Expectativa é que novas formações ocorram ao longo do ano
Nesta semana, entre segunda e terça-feira (dias 29 e 30 de janeiro), ocorreu a reunião de planejamento 2024 do Coletivo de Sindicatos de Londrina. O encontro aconteceu no Sindicato dos Bancários de Londrina e Região e contou com a participação de lideranças de diferentes categorias.
O Coletivo de Sindicatos de Londrina surgiu em março de 2017 com o objetivo de unir forças contra as Reformas Trabalhista (Lei nº 13.467) e da Previdência (Emenda Constitucional nº 103), sendo responsável pela realização de dezenas de ações na cidade, por meio de mobilizações nacionais coordenadas pelas centrais sindicais.
Além das discussões sobre a conjuntura política do Coletivo e cronograma de ações para este ano, aconteceram dois momentos de formação política. No primeiro deles, o professor Ariovaldo Santos, do departamento de Ciências Sociais da UEL (Universidade Estadual de Londrina) debateu a importância da construção de consciência de classe e o papel dos sindicatos.
“Os sindicatos são uma necessidade histórica, enquanto você tiver relações de exploração, obrigatoriamente você precisa dos sindicatos. Em Londrina, você pode ter sindicatos que são mais fortes, outros mais fracos quanto à organização, mas eles não deixam de existir porque ano a ano você precisa negociar pautas salariais, de condições de trabalho”, analisa.
Conforme informado pelo Portal Verdade, em 2022, menos de 10% dos trabalhadores eram sindicalizados no país (saiba mais aqui). De acordo com o pesquisador, entre as razões para este declínio, estão novas formas de organização do trabalho, com destaque para o empreendedorismo, também o crescimento da precarização e desigualdades, o que leva a uma “desilusão” com o trabalho, principalmente, entre os mais jovens.
“Tem também tem uma conjuntura de desestruturação das relações de trabalho. As taxas de sindicalização no mundo caíram a partir do momento que as políticas neoliberais começaram a ser mais intensas e foram eliminando vantagens que antes os sindicatos conseguiam ofertar. Tem toda uma discussão chamada de ‘crise do sindicalismo’ que vem se arrastando na Europa desde os anos 60 e no Brasil desde os anos 90 pelo menos. Mudou o perfil, a composição interna da classe trabalhadora”, afirma.
Para Santos, é fundamental diferenciar a adesão da militância. “Você pode ter um sindicato que tem uma adesão muito grande da categoria por várias melhorias que ele oferece como clubes, colônias de férias, e você tem a militância. O militante é aquele que acompanha a vida do sindicato, está sempre na assembleia, o aderente é aquele que quer os benefícios do sindicato, mas não quer se envolver por mil questões”, observa.
A urgência de uma comunicação que paute lutas e direitos
Em um segundo o momento, Reinaldo César Zanardi, docente do curso de Jornalismo da UEL apresentou um panorama da mídia hegemônica no país e destacou a necessidade de mais veículos independentes para democratização da comunicação, a exemplo do Portal Verdade, iniciativa do Coletivo.
As atividades e demandas do veículo, criado em abril de 2022, com as principais finalidades de pautar lutas e direitos da classe trabalhadora e demais grupos subalternizados omo mulheres, populações negra e indígena, comunidade LGBTQIA+, também foram abordadas pelas jornalistas Elsa Caldeira e Franciele Rodrigues.
Laurito Porto de Lira, secretário de formação do Sindicato dos Bancários de Londrina e Região, explica que os temas foram delimitados a partir de reuniões promovidas pela coordenação do Coletivo com os dirigentes sindicais. Entre as reivindicações comuns, foi apontado a dificuldade de mobilização dos trabalhadores em prol da manutenção e ampliação de garantias que permitam a vida com dignidade e segurança.
A liderança avalia que a formação é um aspecto importantíssimo para o movimento sindical, seja para a organização interna das bases como para a atuação externa. “Os diretores precisam desses momentos formativos para entender melhor da realidade que estão enfrentando e quais são os elementos constituintes dessa realidade, para possibilitar a construção de estratégias e métodos capazes de transformar a realidade em benefício da classe trabalhadora”, diz.
Ele ressalta as contribuições da comunicação para conscientização dos trabalhadores sobre projetos de sociedade que estejam alinhados à defesa de suas reivindicações e direitos.
“E quando falo para fora, quero trazer o aspecto comunicacional capaz de produzir o entendimento e o despertar na base de trabalhadores representados ou não pelos sindicatos em defender as suas próprias pautas e não a pauta que é de interesse das classes sociais e econômicas que exploram os trabalhadores”, assinala.
Na avaliação dele, a reunião atendeu as expectativas. “Acredito que os presentes nesta ação de planejamento do Coletivo aproveitaram esse momento internalizando novos entendimentos para a sua atuação e plantou a semente para a realização de novos momentos de formação internos e para as bases”, finaliza.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.