O professor Arthur Eumann Mesas, professor do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da UEL, atua como pesquisador contratado pela Universidad de Castilla-La Mancha (Espanha), em Cuenca, cidade a menos de 200 km a leste de Madrid. Em fevereiro o grupo ao qual ele está vinculado publicou o estudo inédito “Proporção global de transtornos alimentares em crianças e adolescentes: Uma revisão sistemática e meta-análise” no JAMA (Journal of the American Medical Association), periódico de alto impacto acadêmico, revelando que mais de 20% dos jovens (entre seis e 18 anos) apresentam algum tipo de transtorno alimentar, como anorexia e bulimia.
Liderados pelo professor espanhol José Francisco Lopez-Gil, os pesquisadores fizeram um extenso levantamento sistemático em quatro importantes bases de dados (PubMed, Scopus, Web of Science, e Cochrane Library) e encontraram milhares de estudos relacionados ao foco de interesse: os transtornos de comportamento alimentar em crianças e adolescentes da faixa de 6 a 18 anos. Ao aplicar outros critérios de delimitação, como o período de publicação (de 1999 para cá), o grupo chegou a 32 trabalhos de 16 países. Um dos trabalhos, brasileiro. Para se ter uma ideia, o total de crianças e adolescentes envolvidos em todos os estudos levantados foi superior a 63 mil.
O resultado quantitativo principal é que 22,3% de jovens da referida faixa etária apresentaram algum tipo de TCA. Mas já aí aparece um problema apontado pelo professor Arthur: a subnotificação. Em sua avaliação, os casos devidamente diagnosticados devem representar apenas 10% do que efetivamente acontece. As razões são muitas: os pais não percebem os sintomas, o jovem esconde sua situação, constrangimento, pressão social, entre outras. “Falta atenção especializada”, sintetiza Mesas. A pesquisa levou isso em conta: qual o contexto da alimentação destes jovens – comem com a família? Vendo TV? Rapidamente?
Os números mostraram que as meninas são mais acometidas pelos TCA: entre elas, são mais de 30%. Entre os meninos, 17% em média. Mas o professor alerta: este índice vem aumentando. Deve ser firmemente enfatizado, portanto, que não se trata de uma “doença de meninas”, apesar da prevalência.
Mais conhecidos
Entre os transtornos mais conhecidos, estão a anorexia (em que a pessoa não come) e a bulimia (come mas regurgita em seguida). Mas há outros, como o uso excessivo de diuréticos e laxantes (ainda mais difícil de ser detectado pela família) e a ortorexia – a busca exagerada por alimentos “perfeitos” ou “saudáveis”. Arhur, porém, observa que há outros transtornos ou doenças que se associam aos TCA, como a vigorexia, em que a pessoa se vê de maneira distorcida e exagera nos exercícios físicos, particularmente em academias. A preocupação excessiva com o IMC (Índice de Massa Corpórea) também pode levar a um TCA.
A auto-imagem desvirtuada pode levar a muitos outros problemas físicos e psicológicos, como a recusa em ir a uma praia ou piscina (exposição do corpo), ou ainda festas (almoços, jantares), conduzindo a um isolamento social e à depressão. Dietas malucas ou da moda podem piorar a condição. O pesquisador lembra que existem muitos fatores contributivos, desde o apelo do Marketing e da indústria alimentar, até a sensação de controle que o adolescente tem, embora só até certo ponto. “Ele pode errar a mão. A indústria alimentar passa a ideia de alimentos de rápida recompensa: comeu, sentiu-se bem. Mas o efeito passa logo”, analisa Arthur Mesas.
Outro dado importante é que, quanto maior a idade na faixa pesquisada, maior a prevalência. Neste aspecto, o professor alerta que o transtorno que aparece na adolescência teve início ainda na infância, daí a importância de estar muito atento a qualquer sintoma precoce, como a compulsão de comer (qualquer tipo de alimento), os regimes que prometem rápidas perdas de peso e o excesso de exercícios físicos. Outra consequência dos TCA é a redução da expectativa de vida.
Fonte: O Perobal