No ano passado, 85% das negociações salariais resultaram em reajustes acima da inflação em favor dos trabalhadores brasileiros, segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). O resultado é o melhor desde 2018, quando a entidade passou a analisar todos os instrumentos coletivos registrados no Mediador, do Ministério do Trabalho e Emprego.
Em boa parte do ano, reajustes acima da variação do INPC foram garantidos em mais de 80% dos instrumentos coletivos nas datas-bases. Porém, no último trimestre do ano, caiu o percentual de negociações com aumentos reais, assim como o valor médio dos ganhos. Os resultados podem ser reflexos do relativo aumento da inflação no período.
Em relação aos pisos, houve recuperação das perdas ocorridas depois de 2018, na comparação dos valores atualizados desses salários pelo INPC. Os dados de 2024, assim como os de 2023, são preliminares e podem sofrer alterações, pois ainda há instrumentos coletivos desses anos para serem registrados no Mediador. Apesar disso, não são esperadas mudanças significativas no quadro analisado.
Reajustes acima da variação do INPC foram observados em 85% dos acordos e convenções coletivas analisados pelo Dieese em 2024. Desse total, 11,4% dos reajustes de 2024 foram iguais à inflação, enquanto apenas 3,6% ficaram abaixo do INPC.
Em relação à variação real média dos reajustes, 2024 também se destaca na comparação com os anos anteriores. Considerando todos os reajustes de 2024 registrados no Mediador até 1º de janeiro de 2025, houve ganho real médio de 1,37% acima da variação do INPC
O escalonamento dos reajustes foi observado em 14,3% dos casos em 2024, o segundo menor percentual no período, acima somente do registrado em 2018. E apenas 1,3% dos reajustes de 2024 foi pago em duas ou mais parcelas.
Esse expediente foi muito frequente em 2021 e 2022, período em que a inflação foi substantivamente maior. A elevação da inflação tende a gerar aumento do número de casos de reajustes parcelados.
Negociações salariais: reajustes salariais acima da inflação foram a tônica de 2024
Contudo, o reajuste necessário para recomposição das perdas inflacionárias foi significativamente maior em 2022 e 2023, atingindo o pico em maio de 2022 (12,47%).
Em 2024, o reajuste necessário foi, em média, equivalente a 3,9%. No entanto, apresentou tendência de alta nos últimos meses, atingindo o topo em dezembro, quando foi igual a 4,84%. Para janeiro de 2025, o valor do reajuste necessário é de 4,77%.
Ao longo do ano, reajustes salariais acima da inflação foram a tônica. Nas datas-bases dos primeiros nove meses de 2024, foram registrados ganhos reais em mais de 80% das negociações, com exceção discreta em abril e agosto. A melhor marca foi alcançada em maio (88,8%).
No último trimestre, entretanto, há relativa mudança no quadro, com redução do percentual de resultados com ganhos reais para algo próximo a 75%. Há ainda aumento do percentual de negociações com reajustes abaixo do INPC, que chegaram a 12% em dezembro, acompanhando o aumento da inflação no período.
Em relação à variação real média dos reajustes de 2024, janeiro registrou o melhor resultado do ano (1,62% acima da variação do INPC), seguido de maio, com 1,55%.
É importante destacar que as duas datas-bases foram responsáveis por 51% de todos os reajustes analisados no ano.
Sobre o comportamento geral, nota-se tendência clara de redução do indicador a partir de junho, apesar da recuperação observada em setembro
Poucas diferenças entre os setores
Quanto à distribuição dos reajustes em relação à variação do INPC, segundo setores econômicos, foram poucas as diferenças.
Ganhos acima da inflação foram observados em cerca de 85% das negociações de cada setor, com exceção do comércio, onde esteve presente em 81,5% dos casos.
Por outro lado, percentuais de negociações com perdas reais variaram entre 2,8%, no comércio, a 5,1%, no setor rural.
Diferenças maiores são observadas quando se comparam as variações reais médias dos setores analisados.
O comércio apresenta o menor percentual entre os segmentos analisados (0,96%), e os serviços, o maior (1,5%). Na indústria, o valor é igual 1,32%. No setor rural, 1,4%.
Regiões geográficas
Em relação às regiões geográficas, com exceção do Nordeste, que registrou ganhos reais em 79,4% dos casos, as demais apresentaram aumentos acima da inflação em cerca de 85% dos reajustes.
Destacam-se o Sudeste, com ganhos reais em 87,6% dos casos, e o Sul, com reajustes abaixo da inflação em somente 2,3% das negociações analisadas.
Quanto à variação real média dos reajustes, o Sudeste novamente se destaca com o maior valor entre as regiões (1,51%). O menor valor é observado no Sul (1,18%).
O Norte e Nordeste apresentaram valores iguais (1,32%). No Centro-Oeste, a variação real média foi de 1,36%.
Pisos salariais
Os valores médios e medianos dos pisos salariais foram os maiores desde 2018, atualizados pelo INPC para dezembro de 2024.
Houve dois movimentos na evolução dos valores reais: um primeiro, de perda, entre 2018 e 2021 (apesar da melhora no valor mediano em 2020); e um segundo, de recuperação, a partir de 2022, de tal forma que os valores reais de 2024, embora maiores, são praticamente iguais aos de 2018, descontada a inflação.
Se considerados os valores nominais dos instrumentos coletivos, o valor médio dos pisos em 2024 é de R$ 1.742,82; e o mediano, de R$ 1.624,28.
Em relação aos setores econômicos, considerando exclusivamente os pisos salariais negociados em 2024, o maior valor médio pertente aos serviços, e o menor, ao comércio.
Como a média é mais sensível a valores extremos (valores muito altos ou baixos podem distorcer o significado do resultado médio), optou-se por considerar também a mediana (valor abaixo do qual estão 50% dos pisos).
Considerando os valores medianos, o maior é encontrado na indústria; e os menores, no comércio e nos serviços, onde havia se verificado a maior média (influência dos pisos mais elevados dos profissionais liberais)
Quanto às regiões geográficas, os maiores pisos médios e medianos são encontrados no Sul (R$ 1.806,55 e R$ 1.762,00, respectivamente).
Os menores pisos médios e medianos são do Nordeste (R$ 1.619,22 e R$ 1.469,88).
Fonte: ICL Notícias