Feder chamou alunos de “malandros” e disse que mais pobres precisavam “se virar” na pandemia. Agora, deve levar seu experimento de educação sem professores para São Paulo
A ida de Renato Feder para o governo de São Paulo, a convite do governador eleito Tarcísio Freitas (Republicanos), encerra um experimento na educação paranaense que vai deixar pouca saudade para os profissionais da área. Nos quatro anos do primeiro mandato de Ratinho (PSD), Feder tentou fazer da educação pública um laboratório em que os educadores cederiam seu poder a militares, burocratas e pessoal terceirizado. O resultado aparentemente agradou o bolsonarismo, mas não parece ter feito bem ao processo de ensino.
Renato Feder não é nem nunca foi da área de educação – mas isso não é um problema no Brasil, que só exige gente “da área” na economia. Tente colocar um professor de português no Ministério da Fazenda e jamais haverá aceitação, embora o contrário seja visto com naturalidade. Tanta naturalidade que Renato Feder chegou a ser anunciado como ministro da Educação depois da queda de Arthur Weintraub – algo que, por pouco, não se concretizou.
Sem formação na área
Formado em Administração e Economia, Feder é empresário. Tem um negócio chamado Multilaser e, antes de sua convocação par a o governo do Paraná, tinha publicado um panfleto liberal sobre gestão. Entre outras coisas, pregava o fim do Ministério da Educação e a privatização de todas as escolas e universidades do país. Ratinho Jr. apostou no projeto liberalizante e aprofundou a ruptura entre governo e educadores iniciada por seu sucessor, Beto Richa (PSDB).
O que mais se viu nos quatro anos de Feder à frente da Secretaria da Educação foi a perda de poder dos educadores. Um dos projetos mais importantes do governo, por exemplo, foi a adesão aos colégios cívico-militares de Jair Bolsonaro (PL) – às pressas, com consultas feitas na marra (pessoas foram buscadas em casa para garantir quórum), Feder e Ratinho aprovaram a troca de educadores por sargentos sem formação.
Claro que não podia dar certo, e não deu. Ao longo do governo surgiram denúncias de maus-tratos, abusos contra os alunos e até assédio sexual cometidos pelos militares, que jamais receberam treinamento para a função. Estavam lá pela simples ideia de que filhos de pobres, que Feder chegou a chamar de “malandros e malfeitores” precisam de hierarquia – o colégio em que os filhos de Ratinho e Feder estudam, um dos mais caros de Curitiba jamais trocaria professores por PMs.
Terceirização
Terceirização é a palavra de ordem para Feder. O secretário, que não tem formação de professor e muito menos trabalhou em escolas públicas, aparentemente desconfia de gente ligada à educação pública. Além dos sargentos, colocou terceirizados no lugar de inspetoras, merendeiras e todas as funções que pôde.
Não satisfeito, fez uma parceria milionária com uma universidade privada que passou a dar remotamente aulas do novo currículo do Ensino Médio. A ideia foi um fracasso e o contrato foi cancelado dias antes de Tarcísio Freitas chamar seu novo secretário. Feder também previu terceirizar a merenda nas escolas.
No fundo, a política do governo Ratinho para a educação sempre passou por evitar o aumento da folha de pagamento (passando o dinheiro para terceirizados dribla-se a Lei de Responsabilidade Fiscal) e por tentar retirar poder dos professores – que desde a gestão Richa se transformaram na principal força política de oposição no Paraná por meio de seu sindicato.
No caso da terceirização da gestão para empresas, Feder diz que a ideia é liberar os professores para ter mais tempo para se dedicar à educação, chamando profissionais para cuidar da burocracia. No entanto, ideias como o “sorteio” de alunos para as escolas que seriam terceirizadas mostra que boa parte do projeto está centrada na remuneração das empresas que ganharão os contratos milionários – dinheiro que jamais seria investido, na atual gestão, em professores concursados.
Meritocracia
Formado em Administração, Feder investiu no conceito (um tanto deprimente, principalmente em Educação) de “meritocracia”. Copiou um projeto para bancar viagens internacionais para os melhores alunos do estado já implantado em outros locais. E prometia fazer o mesmo pelos professores com melhor desempenho, algo que não aconteceu na primeira gestão de Ratinho, segundo o governo, em função da pandemia. O programa teve problemas de gestão e alguns alunos tiveram dificuldades na volta do Canadá.
Responsável por uma Secretaria que tem de atender alunos que muitas vezes não têm condições financeiras, fez declarações que demonstram falta de empatia com a comunidade. No auge da pandemia, disse que era obrigatório para os estudantes abrir a câmera nas aulas on-line. “Ah, mas o aluno não tem webcam? Se vira“, afirmou.
Fonte: Redação Plural