Escolas-torcidas contam com investimento alto, enredos elogiados e retrospecto favorável para ganharem troféu no retorno da folia na capital paulista
Após dois anos, os desfiles das escolas de samba voltam a ser realizados em São Paulo. Em 2021, a tradicional festa popular não aconteceu devido à pandemia de Covid-19. Na capital paulista, a ligação do samba com o futebol se estreitou ainda mais pela presença das torcidas organizadas dos grandes clubes, que, em meio a olhares tortos de sambistas tradicionalistas e até de setores do poder público, se consolidaram como forças competitivas.
E o ponto de amadurecimento das organizadas tem neste ano o seu momento crucial, pois as três representantes das arquibancadas no Grupo Especial figuram entre favoritas ao título por especialistas e prometem desfiles históricos no Anhembi.
Campeã em 2019 e vice no ano seguinte, a palmeirense Mancha Verde larga na frente. Turbinada pelo dinheiro recebido da patrocinadora Crefisa por meio da Lei Rouanet, a agremiação terá o último momento de bonança após romper oficialmente com Leila Pereira, agora presidente do time alviverde.
Neste ano, a escola levará para a avenida o enredo ‘Planeta Água’, que fala sobre a importância da preservação e valorização do recurso natural. Serão ao todo 2,2 mil componentes na avenida, com carros e alegorias que prometem recriar os efeitos hídricos.
“O enredo tem duas grandes vertentes, uma delas é a religiosa, como a água se introduz em várias religiões, e também, por outro lado, um tema atual, que é a escassez, mostrar como o homem maltrata a água”, disse o diretor de carnaval da agremiação, Paolo Ricardo de Moraes Bianchi.
Frequentadora habitual do Desfile das Campeãs nos últimos anos, a são-paulina Dragões da Real apresentará um enredo sobre o cantor e compositor que simboliza São Paulo, Adorinan Barbosa.
O tema vai resgatar a vida e a obra do artista que ficou conhecido como o “pai do samba de São Paulo”, aquele que “falava o que todos não tinham coragem”. “Suas letras exaltaram o cotidiano de imigrantes, muito familiar a ele, e relataram temáticas de cunho social comuns em São Paulo, como o processo de urbanização acelerada, os problemas de habitação e a vida dos operários”, diz a sinopse no site oficial da escola.
Percursora da entrada das torcidas no mundo do samba, no já distante ano de 1979, a corintiana Gaviões da Fiel busca recuperar o protagonismo perdido nos últimos anos e, por isso, investiu pesado. A escola trouxe do Rio de Janeiro o carnavalesco Paulo Barros, um dos nomes mais badalados da folia carioca, e levará à avenida o enredo ‘Basta!’, político e contestador.
Segundo a Gaviões, a sociedade é desigual e injusta e seu samba aborda as diversas facetas dessa divisão. “Alguns insensíveis esbanjam suas fortunas, enquanto milhares trabalham até a exaustão ou morrem de fome. Toda essa riqueza é fruto do sangue e do suor de incansáveis trabalhadores, que, dia a dia, se entregam a impiedosas jornadas de exploração e desrespeito”, afirma a escola.
Nesta semana, matéria da Folha de S.Paulo trazia declaração do designer de cabelos Neandro Ferreira informando que interpretará uma versão homossexual do presidente da República Jair Bolsonaro na ala ‘Governantes e Generais’. A Gaviões da Fiel emitiu um comunicado negando que o desfile terá essa representação do governante.
