Regime híbrido de trabalho, vale-alimentação flexível, passe livre para academia e clínicas de saúde, e convênio médico custeado pelo empregador foram os pontos que fizeram o analista de inteligência de mercado Leandro Santana, 25, optar pela empresa onde trabalha atualmente, mesmo diante de uma proposta de salário 15% maior em outra companhia.
“Eu tinha acabado de sair de uma outra empresa e estava procurando um lugar que pudesse oferecer alguns benefícios a mais, como o home office, que eu não tinha. Precisava disso, não tinha mais fôlego, precisava estudar, cuidar da saúde física e mental”, afirma.
A opção de Santana por um local com benefícios flexíveis —como o home office e um vale-alimentação no qual parte do valor pode ser usado em outras compras— tem se tornado mais comum entre jovens da geração Z, mas também tem sido atrativo para profissionais mais experientes, fazendo que as empresas repensem o pacote oferecido e busque, na flexibilidade, uma forma de reter talentos.
Um conjunto de fatores como a pandemia de Covid-19, mudança na forma de pensar o trabalho trazida pela nova geração e recente estabilidade no mercado formal do Brasil, com queda no desemprego, tem levado empresas a alterar o portfólio entre novos e benefícios já consolidados.
“As empresas começaram a entender que, pós-pandemia, a força de trabalho passou a ter uma atuação um pouco diferente”, diz Leonardo Coelho, vice-presidente de saúde e talento da empresa de benefícios Aon.
“As pessoas estão valorizando o trabalho, mas pesando entre como fica o papel como pai, mulher, o papel dentro da sociedade e dentro da empresa. Então, a questão da flexibilidade veio de forma muito crescente”, afirma.
Pesquisa da Aon com 929 empresas mostra que o regime híbrido de trabalho é hoje um dos benefícios mais prevalentes, oferecido por oito em cada dez companhias, e que programas de bem-estar vem ganhando destaque, especialmente no que diz respeito à saúde mental, com sete em cada dez empresas oferecendo aos seus funcionários.
Santana, que mora em Embu das Artes (Grande SP) e trabalha na Prestex, empresa de logística com sede na zona sul da capital paulista, afirma que os dois dias de home office mudaram sua rotina, possibilitando cuidar de si e da casa —ele mora sozinho. Antes, gastava uma hora e vinte minutos para ir e o mesmo tempo para voltar, todos os dias. Hoje, são três dias na semana.
Além de sentir o alívio por poder cuidar da saúde, já que passa menos tempo em trânsito, ele diz que o vale-alimentação com cartão flexível também o ajuda muito, por poder destinar 40% do valor para outros gastos. “Pago contas, como a internet, e até cursos.”
O cartão flexível também é um dos benefícios destacados por Mariana Rodrigues, 21, como atrativo no atual emprego. A profissional, que é estrategista de comunicação e negócios na Portão 3, plataforma de gestão de pagamentos, paga até o cabeleireiro com ele.
“Elimina a preocupação de encontrar lugares específicos para utilizar o benefício. É muito mais prático e conveniente em minha rotina poder utilizá-lo desde alimentação até mesmo em meu salão de beleza e para abastecimento; é incrível”, diz.
Carolina Ferreira, superintendente de Gente na Alelo, empresa especialista em benefícios, diz que justamente focada nesta demanda a empresa passou a desenvolver produtos que têm como característica principal a flexibilidade em alimentação, refeição, mobilidade, cultura e saúde.
“Isso tudo a gente traz nos nossos produtos justamente porque é uma demanda muito latente”, diz.
Ela aponta, no entanto, que um dos maiores desafios das companhias atualmente é com benefícios mais tradicionais, como o plano de saúde, que custa caro. “Existem algumas pesquisas que mostram que só 25% só da população no Brasil têm acesso a plano de saúde e, desses, 70% vêm por parte das empresas. É uma responsabilidade muito grande proporcionar uma saúde de qualidade”, diz.
“O que eu acredito é que as empresas vão precisar se reinventar nesse sentido, porque acabar sendo um dos valores de maior impacto quando a gente fala de custo para a companhia”, afirma Carolina.
Helida Martins de Souza Oliveira, especialista em recursos humanos na Portão 3, vê o plano de saúde como forma de atrair funcionários mais experientes.
“Empresas que oferecem pacotes de saúde completos, com baixa coparticipação, ou nenhuma coparticipação, tendem a se destacar positivamente no mercado de trabalho, pois esse benefício é visto como uma demonstração de cuidado com o bem-estar”, afirma.
A pesquisa da Aon mostrou que os principais benefícios oferecidos pelas companhias ainda são os tradicionais. Nove em cada dez têm plano de saúde e seguro de vida.
Coelho, da Aon, diz que a flexibilidade não está apenas no tipo de benefício, mas na rotina, em oferecer opções de telemedicina, programas de educação financeira e outros. Além disso, afirma que há uma área que ainda pode ser explorada, como a oferta de previdência privada, hoje presente em 50% das empresas.
Fonte: Folha de São Paulo