma garrafa de bebida, e pede para a pesquisadora (Ângela) gravar. Fica a pergunta uma garrafa de bebida encontra no chão é o suficiente para constranger e abordar jovens? Por que essas ações acontecem em lugares específicos? Até quando Londrina seguirá impedindo os jovens trabalhadores de ocupar as ruas? Até quando essa lei racista e excludente vai continuar?”
Fonte: Rede Lume de Jornalistas