Diferença é maior na disciplina de Matemática e meninas negras são as mais afetadas
Dados do Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), analisados pelo Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa) mostram que a aprendizagem em Português e Matemática dos estudantes matriculados no ensino fundamental (do 1º ao 9º ano) em escolas públicas melhorou no Brasil na última década. O estudo completo nomeado “Desigualdade racial na educação básica” pode ser consultado aqui.
Porém, esta não é a realidade de todos os alunos. Meninas e meninos negros registraram piora nas notas. O estudo considera o período entre 2007 e 2019. Na área de exatas, meninos brancos tinham, em 2007, uma vantagem de 9,1 pontos em comparação às meninas negras. Em 2019, a diferença subiu para 13 pontos, sendo que chegou a atingir 23 pontos no 9º ano, por exemplo.
Nesta série que, representa o fim do ensino fundamental, a média dos meninos negros ficava 28 pontos abaixo do rendimento registrado pelas meninas brancas. Mais de uma década depois, em 2019, a discrepância aumentou para 32,4 pontos.
Porém, são as meninas negras que apresentam desvantagens ainda maiores. Em 2007, a média delas em Matemática era 25,9 pontos inferior à dos meninos brancos. Em 2019, a desigualdade saltou para 30,2 pontos.
A antropóloga Rosane da Costa aponta que as desigualdades de gênero afetam a trajetória de meninas e mulheres na educação desde a infância. “Desde pequenas, as meninas são ensinadas a serem principais responsáveis pelos afazeres domésticos e cuidado com irmãos mais novos, pais. Na vida adulta, a lógica machista persiste em relação a casamento e filhos. As duplas, triplas jornadas dificultam que elas avancem na escolarização. É preciso conscientizar que esta visão está assentada em uma cultura patriarcal que deixa às mulheres a função do trabalho que, embora invisível é fundamental para a reprodução da sociedade”, analisa.
A diferença entre os índices de aprendizagem obtidos por estudantes brancos e negros foi observada em quase todos os estados. Apenas em Alagoas e no Acre, as notas em Matemática foram similares.
Paraná
No Paraná, a desigualdade das notas alcançadas por alunos brancos e negros do 5º ano, na disciplina de Português, saltou 23 pontos entre 2007 e 2019. Na mesma série, no componente curricular de Matemática, a diferença cresceu 19 pontos neste período.
Apoio para ingresso no ensino superior
No final de junho, o Ministério da Educação (MEC) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) anunciaram a recriação do Programa de Desenvolvimento Acadêmico Abdias Nascimento.
Criado em 2013, durante a gestão da presidenta Dilma Rousseff (PT), o programa busca estimular o ingresso e a permanência de estudantes negros, indígenas e quilombolas, além daqueles com transtornos globais de desenvolvimento ou altas habilidades em cursos de graduação e de pós-graduação de universidades e institutos de educação profissional e tecnológica no Brasil e no exterior.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.