A exposição, que fica em cartaz até 24 de novembro de 2024 na capital paulista, promove uma celebração a Lélia Gonzalez ao seu livro “Festas Populares do Brasil”
Após 30 anos de morte da escritora e intelectual Lélia Gonzalez, um dos principais nomes da filosofia e sociologia do século XX, referência nos estudos sobre gênero e raça no Brasil e ícone da luta antirracista, terá seu livro “Festas Populares no Brasil” relançado e celebrado em exposição “Lélia em Nós: Festas Populares e Amefricanidade,” a partir desta quarta-feira (26), em São Paulo.
A exposição, que fica em cartaz até 24 de novembro de 2024, no Sesc Vila Mariana, na zona sul da capital paulista, promove uma celebração das festas populares afro-brasileira – ou amefricana, na década de 1970. Além disso, a mostra também apresenta um recorte de sonoridades e musicalidades, tanto do universo das festas e festejos brasileiros quanto a partir das intervenções do DJ Machintown e do trombonista Allan Abbadia, além de registros fonográficos da discoteca pessoal de Gonzalez.
Para a secretária nacional de Combate ao Racismo da CUT, Julia Nogueira, Lélia foi uma intelectual que teve um papel fundamental no pensamento das mulheres negras no Brasil.
“O relançamento de sua obra nesse momento coloca para nós a responsabilidade de darmos continuidade a essa luta que ela iniciou. É o nosso papel, principalmente quando está em debate no Congresso Nacional o PL-1904 que trata de penalizar as mulheres negras, crianças e principalmente quando se fala das crianças estupradas e abusadas sexualmente”, afirma a secretária.
O livro “Festas Populares do Brasil”, originalmente publicado em 1987, foi o único que a pensadora, acadêmica e ativista do movimento brasileiro publicou em vida exclusivamente como autora, segundo a editora. Apesar de ter recebido prêmios internacionais, a obra nunca foi lançada no mercado editorial.
A nova versão do livro ganhou textos inéditos com prólogo da cantora Leci Brandão, posfácio da escritora Leda Maria Martins, texto de orelha da filósofa Sueli Carneiro e quarta capa da militante e filosofa estadunidense Angela Davis e da atriz Zezé Motta.
Já o prefácio da nova edição da obra de “Festas Populares do Brasil” foi escrito por Raquel Barreto, pesquisadora do pensamento de Lélia Gonzalez. Para ela, esse esquecimento representa “um capítulo do violento apagamento da sua produção intelectual [de Lélia]”. O esquecimento a que Raquel se refere é sobre o pagamento da obra de Lélia, um dos principais nomes na luta antirracista e sobre gênero.
Lélia também é autora do livro “Lugar de Negro”, lançado em 1982, em coautoria com o sociólogo argentino Carlos Hasenbalg.
Quem foi Lélia Gonzalez
Mulher, negra, intelectual e ativista, Lélia Gonzalez (01/02/1935 – 10/07/1994), foi pioneira nas discussões de gênero e raça, ao propor uma visão afro-latino-americana do feminismo.
Filha de um operário e de uma empregada doméstica, Lélia de Almeida nasceu na cidade de Belo Horizonte/Minas Gerais e aos oito anos mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, onde permaneceu até o final de sua vida.
No Rio, exerceu as funções de empregada doméstica e babá e, apesar das dificuldades, em 1954, Lélia Gonzalez concluiu o Ensino Médio no Colégio Pedro II, tradicional instituição de ensino carioca. Quatro anos depois, graduou-se em História e Geografia. Em 1962, tornou-se bacharel em Filosofia pela Universidade Estadual da Guanabara, atual UERJ. Como professora universitária, lecionou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Gama Filho, também na capital fluminense.
Lélia Gonzalez teve participação destacada em um dos momentos mais significativos da história da população negra no Brasil sendo uma das fundadoras, em 1978, Movimento Negro Unificado contra a Discriminação Racial (MNUCDR, mais tarde, MNU) e como pioneira do pensamento sobre questões de gênero e feminismo, inaugurando o debate sobre feminismo negro.
Exposição
O quê: Exposição inspirada na produção intelectual de Lélia Gonzalez e no livro Festas populares no Brasil
Onde: Sesc Vila Mariana – Rua Pelotas, 141, Vila Mariana, São Paulo
Quando: 26/06/2024
Curadoria: Glaucea Britto e Raquel Barreto
Editora: Boitempo
Confira algumas fotos que estarão na exposição
Fonte: CUT Brasil