Privatização da estatal foi proposta em novembro de 2022. Aumento da tarifa e desmonte de projetos sociais estão entre as principais consequências
No último sábado (17), na Câmara Municipal de Londrina, foi realizada audiência pública para debater o futuro da maior empresa publica do Paraná, a COPEL (Companhia Paraense de Energia). A reunião integra agenda da Frente Parlamentar das Estatais e Empresas Públicas da ALEP (Assembleia Legislativa do Paraná). Formado, predominantemente por deputados da bancada de oposição, o grupo tem percorrido diversas cidades do estado para informar a população sobre os prejuízos que a privatização da estatal pode trazer, principalmente, para as camadas mais empobrecidas.
Contrariando declaração emitida durante campanha para reeleição, quando afirmou que não privatizaria a estatal, o governador Ratinho Júnior (PSD) anunciou, em novembro de 2022, que pretende transformar a COPEL em empresa de capital diverso, diminuindo a participação do estado de 31% para, no mínimo, 15%. O projeto de Lei nº 493/2022 foi aprovado com ampla maioria na ALEP, recebendo apenas 13 votos contrários.
O deputado estadual, Arilson Chiorato (PT), coordenador da Frente, participou do evento. Ele avalia que a audiência atendeu as expectativas. “Foi positiva, com muitos participantes de quase 20 municípios da região. Uma audiência muito bem representada, tenho certeza de que vamos trabalhar firme para barrar esta venda, na verdade, não é nem venda, é a entrega da COPEL para a bolsa de valores, um crime contra o povo do Paraná”, disse.
Para o parlamentar, a sociedade paranaense não está ciente das consequências reais da venda da COPEL. Em sua avaliação, a gestão de Ratinho Júnior tem dificultado a disseminação das informações para a população. “Infelizmente, a população não está informada como deveria ser porque há um trabalho do governo do estado para impedir que as pessoas participem”, avalia.
Chiorato reforça que a venda da COPEL ainda não foi concretizada e é importante que a população se mobilize para barrar a terceirização em andamento. “Temos muito o que discutir e fazer até outubro, novembro para que a COPEL não seja privatizada. Então, você, dá tempo de participar e virar o jogo. Vamos para a rua, a COPEL é nossa”, convoca.
Tarifa mais cara e desmonte de programas sociais
O deputado federal, Tadeu Veneri (PT) também esteve presente na reunião. Para ele, a venda da COPEL não afeta apenas os paranaenses, mas todos os brasileiros. “A COPEL é uma empresa que tem quase 70 anos, que gera não só energia, mas desenvolvimento. A COPEL e suas subsidiarias, recentemente uma delas foi vendida, são responsáveis por parte significativa do desenvolvimento de toda a engenharia do estado do Paraná, no que diz respeito a construção de usinas, transmissão, a todo um processo do parque industrial que foi construído ao longo dos últimos 30, 40 anos. Eu falo isso porque quando olhamos para a COPEL é um ato quase de lesa pátria, vai contra o Brasil”, observa Veneri.
Ele destaca que com a privatização, os acionistas passarão a investir somente nas regiões que gerarem mais lucro, desconsiderando as condições de vida e demandas da população. “Hoje, falar em privatizar é pauperizar, empobrecer ainda mais os paranaenses. E a COPEL não foi construída por governos anteriores e o atual, ela foi criada pelo povo paranaense nos últimos 70 anos, por isso, nós podemos concordar com qualquer argumento que fale que a venda da COPEL trará benefícios para a população. Ela trará benefícios apenas para um seleto grupo muito próximo e conhecido do governo do estado, daqueles que estão no poder”, adverte.
Para Laurito Porto Filho, membro do Sindicato dos Bancários de Londrina e Região, a audiência é importante porque leva à população a conhecer o “contraditório”. Para ele, defender a não privatização da COPEL significa defender os cofres públicos e a soberania popular.
“A gente sabe que vender a COPEL trará um prejuízo enorme para toda sociedade paranaense. Primeiro, pelo aumento das tarifas e até pelo possível desabastecimento de regiões que não sejam tão lucrativas para a empresa que comprar a COPEL. Também irá atrasar todo desenvolvimento econômico do estado, afetando os setores industrial e agrícola que dependem de energia elétrica de boa qualidade”, assinala.
A mesma preocupação é partilhada por Sandro Ruhnke, presidente do Sindicato dos Eletricitários de Londrina e Região (SINDEL). Ele explica que, atualmente, considerando o valor cobrado por 94 empresas de distribuição energética no país, a COPEL ocupa a 86ª posição. “A tarifa da COPEL é uma das mais baratas, automaticamente, com a privatização ela se tornará mais cara, cerca de 25% a 75% de aumento. Então, se hoje, você paga R$ 100, com a privatização, vai subir para R$ 150, R$ 160”, sinaliza.
Ainda, a liderança, alerta para a descontinuidade de programas sociais desenvolvidos pela corporação, a exemplo do “Energia Solidária”. Com um investimento total de R$ 121 milhões por ano, isenta o pagamento de contas de luz das famílias de baixa renda inscritas no Cadastro Único. Atualmente, o benefício assiste 380 mil famílias no estado.
“A COPEL é a empresa que, com mais de 400 mil consumidores, tem a tarifa mais baixa e, inclusive, tem programas sociais. Vocês acreditam que uma empresa privatizada vai ter condições ou interesse em continuar investindo nestes programas de fundo social? É lógico que não”, evidencia Ruhnke.
Na última segunda-feira (19), o Portal Verdade estreou novo quadro “Segunda Sindical”. Sandro Ruhnke é o convidado deste primeiro episódio. Na entrevista, ele comenta os interesses de grupos privados na venda da COPEL e as mobilizações organizadas para que os paranaenses não percam um de seus maiores patrimônios. Confira a seguir:
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.