Em Porto Alegre, seminário reuniu lideranças de todo o Rio Grande do Sul em preparação para a Campanha da Fraternidade
A Campanha da Fraternidade de 2023 debaterá o combate à fome no Brasil, com o lema: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Na quarta-feira (16), lideranças de todo o Rio Grande do Sul reuniram-se no Seminário Regional preparatório na Paróquia Nossa Senhora da Pompéia, em Porto Alegre.
Realizada anualmente pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a edição do próximo ano tem como objetivo sensibilizar a sociedade e a Igreja Católica para o enfrentamento do flagelo da fome, “sofrido por uma multidão de irmãos e irmãs, por meio de compromissos que transformem esta realidade a partir do Evangelho de Jesus Cristo”.
O seminário, já tradicional no estado para auxiliar na construção de propostas para a articulação da Campanha da Fraternidade, seguiu a metodologia de “ver, iluminar e agir”, com a participação de cerca de 100 lideranças das arquidioceses, pastorais e organismos da região.
“A fome não é fake, é fato!”
A constatação é do presidente do Conselho Estadual de Segurança Alimentar do RS (Consea-RS), Juliano Sá. Durante o seminário, ele apresentou a realidade da fome no Brasil junto com a vice-presidente do Consea-RS, Ana Mattos.
No primeiro passo proposto pelo seminário, o “ver”, os assessores apresentaram uma análise do contexto atual no Brasil e no estado, pautando também a produção de alimentos, o desafio nutricional e a construção de políticas públicas de segurança alimentar e nutricional.
Juliano ressaltou as causas e as consequências da fome, destacando que a fome não pode ser naturalizada. “É um problema social, econômico e político”, disse o presidente do conselho, que lembrou que a alimentação está prevista como direito básico na constituição e, por isso, é dever do Estado garanti-la.
Para alertar sobre a urgência do combate a fome, o assessor trouxe ao seminário dados atuais nacionais e regionais. Juliano apontou que, segundo o site www.olheparaafome.com.br, atualmente, 33,1 milhões de pessoas passam fome no país. Outro dado de grande relevância é a insegurança alimentar, que afeta mais de 58% da população brasileira e mais de 48% dos gaúchos, em algum dos níveis: leve, moderada ou grave.
A Palavra de Deus nos ilumina
A iluminação bíblica, o projeto de Deus e o escândalo da fome foram trabalhadas no Seminário Regional por Ildo Bohn Gass, membro do Centro de Estudos Bíblicos (CEBI), e por dom Sílvio Guterres Dutra, bispo referencial da Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Social Transformadora do Regional Sul 3 da CNBB.
O biblista Ildo Bohn Gass se voltou à fome na bíblia e apresentou cinco evidências da fome na prática de Jesus. “A oração do Pai Nosso é a síntese de todo o Evangelho e o centro do Pai Nosso é o pão de cada dia; Belém, lugar de nascimento de Jesus, significa Casa do Pão; na concepção de direitos humanos de Jesus, a garantia ao alimento é sempre o primeiro – ‘Tive fome e me destes de comer’; a Santa Ceia: a síntese do Reino é uma ceia de partilha de pão e vinho; e a partilha dos pães e peixes: ‘Dai-lhes vós mesmos de comer’.”
O bispo dom Sílvio apresentou a iluminação eclesial a partir de quatro momentos onde a igreja anunciou a união entre o compromisso social e a fé. Em primeiro, ele lembrou São João Crisóstomo, que no início do século quinto questionou: “De que serviria adornar a mesa de Cristo com vasos de ouro se ele morreu de fome na pessoa dos pobres? Primeiro dá de comer a quem tem fome e depois ornamenta sua mesa com o que sobra”.
Dom Sílvio apresentou ainda as referências da Constituição Gaudium Et Spes (1964), a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium (2013) e a Encíclica Fratelli Tutti (2020).
Iniciativas protagonistas e compromissos
A tarde do seminário seguiu com a partilha de iniciativas de combate à fome: a Padaria Amada Massa, a Cozinha Comunitária da Azenha do MTST e a Cáritas Regional do RS. Na sequência, Elton Bozetto, da Cáritas Arquidiocesana de Porto Alegre, falou especialmente sobre a necessidade de construção e consolidação de políticas públicas em favor das populações em vulnerabilidade e afetadas pela fome.
Para o assessor, é hora de uma articulação maior com outras entidades da sociedade, a fim de “provocar uma ação propositiva, colaborativa e competente de controle social, desde os municípios até a União federal”. Segundo Bozetto, “é urgente romper com a fragmentação de nossas ações pensando a segurança alimentar de modo amplo e orgânico como política pública”.
A última reflexão deste seminário ficou por conta do Pe. Anésio Ferla, que apresentou as pistas de ação apontadas pelo Texto Base da CF 2023, como formas de mobilização social em favor da campanha, divulgação, comunicação, articulação de encontros e espaços de reflexão e construção de propostas.
Mobilização e celebração
O Pe. Edson Thomassin, da coordenação das Pastorais Sociais no Regional e articulador do Grupo de Trabalho para a CF 2023, acredita que o encontro foi muito importante não só para a articulação da campanha para também para a celebração.
“Foi uma grande retomada, uma grande celebração da vida, um grande compromisso de sensibilidade com a realidade da fome e, acima de tudo, a responsabilidade nossa de transformar essas realidades a partir da nossa perspectiva evangélica e do nosso compromisso concreto de pastoral”, ressalta Pe. Edinho.
O próximo passo na articulação da Campanha da Fraternidade no Rio Grande do Sul será a Capacitação para Multiplicadores, a ser realizada nos dias 12 a 14 de dezembro, das 19h às 21h, em modalidade online.
* Com informações da assessoria de imprensa da CNBB Sul 3
Fonte: Redação Brasil de Fato