Durante presença das equipes, um estudante com deficiência passou mal e precisou de atendimento médico. Pasta nega represália e informa que visita faz parte de “agenda institucional“
Um vídeo publicado nas redes sociais por estudantes do Colégio Estadual Jardim Panorama, em Sarandi, município localizado a aproximadamente 90 KM de Londrina, tem gerado grande repercussão. No material, resultado de uma atividade proposta para a disciplina de Artes, o grupo formado por cinco alunos do 1º ano do ensino médio apresentam críticas a falta de infraestrutura da escola.
Entre os problemas expostos pelos alunos está a ausência de portas e papel higiênico nos banheiros. Até o momento, o vídeo já conta com mais de 140 mil visualizações e ultrapassa 1.500 comentários. Acompanhe a seguir:
O trabalho desagradou a SEED-PR (Secretaria Estadual de Educação do Paraná) e representantes do NRE (Núcleo Regional de Educação) de Maringá que foram até o Colégio para cobrar explicações dos professores e estudantes nesta quarta-feira (23). De acordo com informações da APP-Sindicato (Sindicato dos Professores e Funcionários de Escola do Paraná), está é a segunda visita nas últimas duas semanas. A comunidade escolar classificou as ofensivas como “inquisitórias”, alerta a entidade.
“Uma professora de Artes fez um trabalho muito bem organizado com seus estudantes criando vídeos. E os alunos resolveram apresentar as dificuldades que a sua escola tem passado, a infraestrutura, falta de profissionais, de condições de se aplicar um projeto mais efetivo de educação pública de qualidade que todos nós defendemos e fizeram isso de uma forma muito proveitosa e com ironia pelas redes sociais, para o TikTok que é hoje a plataforma mais utilizada entre os jovens. Isso não deve ser motivo para crítica do governo ou de uma reação forte que conduza a própria SEED e NRE a irem no local fazendo um procedimento que nós consideramos bastante antidemocrático e que impactou toda comunidade escolar”, comenta Marlei Fernandes, secretária de Assuntos Jurídicos da APP.
Segundo a professora que também é vice-presidenta da CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação) na última presença das equipes da SEED e do NRE-Maringá na escola, sob pressão, um estudante com deficiência convulsionou e precisou ser socorrido. “Uma atitude antidemocrática que impactou a ponto de um estudante com deficiência passar mal e foi necessário chamar atendimento médico por conta desta situação”, relata.
A docente ressalta que não é permitido que os órgãos coletem depoimentos dos alunos sem autorização dos responsáveis. “O caso foi tão impactante com a ida do NRE e SEED à escola que, de fato, uns estudantes ficaram assustados. Não é possível que o NRE sem autorização dos pais chame os estudantes de forma coletiva ou individual para dar explicações”, diz.
Ainda, segundo a liderança, a APP-Sindicato (direção estadual) e o Núcleo Sindical de Maringá seguem acompanhando o caso que é interpretado como uma tentativa de cerceamento à prática docente e autonomia dos estudantes. A expectativa, ela pontua, é que ao invés de culpabilizar os alunos por apontarem as carências da escola, a SEED realize as melhorias necessárias no prédio bem como assista as demais demandas dos discentes, professores e funcionários.
“Isso mostra o quanto nossos estudantes estão vivos e ativos a realidade que eles vivem. Nós defendemos a democracia, que não haja repressão a escola, aos estudantes e profissionais da educação. Queremos que seja resolvido da forma mais pacífica, que, de fato, os problemas da escola sejam resolvidos junto ao governo que a estrutura não só desta escola, mas de outras tenham este atendimento”, observa.
Em nota, a SEED negou que a ida à escola seria uma tentativa de repreensão dos estudantes pela atividade e alegou que se trata de uma “visita técnica protocolar” com o objetivo de “avaliar o contexto pedagógico das escolas estaduais”.
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 6º, assegura a liberdade de “aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento” como princípio estruturante do sistema nacional de educação, bem como o respeito ao pluralismo de ideias e concepções pedagógicas.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.