Presidente não foi ao local de trabalho desde que perdeu a eleição, no dia 30, mas está usando a caneta para nomear sua turma para cargos importantes
A 44 dias do fim do mandato e 23 dias depois de perder a eleição e parar de trabalhar, num gesto deselegante e incomum entre presidentes, Jair Bolsonaro (PL) resolveu usar a caneta para nomear amigos e aliados seus e da primeira-dama Michelle Bolsonaro. Isso no conforto do Palácio da Alvorada porque até agora ele não comparecereu ao seu local de trabalho.
Para o vice-consulado em Orlando, aberto em junho, por exemplo, Bolsonaro indicou a conselheira Marcela Braga, assessora de Michelle. Marcela já havia sido beneficiada pela aliança recentemente quando foi uma das diplomatas promovidas pela atual cúpula do Itamaraty. Ela passou à frente de colegas mais experientes.
Para a Comissão de Ética Pública da Presidência da República, com mandato de três anos, Bolsonaro indicou Célio Faria Júnior, ministro-chefe da Secretaria de Governo, e João Henrique Nascimento de Freitas, assessor especial da Presidência.
Ambos são da linha de frente de auxiliares do presidente. Célio Faria Júnior está com Bolsonaro desde 2019 e já foi chefe de gabinete. É visto como um colaborador da ala ideológica conservadora, avesso à imprensa, e chegou a ser apontado como um dos integrantes do “gabinete do ódio”.
Já João Henrique Nascimento de Freitas assessorou o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) durante sete anos na Assembleia Legislativa do Rio. Ele foi alvo de investigação na denúncia sobre um esquema de rachadinha no gabinete do então deputado estadual.
Na Comissão de Ética Pública, os dois serão parte de um grupo de sete pessoas e terão um papel consultivo ao presidente e aos ministros. Serão responsáveis, portanto, por consultas acerca de conflitos de interesses e apuração de eventuais violações do Código de Conduta da Alta Administração Federal, por exemplo.
A dupla ficará no cargo durante a maior parte do mandato do presidente eleito, Lula (PT), que assume em janeiro de 2023.
Bolsonaro também indicou diretores e ouvidores para agências reguladoras, além de diplomatas para embaixadas e consulados. Acelerou, por exemplo, a nomeação para o cargo de chefia das representações consulares em Londres, no Reino Unido, e em Orlando, nos Estados Unidos, segundo o Estadão.
O presidente derrotado também nomeou o sanfoneiro Gilson Machado para o cargo de diretor-presidente da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur) com um mandato de quatro anos. Machado esteve à frente do Ministério do Turismo desde dezembro de 2020.
Antes, Bolsonaro nomeou Elizabeth Regina Nunes Guedes, irmã do ministro da Economia Paulo Guedes, para compor a Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE), com um mandato também de quatro anos. Elizabeth é presidenta da Associação Nacional das Universidades Particulares (Anup), criada para defender os interesses das instituições privadas. Agora, será uma das responsáveis pela formulação e avaliação da política nacional de educação, além da criação de normas e diretrizes para o setor.
Também foram nomeadas Leila Soares de Souza Perussolo, cunhada do governador reeleito de Roraima Antônio Denarium (PP), aliado de Bolsonaro, e Ilona Becskehazy, bolsonarista aguerrida, como mostram suas publicações nas redes sociais, para a Câmara de Educação Básica.
Fonte: Redação CUT