O ato, organizado pelo movimento “ Justiça por Almas” – Mães de Luto em Luta, teve início às 9 horas no estacionamento do Zerão com uma concentração, e seguiu em passeata até o Cemitério São Pedro, na Avenida Jk, onde permaneceram até as 11 horas de forma silenciosa em frente à porta principal. Na oportunidade foram entregues panfletos sobre os motivos do ato, enquanto outros manifestantes seguravam faixas e balões pretos em sinal de protesto.
“ Eu acho muito importante essas manifestações porque são formas de incentivar as famílias a perder o medo da policia”, disse a cabeleireira Ana Paula da Silva, que teve seu filho de 16 anos assassinado em 2016. Ela conta que morava em Londrina quando ocorreu a chacina na zona norte e a polícia entrou na casa de seus pais à procura do rapaz que não estava naquele momento. “ Eles avisaram que iriam matá-lo. Desesperada vendi tudo o que eu tinha e fomos morar em Guaratuba. No mesmo ano, eles executaram meu menino”, relatou Ana Paula. “ Nunca tive acesso ao inquérito, já fui na delegacia, no Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) , mas ninguém fala nada pra gente”.
A triste história de Ana Paula é mais uma, entre tantas outras contadas por mães que sofrem com a morte precoce de seus filhos. Dados do Gaeco do Paraná mostram que entre 2017 e 2021, Londrina, Cambé e Ibiporã registraram a maior taxa de letalidade policial no estado, envolvendo as forças de segurança das polícias militar, civil e guardas municipais, responsáveis por 230 mortes nos últimos cinco anos. O número corresponde a 13,4% dos 1.707 casos contabilizados em todo o estado nesse período.
Supostos confrontos com os suspeitos costumam ser os principais argumentos dos agentes de segurança, que afirmam na maioria das vezes agir em legítima defesa, no entanto as famílias contestam tais justificativas e defendem que seus filhos foram executados, sem chance de defesa.
Aos 66 anos, o pedreiro José Valentim se emociona ao contar a história do seu filho Angelo Gabriel, morto em 2020, aos 25 anos. “Durante um tempo ele tomou o caminho errado, mas ele estava decidido a mudar.Trabalhava comigo e um dia foi dormir na casa da namorada e no caminho quatro policiais fuzilaram ele com 12 tiros. O caso foi arquivado e o meu sentimento é que não existe justiça.Dói até hoje”, declarou.
Para o Representante do Movimento Nacional de Direitos Humanos, Carlos Henrique Santana, existem vários depoimentos e sinais de ações violentas da polícia do estado que invadem as casas das famílias e executam seus filhos. “ Para comprovar que não houve confronto, é necessário ter as imagens da ação, por isso a sociedade tem de pressionar o Governo do Estado e a Assembleia Legislativa do Paraná ( ALEP) para que seja aprovado o uso de câmeras no uniforme policial”, enfatizou.
Legislação – Em março deste ano o deputado Tadeu Veneri apresentou o projeto de lei 448/2019, que obriga os policiais militares do Paraná e grupos especiais de segurança pública do Estado a usarem câmeras de vídeo e áudio nos uniformes. Os equipamentos também seriam instalados nas viaturas.
Um substitutivo foi apresentado pelo relator da matéria na Comissão, deputado Delegado Jacovós (PL), ex-titular da 17ª Subdivisão Policial (SDP), de Apucarana. A proposta autoriza o governo estadual a instalar os diapositivos em viaturas utilizadas pela Polícia Militar e Corpo de Bombeiros e nos uniformes de Grupos de Operações Especiais que sirvam às áreas de Segurança Pública. No entanto, o projeto não avançou e permanece parado na ALEP.
Texto : Elsa Caldeira – Portal Verdade
( Com informações Folha de Londrina – Simone Saris)