O número de jovens de 15 a 17 anos que frequentaram ou concluíram o ensino médio entre 2012 e 2022 cresceu. Em 2012, a taxa era de 63%, já no ano passado, atingiu 76%
Reunindo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD – Contínua), a organização Todos pela Educação publicou levantamento que evidencia o quanto o racismo afeta a trajetória escolar de crianças e adolescentes no país.
As desigualdades podem ser observadas desde a dificuldade de acesso até a conclusão fora da idade esperada. A pesquisa observou dois indicadores: 1) o percentual de matrículas de jovens de 15 a 17 anos no ensino médio e 2) a porcentagem de jovens brasileiros de 19 anos que já concluíram o ensino médio. O período analisado compreende a década de 2012 a 2022.
De acordo com o estudo, os índices de ingresso e término de estudantes negros (considerando pretos e pardos) no ensino médio ainda correspondem a uma década de atraso em comparação aos alunos brancos. No último ano, os indicadores para jovens negros ficaram semelhantes aos que estudantes brancos possuíam em 2012.
Ingresso
Isto é, em 2012, 73% dos jovens brasileiros brancos entre 15 e 17 anos estavam matriculados no ensino médio. Em 2022, o contingente saltou para 82%. Em 2012, o índice de jovens pardos na mesma faixa etária frequentando as escolas era de 57%. Em 2022, a taxa de inclusão desta parcela de alunos no sistema educacional brasileiro cresceu para 73%. Já a matrícula de jovens pretos aumentou de 52% para 72% no mesmo período.
“Os números revelam o resultado de um ciclo de exclusão de jovens pretos e pardos que, no contexto educacional, também é determinado por décadas de ausência de políticas intencionalmente voltadas à equidade das relações étnico-raciais. Ao deixar para trás um enorme contingente de estudantes, as políticas educacionais não atingem sua finalidade de promover educação de qualidade para todos”, afirma Gabriel Corrêa, diretor de Políticas Públicas do Todos Pela Educação.
Conclusão
Ainda, segundo a investigação, somente seis em cada dez jovens pretos de 19 anos concluíram o ensino médio no país no último ano. Neste grupo, a taxa de conclusão dobrou nos últimos dez anos, porém, o índice atual é menor do que o de jovens brancos em 2012.
A pedagoga Simone Fonseca chama atenção para as múltiplas desigualdades que não ficam alheias ao cotidiano escolar e que por vezes são reproduzidas pelos espaços educativos. “Notoriamente, a população negra é mais condicionada à pobreza na sociedade brasileira, desempenha trabalhos com menor remuneração e possui índices mais baixos de escolarização devido a dificuldade de acesso e, principalmente, para permanecer e avançar nos estudos. Muitos estudantes negros são evadidos da escola para trabalhar, ajudar a compor a renda de suas famílias, para sobreviver”, observa.
Em 2012, o percentual de jovens brancos com 19 anos e ensino médio completo era de 62% enquanto entre pardos recuava para 42% e entre pretos diminuía para 32%. Já em 2022, as porcentagens de concluintes entre estudantes brancos chegou a 75%, entre pardos a 62% e entre pretos 61%.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.