Desigualdade persiste há pelo menos 40 anos
Levantamento realizado pelo Insper observou que trabalhadores negros, com mesmo nível de escolaridade e tipo de vínculo empregatício ganham, em média, 13% menos do que colegas brancos. Os dados são de 2021. Porém, de acordo com o mapeamento, a desigualdade persiste há pelo menos 40 anos. Em 1982, início da série histórica, a defasagem era de 13,6%, ou seja, manteve-se praticamente inalterada.
Ainda, com base na pesquisa, a diferença atingiu o índice mais baixo em 2011, quando registrou 12,3%. O estudo foi feito a partir de dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) coletados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Também de acordo com a investigação, em 2021, trabalhadores autodeclarados negros ganhavam 60,1% do rendimento de trabalhadores brancos. Há quatro décadas, a taxa era de 48,8%, ou seja, menos da metade do salário.
Para obtenção dos dados, o Instituto comparou a renda de trabalhadores negros e brancos observando diversas características que influenciam os salários. Também foram considerados atributos como experiência, região em que vivem, residência na área urbana ou rural e gênero.
Desemprego
O relatório também evidencia o impacto do recorte de gênero. Em 2021, a taxa de desemprego para mulheres negras era de 20,5% enquanto entre mulheres brancas atingiu 13,7%. Também entre os homens é possível notar a desigualdade. Entre homens brancos, a porcentagem de desocupação era de 9,4%. Já entre homens negros a taxa saltou para 12,8%.
Segundo o economista Rafael Araújo, a informalidade representa um interesse para segmentos de empregadores, pois nesta condição, os recursos gastos com a força de trabalho são mais baixos. “O trabalho informal tende a ser menos oneroso, o contratante não possui responsabilidades como a contribuição previdenciária ou auxilio transporte, por exemplo. Além disso, com o crescimento do desemprego, muitas pessoas têm sido submetidas a esta organização de trabalho, mesmo que extremamente precarizada, porque necessitam sobreviver”, avalia.
Para Araújo, a desigualdade de renda não pode ser dissociada de outras violências perpassadas pelo racismo. Ele ressalta a importância de ações afirmativas para qualificação e admissão. “Se olharmos para outros indicares sociais como níveis de escolaridade, moradia e saúde, a população negra encontra mais dificuldades de acesso e, consequentemente, encontram mais barreiras para ascender socialmente. A mobilidade social e superação da pobreza depende de políticas antirracistas em todas as áreas”, aponta.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.