Relembre a história de Justiniano Clímaco da Silva, um pioneiro preto de Londrina e sua contribuição histórica
“Existe uma história do negro sem o Brasil, o que não existe é uma história do Brasil sem o negro”. Esta frase é do fotógrafo e ativista Januário Garcia, falecido em 2021 e que deixou um legado de resistência, reconhecimento e valorização da história do povo preto brasileiro. Neste 20 de novembro, nada mais pertinente do que trazer à memória essa frase tão significativa de Januário.
Uma frase sobre um contexto nacional, mas que também revela a história local: existe uma história de Londrina sem o negro? Se o seu único parâmetro para pensar a história local for baseado nos registros oficiais, a resposta poderia ser sim. Basta lembrarmos da exposição permanente do Museu Histórico de Londrina que, como o próprio nome diz, conta a história da cidade. Por lá, ainda hoje, não se evidencia a contribuição do povo preto para Londrina. Faz-se a crítica, o que já é um primeiro passo no caminho de mudança da forma como se conta a história, mas a ausência denuncia o racismo.
Para fortalecer a ideia da importância da contribuição do povo preto para o crescimento de Londrina e a construção de um território, de fato, independente, colocamos em evidencia hoje a foto de Justiniano Clímaco da Silva, o primeiro médico preto da cidade. Na imagem, ele se apresenta fazendo um discurso, logo abaixo de uma bandeira do Brasil que tremula imponente. Ao fundo, moças de roupas claras parecem prestar atenção na fala, no cenário de uma Londrina de décadas atrás.
A foto, encontrada em um álbum de família, revela um Dr. Clímaco — ou Dr. Preto, como também era chamado — de intensa participação na vida pública de Londrina. Nascido na Bahia, Dr. Clímaco chegou à cidade em 1938, cinco anos depois de se formar em medicina pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Filho de pai carpinteiro e mãe trabalhadora doméstica, neto de escravos, Dr. Clímaco era de uma família pobre e que não tinha condições de bancar os estudos dele. Por isso, primeiro, ele se formou em Ciências e Letras, e foi dando aula de matemática que ele conseguiu se tornar médico.
Em Londrina, o Dr. Preto clinicou por mais de 50 anos, tendo atendido mais de 30 mil pacientes, em especial pessoas pobres. Especializou-se no combate de doenças infectocontagiosas e não media esforços para prestar seus serviços, indo até a área rural com o próprio veículo, um Ford modelo 1928, para atender pacientes. Ao lado de outros médicos, fundou hospitais na cidade e, em 1941, ajudou na fundação da Associação Médica de Londrina.
Mas, nem só à medicina dedicava-se Clímaco. Em 1947, ele foi eleito deputado estadual, como o quinto mais votado do Paraná e o primeiro eleito por Londrina e região. Ele ainda foi dono e diretor de um dos primeiros jornais da cidade, o “Paraná-Jornal”.
Durante quase 60 anos, Dr. Clímaco morou na mesma casa, localizada na Rua Hugo Cabral, n° 636, no Centro de Londrina. A construção foi demolida em 2010.
Em 27 de agosto de 2000, aos 92 anos, Dr. Clímaco faleceu, deixando um legado de pioneirismo que não pode ser apagado. A memória que se mantém viva, de um homem preto, à frente do seu tempo, um ícone presente na história do nosso município, uma inspiração para a luta diária contra a violência do racismo.
Matéria: Fiama Heloísa/Portal Tem Londrina