O Grito dos Excluídos surge como uma iniciativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em 1995, com a finalidade de trazer outra versão sobre a história da Independência
Em 2024, o Grito dos Excluídos completa 30 anos. Tradicionalmente, em 7 de setembro, a população sai às ruas de diversas cidades do país, com o intuito de visibilizar as lutas daqueles que são frequentemente deixados à margem da sociedade, trazendo suas reivindicações para a agenda pública.
Neste ano, a celebração tem como tema geral: “Vida em primeiro lugar. Todas as formas de vida importam. Mas quem se importa?”.
“Nesses 30 anos, o Grito dos Excluídos tem nutrido, fortalecido e colocado que a vida das mulheres, das crianças, dos povos tradicionais, do povo em situação de rua, do povo preto, das marisqueiras, todas as vidas têm sua importância, e devemos nos importar e colocá-las em primeiro lugar”, assinala padre Dirceu Luiz Fumagalli, vigário social da Arquidiocese de Londrina.
De acordo com a liderança, a escolha do mote foi motivada, entre outras opressões, pelo genocídio do povo palestino e a emergência climática, cujas camadas vulneráveis são as mais atingidas.
“Para esse sistema de morte, a vida da natureza e a vida dos povos tradicionais, que são impactados, essas vidas não importam, toda essa desigualdade social que cada vez mais, os pouquíssimos ricos ficam trilionários enquanto milhões e milhões de pessoas se encontram numa situação de miserabilidade”, diz.
Pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas, com base no imposto de renda, mostra que os mais ricos estão concentrando cada vez mais renda no Brasil. Segundo o levantamento, enquanto a maioria da população teve um crescimento médio de 33% em sua renda nos últimos cinco anos, a variação registrada pelos mais ricos foi de 51%, 67% e 87% nos estratos mais seletos. Entre os 15 mil milionários que compõe o 0,01% mais rico, o crescimento foi ainda maior: 96%.
O aumento da precarização e desmantelamento das leis trabalhistas também são violências levantadas pelo evento. “Toda essa questão da mudança das relações de trabalho, dos aplicativos, onde as pessoas trabalham muito mais, recebam muito menos e não têm nenhuma segurança, essas vidas também não importam”, complementa.
Padre Dirceu destaca, ainda, a falta de investimento em políticas e serviços por parte dos poderes públicos. “A pressão do poder público a serviço do capital, que faz as ameaças e o corte no investimento nas políticas públicas, onde a vida das pessoas que acessam esses serviços nada importa”, adverte.
Londrina
Em Londrina, a concentração inicia às 8h30, no Calçadão em frente ao chafariz do antigo coreto. Em seguida, ocorre café coletivo e apresentações culturais como batalhas de rimas, declaração de poesias e oficinas para construção coletiva de cartazes e faixas. Também está previsto um cortejo pelo centro da cidade. O encerramento deve ocorrer em torno das 12h.
“Nós estamos com uma boa expectativa de conseguir mobilizar um significativo número de pessoas, das ocupações, das nossas periferias, das comunidades e mobilizações específicas com as suas bandeiras em relação à juventude, em relação aos negros, LGBT”, compartilha.
A ação é organizada por uma série de entidades como pastorais sociais, comunidades eclesiais de base, o projeto BR-Cidades, Movimento Justiça Pelas Almas, Centro de Formação Juvenil, entre outras.
“Nós queremos fazer desse momento um momento de renovação da nossa energia, da nossa esperança. Somos diferentes e diversos, mas nós vamos nos somando, mostrando que dois mais dois nunca é quatro, e sim, muito mais. É uma forma de ocupar as ruas e, de fato, pautar na nossa sociedade, aquilo que deve ser prioritário das nossas lutas, a vida, a vida em primeiro lugar, e todas elas importam”, finaliza Padre Dirceu.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.