Paraná representa 1,5% da produção nacional. Nesta quinta-feira (6), Governo Federal realiza leilão para importar arroz frente a enchentes no Rio Grande do Sul, maior produtor de arroz do país
Em um ano, entre maio de 2023 e maio de 2024, o preço do arroz no Paraná subiu 37,38%. O número foi calculado pelo Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral).
Atualmente, segundo o departamento, o estado é responsável por 1,5% da produção nacional.
Em todo o Brasil, entre abril de 2023 e abril de 2024, também houve alta no preço do arroz, neste caso, de 25,46%, como aponta a Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
O engenheiro agrônomo do Deral, Hugo Carlos Godinho, explica que a alta no preço do Paraná é reflexo da junção de muitos cenários, entre eles, as chuvas que atingiram o estado em novembro de 2023 e causaram cheias do Rio Ivaí, no noroeste – a região é a maior produtora do estado.
Por conta dessa alta, entende o engenheiro, o estado também deve ter queda na produção deste ano.
Godinho diz que, pela previsão do Deral, o estado deve colher 127 mil toneladas de arroz, número 17% menor em relação a produção viabilizada em 2023, quando o estado registrou 153 mil toneladas do cereal.
“Em novembro tivemos problemas similares, mas não na mesma dimensão que o Rio Grande do Sul está enfrentando agora. Aqui isso atrapalhou o plantio e inclusive afetou lavouras que já estavam prontas”, explica.
No Brasil, o maior produtor é o Rio Grande do Sul, afetado por inundações há um mês. Apesar do cenário, a safra deste ano deve ser de 7,1 milhões de toneladas no estado, número próximo ao registrado em 2023, de 7,2 milhões de toneladas, de acordo com o Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga).
Conforme o instituto, quando a enchente começou, a safra de arroz estava 84% colhida.
Leilão para importação de arroz
Nesta quinta-feira (6), às 9h, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), do Governo Federal, realizará o primeiro leilão para a compra de até 300 mil toneladas de arroz importado.
Será adquirido arroz do tipo Beneficiado, Polido, Longo fino e Tipo 1, o mesmo produzido pelo Brasil.
O governo alega que a decisão foi tomada diante do alto volume de chuvas no Rio Grande do Sul, o que, segundo o executivo, afetou a produção gaúcha.
Ainda de acordo com o governo, o objetivo da compra é evitar especulação financeira e estabilizar o preço do produto nos mercados de todo o país.
Conforme o edital que determinou as regras do leilão, após a compra, o preço do produto será tabelado e o pacote terá o rótulo do governo. O quilo será vendido por R$ 4 e o arroz deve chegar ao consumidor até setembro.
Os estoque serão destinados, preferencialmente, para pequenos varejistas de regiões metropolitanas. As cidades exatas que irão receber o arros não ainda não foram divulgadas.
Especialistas discordam da importação
A decisão de importar arroz não é vista com bons olhos por especialistas em agronegócio e entidades ligadas aos produtores de arroz.
Na opinião do sócio-diretor da Consultoria da Cogo Inteligência em Agronegócio, Carlos Cogo, essa é uma intervenção “desajustada e inoportuna”, que pode trazer problemas diversos, como reflexos na intenção de plantio do produtor no próximo ano.
“Com medidas muito mais eficazes e muitíssimo mais baratas era possível ter o mesmo resultado, de estabilizar ou ao menos alinhar os preços ao valor internacional. A sugestão do setor era zerar o imposto de importação para até 100 mil toneladas, o que seria suficiente para sinalizar o mercado. Se precisasse, poderia ampliar para 200 mil toneladas. O custo disso seria aquela parte dos 10% que o governo não vai arrecadar quando importar”, defende Carlos.
Para Andressa Silva, diretora executiva da Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), a importação é desnecessária do ponto de vista do abastecimento.
“Há potencial de desarranjar a cadeia produtiva, desincentivando o produtor para o plantio da próxima safra, uma vez que o valor proposto pelo governo para o quilo do arroz é inferior ao custo de produção no Brasil e irá competir com os preços da indústria”, avalia.
Tanto o consultor em agronegócio quanto a diretora executiva da Abiarroz defendem que existiam meios mais efetivos de controlar os preços no mercado.
Fonte: G1