Nesta quarta-feira (19), quando é celebrado o Dia dos Povos Indígenas, a UEL contabiliza 37 estudantes indígenas em cursos de graduação, segundo a Divisão de Políticas de Graduação da Pró-Reitoria de Graduação (Prograd). Everson Cazarim é o titular da divisão e conta que 22 alunos se formaram na UEL desde 2002, quando o vestibular dos povos indígenas foi instituído no Paraná.
A UEL registrou a matrícula de 122 estudantes. Muitos deixaram a universidade sem concluir os cursos, enquanto outros pediram transferência para outras instituições de ensino superior. Segundo Cazarim, o processo de evasão vem reduzindo desde 2014, quando foi implantado o Ciclo Intercultural de Iniciação Acadêmica dos Estudantes Indígenas. Por meio do ciclo, eles passam um ano com estudos e debates ofertados pela Comissão Universidade para os Indígenas (Cuia). Somente ao final desta etapa é que os estudantes escolhem o curso de graduação.
Rodrigo Tupã Luis é estudante do quinto ano de medicina da UEL. Ele é do Oeste do Paraná, da etnia Avá-Guarani, e vai iniciar o internato. O estudante tem 35 anos, é casado e pai de dois filhos, uma adolescente de 15 anos e um menino de 12 anos. Ele ingressou na universidade em 2017. Em entrevista à Rádio UEL FM, revelou ter criado um método para aperfeiçoar seu aprendizado: traduz os casos clínicos e o roteiro de estudos para sua língua materna.
Tupã Luis contou ainda que a experiência do ciclo foi muito importante para conhecer mais do curso e o currículo. Comentou também sobre a influência dos avós para a escolha da medicina:
O estudante diz que foi somente na UEL que teve de se debruçar sobre a linguagem científica e acadêmica:
Para Tupã Luis, a cultura dos Avá-Guarani é mais da escuta do que da fala. E por isso, enfrentou algumas dificuldades no curso de Medicina da UEL:
Por ser bilíngue, ele diz que estuda os roteiros em português, mas traduz para o guarani. “Achei meu método para aprender melhor”, exemplificou:
A entrevista de Rodrigo Tupã Luis à Rádio UEL FM foi veiculada nesta quarta-feira, na Revista do Meio-Dia. A conversa foi gravada terça-feira à noite, na sala de eventos do Centro de Educação, Comunicação e Artes (Ceca), depois do lançamento das autobiografias de seis estudantes indígenas que ingressaram na UEL em 2022.
Autobiografias
Todas as histórias de vida estão disponíveis no canal do YouTube da Comissão Universidade para os Indígenas. As entrevistas e a edição foram realizadas por estudantes do curso de Jornalismo da UEL. Entre os alunos que participaram do processo, estão Maria Eduarda Panobianco e Guilherme Prado, do segundo ano. “Começamos a frequentar as aulas do ciclo intercultural duas vezes por semana e conversávamos com os indígenas. Assim, eles sentiram mais segurança para compartilhar suas histórias. O processo durou um mês e meio. Em seguida iniciamos as gravações no laboratório de telejornalismo da UEL. Foram umas três semanas de gravações”, explicou Maria Eduarda.
Ela conta que o processo de edição foi feito em casa. “Voltávamos para o laboratório para pedir orientações ao (técnico) Eduardo (Calliari) e ele finalizou todas as autobiografias”.
Já Prado foi responsável pelos roteiros e produção. Monitor do projeto, ele conta que a parte mais fácil foi a edição. Como principal aprendizado, o estudante revela a vivência com os alunos indígenas. “Foi meu primeiro contato estendido com esses estudantes e o principal ensinamento foi com o Rodrigo (estudante de Medicina), sobre o modo de viver dos indígenas, com foco na comunidade”, explicou. A coordenação geral do projeto das autobiografias é da professora do Departamento de Comunicação Mônica Kaseker.
Fonte: O Perobal