No primeiro semestre de 2023, foram contabilizados 79 desaparecimentos de crianças até 12 anos no estado
De acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023, divulgados na última quinta-feira (20), em 2022, o Brasil registrou 74.061 pessoas desaparecidas, média de 203 desaparecimentos diários. O número é maior que o identificado em 2021, quando 65.263 pessoas estavam desencontradas, representando aumento de 12,9%.
Do total de registros, quase metade estão concentrados na região Sudeste (46,7%), com destaque para o estado de São Paulo, que registrou 20.411 ocorrências. Em seguida, está a região Sul, com 22,3% do total. O índice é liderado pelo Rio Grande do Sul, em que os registros alcançaram a marca de 6.888 ocorrências no período.
Os motivos considerados pela investigação são diversos: desde pessoas que optaram por romper o vínculo com a família e amigos por vontade própria, aquelas que perderam o convívio por questões de saúde mental, também aquelas que foram vítimas de acidentes ou desastres naturais, sequestros ou outras violações cometidas, inclusive, por órgãos estatais.
Chama atenção que, entre em 2021 e 2022, apenas os estados de Goiás (-8,8%) e Minas Gerais (-1,2%) contabilizaram diminuição nas ocorrências. Talita Nascimento, Pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e graduada em Gestão de Políticas Públicas pela USP (Universidade de São Paulo) reforça a importância da capacitação das forças de segurança pública a fim de dar respostas aos familiares das vítimas.
De acordo com a pesquisadora, desde o registro da denúncia, que devem prezar pelo detalhamento das informações, à condução das investigações a preparação dos agentes é fundamental.
“A capacitação dos profissionais que trabalham na ponta é preponderante. Os agentes policiais precisam ser capacitados não só para o bom preenchimento do registro, mas também na condução da ocorrência: desde o acolhimento das famílias cujo ente está desaparecido, até a conclusão do caso, a assistência precisa ser interdisciplinar. Além disso, a adoção das espécies do desaparecimento é urgente para a melhoria das investigações, das estatísticas e das devolutivas do Estado à sociedade”, pontua.
Em 2019, foi estabelecida a Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas (Lei nº 13.812). O regulamento define como desaparecido “todo ser humano cujo paradeiro é desconhecido, não importando a causa de seu desaparecimento, até que sua recuperação e identificação tenham sido confirmadas por vias físicas ou científicas”.
Localizações também crescem
Ainda, segundo o estudo, a quantidade de pessoas encontradas também aumentou nos últimos dois anos. Em 2021, 33.794 pessoas foram localizadas. Já em 2022, foram 39.957.
Paraná
Em 2022, o Paraná contabilizou 5.755 pessoas desaparecidas. O contingente representa 48 casos a mais do que identificado em 2021. A quantidade de pessoas encontradas no Paraná também cresceu no período. Em 2021, foram localizadas 3.533 pessoas no estado. No ano seguinte, o saldo foi de 3.674 pessoas encontradas.
A listagem de desaparecidos em território paranaense é disponibilizada pela Polícia Civil no seguinte endereço: https://www.desaparecidos.pr.gov.br/.
Crianças
O Sicride (Serviço de Investigação de Crianças Desaparecidas) realiza a investigação de casos que envolvam o desaparecimento de menores de idade com até 12 anos incompletos no estado. Com base em levantamento do órgão, no primeiro semestre de 2023, foram contabilizados 79 desaparecimentos de crianças no Paraná, sendo 43 meninos e 36 meninas. A maioria delas tem entre 7 e 11 anos. Nos seis primeiros meses de 2022, foram observados 89 desaparecimentos.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.