Quase metade, está em acompanhamento psiquiátrico
O Comando Nacional dos Bancários e o Coletivo Nacional de Saúde da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) divulgaram neste mês de abril, os resultados da pesquisa “Avaliação dos Modelos de Gestão e das Patologias do Trabalho Bancário”.
O estudo, realizado pela Secretaria de Saúde do Trabalhador da Contraf-CUT em colaboração com pesquisadores do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UNB), foi encomendado pela Federação Nacional dos Bancos (Fenaban).
Segundo a pesquisa, aproximadamente 80% dos trabalhadores do ramo financeiro declararam ter enfrentado ao menos um problema de saúde relacionado ao trabalho no último ano. Desses, quase metade está em acompanhamento psiquiátrico.
Carlos Kotinda, funcionário do Banco do Brasil e diretor do Sindicato dos Bancários de Londrina e Região, ressalta que os dados reafirmam a tendência na qual os trabalhadores deixam de ser protagonistas de suas ações e passam a ser tratados como objetos, dentro de uma estrutura que os ameaça em termos de conquistas e direitos.
“Essa despersonalização tira o sentimento de pertencimento de classe, provocando comportamentos individualistas e produtivistas nem sempre éticos dentro da convivência social. Essas condutas adoecem porque violentam os valores solidários que permeiam o coletivo humano”, questiona o diretor.
Modelo de trabalho atual contribui para problemas de saúde mental
O estudo, que contou com a participação de 5.803 bancários em todo o Brasil, também apontou que o modelo atual de gestão não apenas define as condições de trabalho, mas também serve como uma fonte significativa de psicopatologias. Kotinda destaca essa constatação como resultado de uma contradição inerente ao modelo adotado pelas empresas.
“Por um lado, há uma busca pela humanização do atendimento aos clientes, com o uso de recursos de inteligência artificial. No entanto, essa abordagem acaba por diminuir as interações sociais no ambiente de trabalho, onde diversas formas de cobranças estruturadas e hierarquizadas são utilizadas para obter resultados crescentes de forma contínua”, explica o sindicalista.
Segundo o diretor, “tais práticas resultam em conflitos de conduta que nem sempre são explicitados, mas que são vivenciados e reprimidos pelo instinto de sobrevivência corporativa”. Ele ressalta que a presença desses fatores gera angústias, sentimentos de impotência e desgastes, além de estresses que afetam adversamente a saúde mental dos trabalhadores. Esses danos podem ser irreversíveis e muitas vezes, por falta de estrutura, não são devidamente gerenciados.
“Modus Operandi”
Quando questionado sobre as medidas que os bancos deveriam adotar para melhorar a saúde mental de seus trabalhadores, Carlos Kotinda menciona a importância de readequar o ambiente de trabalho dentro de uma perspectiva humanista e colaborativa.
“As empresas financeiras dependem de um bom relacionamento para gerar negócios. Tal relacionamento, muitas vezes, intangível, envolve nuances que a inteligência artificial ainda não oferece”, ressalta.
Além disso, é necessário estabelecer metas não abusivas, que possibilitem o acompanhamento e controle do desenvolvimento até a conquista do objetivo, gerando comprometimento, percepção e reconhecimento por parte dos trabalhadores.
O diretor explica que o “modus operandi” da estrutura deve facilitar o acesso às informações para capacitar os trabalhadores e valorizar os desempenhos coletivos, reconhecendo que as conquistas nem sempre são solitárias.
Sindicatos
Sobre o papel dos sindicatos na implementação de mudanças, Kotinda enfatiza que a especialização do movimento sindical deve ser melhor explorada para promover o bem-estar dos trabalhadores.
“Conscientizar os trabalhadores do ramo financeiro sobre a capacidade de ação de um movimento coletivo, articulado e solidário com um propósito definido pode mudar qualquer estrutura que ameace a saúde mental e cause adoecimentos da categoria”, atribui.
Para o sindicalista, a importância de capacitar os trabalhadores nas competências demandadas pela atual conjuntura, minimiza as lacunas que geram insegurança e estresse profissional, além de mostrar as abordagens legais e necessárias no enfrentamento de quaisquer condições adversas no ambiente laboral.
“Os sindicatos devem valorizar, ofertar e apoiar iniciativas que acolham os trabalhadores em situações de fragilidade. Representar os trabalhadores e dialogar em todas as instâncias, nas demandas pontuais que possam gerar conflitos personalizados” finaliza.
Matéria da estagiária Joyce Keli dos Santos sob supervisão