Além de dificuldades para escoamento da safra, em dias de chuva, população fica sem acesso a transporte escolar e serviços de saúde
A comunidade do Distrito de Lerrovile, localizado na zona rural de Londrina, tenta viabilizar a construção de um viaduto que facilite o acesso ao local que, hoje, abriga aproximadamente sete mil pessoas. A reinvindicação dos moradores é que a obra seja contemplada no rol de melhorias da duplicação da PR-445. A reforma, com custo previsto de R$ 150 milhões, foi iniciada em agosto de 2022 pelo governo do estado e a expectativa é que termine em dezembro deste ano. Entre as adequações está a construção de pontes sobre os rios Santa Cruz e Apucaraninha.
Edelvan Carvalho, membro do Assentamento Eli Vive, vinculado ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), pertencente ao território de Lerrovile, conta que o viaduto estava previsto, mas no plano da reformulação do trecho foi substituído por outro, na entrada de Tamarana, cerca de um quilômetro a frente. Com isto, a obra em Lerrovile ficaria inviabilizada. Porém, de acordo com ele, a construção é importante para garantir o escoamento da produção de alimentos, principal fonte de renda dos moradores, e para o transporte seguro da população que fica sem mobilidade, principalmente, em dias de chuva.
“O assentamento Eli Vive tem demanda de 109 quilômetros para ser construído de estrada. O Ministério Público em acordo com a Prefeitura [de Londrina], conseguiu fazer 14 quilômetros, então, temos mais 95 quilômetros para ainda serem criados. Dia de chuva não corre transporte escolar, o escoamento da produção não acontece, a comunidade fica sem acesso a serviços de saúde. A situação é muito crítica, porque desde que foi construído o Assentamento, as estradas internas não foram criadas. É uma briga junto aos governos do estado, federal, Prefeitura de Londrina, um joga para o outro a responsabilidade”, afirma.
Para Carvalho, falta, sobretudo, “vontade política” dos poderes públicos para garantir a construção do viaduto na região. A liderança aponta que as administrações da Prefeitura de Londrina e do Palácio do Iguaçu informam que a obra é de responsabilidade do governo federal e este, por sua vez, alega que é tarefa do estado e município executá-la.
“Em 2015, foi garantido um recurso de R$ 3 milhões para construção das estradas internas do Assentamento. Este valor ficou numa briga técnica entre a Prefeitura e Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] e acabou retornando para a União. Quem foi prejudicado foram as famílias. Depois, com o governo de [Jair] Bolsonaro, não foi disponibilizado nenhum novo investimento e estamos nesta situação até hoje”, observa.
Segundo ele, mesmo as estradas que perpassam o Assentamento não possuem manutenção adequada. “Atualmente, todas as estradas estão em situação crítica, não tem manutenção preventiva. Se já é responsabilidade da Prefeitura [de Londrina] e eles não cuidam, imagina construir nova, então”, adverte.
Carvalho indica que, atualmente, há recurso aprovado para subsidiar a criação do calçamento que liga Lerroville até o Eli Vive, mas a empresa ganhadora da licitação não executou a obra, sendo multada pelo poder Executivo local e gerando, assim, novos chamamentos para empreiteiras interessadas no projeto. “O dinheiro está disponível, mas falta empresa para fazer, é o que o secretário fala. Em 2024, vence o recurso, e novamente não vai ser executado”, alerta.
Em dezembro de 2022, moradores realizaram um protesto na PR-445 com o intuito de chamar a atenção para a necessidade da obra. Lideranças do grupo denominado “Amigos de Lerrovile” estiveram reunidas com o Prefeito de Londrina, Marcelo Belinati (PP) a fim de pleitear a reforma. A intenção é que ele coopere na mediação junto à gestão de Ratinho Júnior (PSD).
“Nós reunimos com toda a comunidade, comerciantes, agricultores para organizar o protesto e começar a articulação, foi entregue um ofício ao Prefeito para que ele reivindicasse junto ao governo do estado. A partir disso, vereadores, deputados se mobilizaram para a construção do viaduto. Esperamos que seja contemplado para beneficiar a população”, avalia Carvalho.
Na última quarta-feira (18), em audiência realizada em Curitiba, Marcelo Belinati e Ratinho Júnior estiveram reunidos para discutir a possibilidade da criação do viaduto ou de uma trincheira no acesso ao Distrito. A demanda está sendo verificada pela equipe técnica do Departamento de Estradas e Rodagem (DER) e Secretaria Estadual de Infraestrutura e Logística.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.