Empresário diz em podcast que gestor do Londrina Esporte Clube teria interesse em trazer o jogador condenado por estupro na Itália para o time; clube diz que a informação não procede
Esta semana, uma entrevista do empresário Wagner Ribeiro para o podcast Benja Me Mucho, do jornalista esportivo Benjamin Back, repercutiu negativamente no movimento feminista de Londrina, por conta da declaração do empresário de que o gestor do Londrina Esporte Clube (LEC), Sérgio Malucelli, teria interesse na contratação do jogador Robinho, condenado por estupro na Itália. A assessoria de comunicação do clube londrinense respondeu à Lume que a informação “não procede”.
No vídeo, Ribeiro, que é empresário de futebol, afirmou que Robinho poderia receber uma proposta do LEC, que teria interesse no jogador para reforçar o time na briga pelo acesso à Série A do Brasileirão.
“Três clubes da Série B querem o Robinho. O Londrina é um deles. O Sérgio Malucelli, meu amigo, perguntou se haveria possibilidade. Ele falou: ‘Nós vamos fazer o melhor com o Robinho, nós precisamos subir o time e o Robinho tem futebol ainda’’, disse o empresário.
Sem clube desde 2020, quando teve seu contrato rescindido pelo Santos, Robinho teme voltar aos gramados brasileiros por conta de retaliações das torcidas e deve descartar a possibilidade de jogar em Londrina, segundo o empresário.
“O Robinho está com medo de chegar lá e ter empecilhos com grupos feministas. No Atlético Mineiro a torcida não deixou. No Santos, os patrocinadores. Eu não vejo possibilidade de ele voltar a jogar tão cedo no Brasil. A carreira dele está encerrada pelos problemas na Itália”, comentou Ribeiro.
Robinho foi condenado por estupro coletivo
Em 2022, Robinho foi condenado em três instâncias pela Justiça italiana, com uma pena de nove anos de prisão por participação em um estupro coletivo ocorrido em 2013, quando ele jogava pelo Milan. Vivendo no litoral paulista, o jogador teme ser preso, por isso não deixa o país.
Pelas leis internacionais, ele pode ser preso em pelo menos 190 países, mas não pode ser extraditado para a Itália porque as leis brasileiras não permitem a extradição de brasileiros natos.
No Brasil, episódios envolvendo jogadores de futebol se destacam porque o futebol é o esporte mais popular no país e porque o Brasil é um dos líderes mundiais em violência contra a mulher. Leia mais nesta reportagem que a Lume produziu em outubro de 2020.
Protocolo de segurança ‘No Callem’
O caso mais recente de violência contra mulher envolvendo um jogador de futebol aconteceu em 2 de janeiro com o brasileiro Daniel Alves. Ele estuprou uma jovem de 23 anos no banheiro de uma boate em Barcelona, na Espanha, e está em prisão preventiva na cidade da Catalunha. Ele foi detido enquanto prestava depoimento sobre o caso.
Em se relato, a vítima, que não teve seu nome revelado, contou que foi seguida pelo jogador ao ir ao banheiro da boate, que é unissex, por volta das 4 horas da manhã. Lá, foi forçada por ele a sentar no seu colo e foi jogada no chão ao tentar resistir. Ela foi esbofeteada pelo jogador e forçada a fazer sexo oral. Imagens da boate confirmam que os dois estiveram no banheiro ao mesmo tempo, mas que ela saiu do local dois minutos antes dele.
Ao deixar o banheiro, a jovem imediatamente chamou o segurança da boate, que acionou o protocolo No Callem. Em seguida, ela foi levada ao hospital, onde realizou exames que confirmaram o estupro.
O protocolo No Callem, usado pelo segurança da boate espanhola, foi instituído em 2018 em Barcelona e já é adotado por mais de 20 casas noturnas, festivas e espaços de eventos da cidade.
Ele prevê ações imediatas após uma denúncia de estupro, para que a vítima seja acolhida e separada do agressor e que sejam tomadas medidas de comunicação do caso às autoridades. As boates catalãs também costumam pedir a presença de uma policial mulher para acompanhar a vítima à delegacia.
O protocolo envolve o treinamento de funcionários, acolhimento das vítimas, a escuta atenciosa dos relatos e uma postura de não cumplicidade com o agressor.
‘Mulher não é objeto’
Para a mestranda em comunicação Karime Peres Vilela, conselheira municipal dos Direitos das Mulheres e ativista da Frente Feminista de Londrina, os altos salários dos jogadores de futebol fazem com que eles se sintam “donos do poder”.
“Eles acham que podem fazer o que querem, mas eu acho que a gente precisa cobrar, enquanto sociedade, que eles não estão acima de ninguém, que mulher não é objeto.”
“Eu acredito que esses times de futebol, ao contratar condenados por violência contra a mulher, estão estimulando a cultura do estupro, porque estão dando a entender que está tudo bem o cara violentar uma mulher, mas isso é um desrespeito aos direitos humanos”, declara a ativista.
“Os clubes estão dando essa mensagem de que tudo bem vocês violentarem uma mulher, a carreira de vocês vai continuar, vocês continuarão a ser contratados, porque o que importa é o futebol, é o que vocês fazem com a bola, não é a vida de mulheres”, avalia Karime.
Para ela, falta, no Brasil, um protocolo como o realizado na boate espanhola que facilite a denúncia de violência por parte das vítimas. “Se fizermos um levantamento, são muitos os casos de violência sexual que ocorrem em casas noturnas e eu acho que os funcionários não estão preparados para lidar com este tipo de coisa.”
Ela sugere como pauta para o próprio movimento feminista cobrar das autoridades um projeto de lei em nível nacional que crie um protocolo que seja aplicado de forma correta para ajudar a diminuir os casos de agressão sexual.
“Muitas vezes, quando a gente conversa com as vítimas de agressão sexual, elas falam que não se sentem seguras e por isso não denunciam na hora do acontecido.”
Para Karime, o medo de denunciar está diretamente ligado à cultura machista exacerbada no Brasil. “A gente tem muito ainda que caminhar, que discutir socialmente a violência contra a mulher.”
“Tem que cobrar as autoridades brasileiras, prefeitos, governadores, deputados para que se unam nessa luta contra o machismo, para que a gente tenha uma sociedade mais digna. A gente não avança enquanto uma mulher ainda for agredida por ser mulher.”
Karime se incomoda com a objetificação da mulher no meio futebolístico: “Além da violência contra as mulheres, tem a questão dos salários, que também não deixa de ser uma violência”, diz a conselheira, referindo-se à diferença salarial e de reconhecimento entre times masculinos e femininos.
“Quando você é uma jogadora de futebol, você sofre todo esse machismo. Se você é uma mulher que segue no futebol, você sofre muito com os desafios, porque é um esporte colocado como masculino e até chegou a ser proibido por lei para as mulheres. Mas a mulher continua encarando o machismo, mas ainda assim não vai receber nem a metade do que o homem recebe.”
Fonte: Redação Rede Lume