Em junho, foram notificadas seis ocorrências. Apenas na primeira semana de julho foram registrados três casos
No último mês, foram identificadas pelo menos seis brigas entre alunos de escolas públicas de Londrina e região. O mês de julho também já começou com ocorrências, somente na semana anterior, na quinta-feira (dia 07) um adolescente de 16 anos foi agredido na saída do Colégio Estadual Professora Olympia Moraes Tormenta, no Conjunto João Paz, na zona norte. No dia seguinte (08), uma estudante do Colégio Albino Feijó, no Parque das Indústrias, na zona sul de Londrina foi espancada dentro do espaço escolar.
Em entrevista à Tarobá News, Renan Padro, tenente e comandante da Patrulha Escolar pontuou que a equipe tem notado aumento de violência nas escolas após a crise sanitária mundial provocada pela Covid-19. Devido à necessidade de isolamento social para conter o avanço da doença, sistemas públicos e privados de educação adotaram ensino remoto por mais de um ano: “A gente percebe que pós-pandemia há uma dificuldade com a convivência presencial e parece que os adolescentes estão resolvendo os conflitos de uma forma mais violenta. Temos trabalhado de forma preventiva, com presença policial, e realizado palestras e outras atividades”, afirma.
Silvia Mota, cientista social, docente da rede estadual de educação no Paraná e membra do Coletivo de Professores de Filosofia e Sociologia do Norte do Paraná ressalta que para a compreensão dos motivos que têm gerado o crescimento da violência no ambiente escolar é necessário o desenvolvimento de pesquisas que permitam um olhar mais aprofundado sobre a realidade, porém, ela também evidencia os reflexos da pandemia de Covid-19.
“Nós passamos por dois anos intensos isolados, a sociedade toda com muito medo e aflição. Então, tudo que nós vivenciamos afetou a todos, aos alunos, as famílias, a nós professores, isso é fato. Os resultados desse período, dessa crise que o planeta viveu, nós estamos sentindo dentro da escola, porque o que ocorre dentro da escola é um reflexo da sociedade. A escola é parte dessa sociedade”, argumenta Mota.
A professora destaca que, além do aumento dos conflitos, as consequências da pandemia na educação podem ser vistas em outros aspectos do cotidiano escolar como a defasagem de aprendizagem e no comportamento dos estudantes que estão mais dispersos em sala de aula: “é como se eles não estivessem ali”, avalia. Para Mota, ainda será preciso um tempo para que os alunos voltem a se adaptar ao dia a dia nos colégios e convivência com os colegas.
No entanto, a docente ressalta que, até o momento, a Secretaria Estadual de Educação (SEED) não tem desenvolvido ações e políticas que visem combater o crescimento dos registros de violência nas escolas. “Este cuidado o governo [do Paraná] não teve nem durante a pandemia, quando do enfrentamento da crise, com as aulas remotas não considerou as condições dos nossos alunos, de acessibilidade e recursos para acompanhar essas aulas. Um verdadeiro faz de conta para enganar a população”.
“Gravata” contra estudante em colégio de Rolândia
No início deste mês (dia 06), um monitor do Colégio Professor Francisco Villanueva, localizado na cidade de Rolândia, região de Londrina, foi flagrado dando uma “gravata” (movimento de imobilização) em um estudante para retirá-lo do pátio. A violência foi gravada e o vídeo viralizou nas redes sociais. A justificativa é de que o homem tentou intervir em uma briga entre dois alunos motivada por uma blusa.
A escola é de modelo cívico-militar. Sob esta gestão, a administração é compartilhada: um diretor, indicado pela SEED, é responsável por realizar as orientações pedagógicas e um diretor militar fica a cargo de garantir a disciplina. Face a repercussão do caso, o monitor, que é policial militar da reserva, foi afastado do cargo e um processo de investigação foi instaurado. A identificação do acusado está sendo mantida em sigilo por se tratar de um episódio que envolve um menor de idade.
Mota, que leciona no Villanueva, pondera que a transformação da escola em cívico-militar não trouxe mudanças significativas que possam explicar o crescimento dos conflitos. Para ela, mais do que culpabilizar os envolvidos, é preciso exigir do governo estadual ações que visem superar o problema, o que envolve, sobretudo, formação para estudantes e profissionais da Educação sobre desigualdades sociais, respeito e direitos humanos.
É importante destacar que o processo de conversão das escolas em colégios cívico-militares no Paraná foi duramente criticado por professores e especialistas da Educação, visto que não ocorreu diálogo com a categoria sobre a mudança.
APP-Sindicato denúncia violência e descaso
Em nota, emitida em maio deste ano, a APP-Sindicato chamou atenção para o aumento das violências nas escolas em todo o Paraná. Os conflitos partem desde situações entre alunos, chegando a enfrentamento entre estudantes e professores. Naquele mês, uma professora do Núcleo Regional de Educação de Londrina foi afastada após arremessar uma carteira contra alunos que questionavam o lançamento de notas.
Para o coletivo, os professores estão sobrecarregados frente as exigências do governo estadual, uso extensivo de plataformas de ensino e busca por metas sem que haja a disponibilidade de recursos e políticas de formação continuada para o quadro de trabalhadores. Recentemente, a gestão Ratinho Júnior (PSD) novamente declinou do pagamento da data-base. A dívida do estado com o funcionalismo público já chega a 37%.
Saiba mais sobre luta dos trabalhadores pelo reajuste salarial e denúncia do sucateamento da educação pública no Paraná aqui.