Índice é maior entre jovens e trabalhadores mais escolarizados
Em 2023, o Brasil bateu recorde de demissões voluntárias. Foram contabilizados 7,3 milhões pedidos de desligamento apenas no último ano. O índice corresponde a 34% das demissões registradas no período (21,5 milhões). Os dados são do MTE (Ministério do Trabalho e Emprego).
Pelo terceiro ano consecutivo, o contingente de trabalhadores solicitando dispensa cresceu. Em 2021, foram 5,2 milhões de pedidos. Já em 2022, o número saltou para 6,7 milhões. Isto equivale a um aumento de 7,9% em comparação a 2023.
Os estados de Santa Catarina (45,2% de todas as demissões feitas a pedido dos funcionários) e Mato Grosso do Sul lideram (43,8%). Bahia e Pernambuco dividem a última posição do ranking, com 20,7% de demissões voluntárias registradas em 2023.
A economista Juliana de Andrade Fonseca, aponta que o recuo na taxa de desemprego é um dos fatores que pode explicar o fenômeno. De acordo com ela, a maior rotatividade do mercado de trabalho, principalmente, em caso de maior nível de especialização tem contribuído para este cenário.
“No último ano, notamos um aquecimento da economia, com maior taxa de empregabilidade e queda no índice da inflação, este contexto mais favorável possibilita que as pessoas migrem de uma vaga para outra, mudem de área, com mais segurança. Tanto que, se observamos os dados, nos estados em que o número de desempregados está mais baixo, os pedidos de demissões voluntárias são maiores”, pontua.
Porém, a especialista também alerta para os reflexos de medidas que flexibilizaram as relações de trabalho. “Mas também temos que considerar impactos como a Reforma Trabalhista. Estas medidas contribuíram para o aumento da terceirização, contratações sem carteira assinada, crescimento da informalidade. Logo, esta mudança de posto também pode ser motivada pela oferta de vagas cada vez mais precarizadas”, adverte.
A média nacional de desemprego foi de 7,8% em 2023 — a menor em quase dez anos, segundo informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) publicada no fim de janeiro.
Número cresce entre pós-graduados e jovens
Ainda, segundo o levantamento, os pedidos de demissões voluntárias são mais frequentes entre trabalhadores com mais anos de escolarização. Entre colaboradores com pós-graduação completa, das 163,4 mil dispensas identificadas no período, 76,6 mil partiram do próprio funcionário – quase metade (46,9%).
Áreas com menor grau de instrução, no entanto, concentram as parcelas mais baixas de demissões voluntárias. Trabalhadores com até o 5º ano incompleto representam a menor parcela (24,2%).
Jovens, entre 18 a 24 anos, constituem a faixa etária mais recorrente entre as solicitações (39,5%). O movimento é seguido também pelas pessoas de até 17 anos e aqueles entre 25 a 29 anos, com 36,5%, respectivamente.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.