CONFIRA UMA FICHA DAS TRÊS ESCOLAS DE ORGANIZADAS:
MANCHA VERDE
Títulos: 2019
Quando desfila: Sexta-feira (22), à 0h40 (de sábado, 23)
Samba-enredo: “Planeta Água”
Compositores: Marcio André Filho, Marcelo Lepiane, Lico Monteiro, Rafael Ribeiro, Richard Valença, João Perigo, Solano Mota, Leandro Thomaz, Telmo JB, Lanza Muniz Moraes e Rosali Carvalho
Intérprete: Fredy Vianna
Raio-X
Fundação: 18/10/1995
Presidente: Paulo Serdan
Mestre de Bateria: Guma Sena
Casal de mestre-sala e porta-bandeira: Marcelo Silva e Adriana Gomes
Direção de Carnaval: Paolo Bianchi
Direção de Harmonia: Marquinhos, Bruno e Danilo
Rainha de bateria: Viviane Araújo (não desfilará)
Coreógrafo da Comissão de Frente: Wender Lustosa e Marcos dos Santos
Colocação em 2020: vice-campeã
DRAGÕES DA REAL
Títulos: Nenhum
Quando desfilará: Sexta-feira (22), às 5h (de sábado, 23)
Samba-enredo: “Adoniran”
Autores: Thiago SP, Léo do Cavaco, Renne Campos, Marcelo Adnet, Darlan Alves, Rodrigo Atração, Alemão do Pandeiro, Alfredo Rubinato, Paulo Senna, André Carvalho e Tigrão.
Intérprete: Renê Sobral
Raio-X
Fundação: 17/03/2000
Presidente: Renato Remondini (Tomate)
Carnavalesco: Jorge Silveira
Mestre de Bateria: Jorge Tornado
Casal de mestre-sala e porta-bandeira: Rubens de Castro e Evelyn Silva
Direção de Carnaval: Marcio Santana
Direção de Harmonia: Rogerio Magalhães Felix
Rainha de bateria: Karine Brum
Coreógrafo da Comissão de Frente: Ricardo Negreiros
Colocação em 2020: 6º lugar – grupo Especial
GAVIÕES DA FIEL
Títulos: 4 (1995, 1999, 2002 e 2003)
Quando desfilará: sábado (23), às 23h30
Enredo: “Basta!”
Autores: Grandão, Sukata, Jairo Roizen, Morganti, Guinê, Xérem, Claudio Gladiador, Ribeirinho, Claudinho, Meiners, Luciano Costa, Felipe Yaw, Marcelo Adnet, Fadico, Júnior Fionda, Lequinho, Fábio Palácio (Mentirinha), Leonel Querino, Altemir Magrão, Marcelo Valente, Sandro Lima e Rodrigo Dias
Intérprete: Ernesto Teixeira
Raio-X
Carnavalescos: Paulo Barros e Zilkson Reis
Direção de Carnaval: Ciro Castilho, Derek Fonseca, Eduardo Fontes, Rodrigo Gonzalez Tapia, Alexandre Domênico Pereira, André da Silva, Carlos Eduardo Cordeiro, Celso Ribeiro, Edson Oliveira e Natalia Zanotti
Mestre de Bateria: Ciro Castilho
Rainha de Bateria: Sabrina Sato
Mestre-Sala e Porta-Bandeira: Wagner Lima e Gabriela Mondjian
Comissão de Frente: Sérgio Cardoso
Classificação em 2020: 11º lugar no Grupo Especial
Outras torcidas
Sonhando estar no topo com o trio de ferro do samba entre as facções organizadas, mais torcidas também lutam nos grupos de acesso do samba paulistano.
No Grupo de Acesso 1, que leva à elite, a Independente Tricolor é quem está mais perto no caminho. A agremiação, que já esteve no Especial em 2018, mas acabou rebaixada, desfilou na quinta-feira (21).
Já desfilaram no último dia 16 e aguardam as notas no Grupo de Acesso 2, a corintiana Camisa 12 e a santista Torcida Jovem. As notas saem no próximo dia 26.
No Grupo Especial de bairros, espécie de quarta divisão do Carnaval paulistano, está a palmeirense TUP.
Sem data definida para acontecer, os desfiles em Diadema (na Grande São Paulo) e Santos (litoral paulista) têm a corintiana Estopim da Fiel e a santista Sangue Jovem. Elas não devem sair na avenida este ano.
Fonte: Rafael Ribeiro | Lance