Uma das principais exigências é a contratação de 300 metalúrgicos, para evitar sobrecarga e doenças do trabalho
A greve dos metalúrgicos da Renault/Horse, localizada em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba, iniciada no dia 7 de maio, chega ao feriado alcançando 22 dias – o que já é muito superior à média do número de dias comum numa greve no Brasil. Em 2022, por exemplo, segundo dados do Dieese, apenas 3,25% das greves alcançaram tal período.
Um dos motivos centrais do movimento paredista é a situação das condições de trabalho na linha de produção, marcada por ritmo intenso e falta de empregados, dois fatores que colocam a segurança e a saúde dos trabalhadores em risco, de acordo com o sindicato dos Metalúrgicos de Curitiba (SMC).
“Uma evidência desse fato é o índice de engajamento do trabalhador na linha de produção que está em 95%, ou seja, dentro do processo de trabalho, o trabalhador tem apenas 5% de tempo para dar “uma respirada” ou ir ao banheiro. O SMC cobra que a empresa baixe esse índice para 85% ou menos”, afirma o sindicato, que tem feito entrevistas e denúncias sobre casos de trabalhadores impactados com doenças oriundos da intensidade do trabalho.
A precarização nos postos de trabalho foi levada pelo SMC em assembleias na porta de fábrica, em duas audiências no Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região (TRT-PR) e mais uma vez no dia 21, em assembleia informativa virtual.
Diante desse cenário, a demanda do sindicato é a contratação de 300 novos postos de trabalho para suprir as demandas da linha de produção; melhorias no convênio médico; implantação de cargos e salários no setor de logística. A empresa, da sua parte, comprometeu-se com a contratação de 50 trabalhadores.
No plano econômico, enquanto o sindicato reivindica aumento real de 3,02%, conforme o PIB de 2022 e PLR de R$ 30 mil, a transnacional francesa oferece os valores de R$ 25 mil de PLR com volume de produção de 201 mil carros, sendo a primeira parcela no valor de R$ 18 mil – e somente reposição da inflação via INPC.
Sem acordo, metalúrgicos seguem mobilizados.
A Renault, por sua vez, na terça-feira (28) apontou que não negocia mais com os trabalhadores, apenas com a retomada da produção, considerando a greve “ilegal”.
“Os trabalhadores estão abertos para negociar um ambiente de trabalho com mais segurança, porém, tem que haver vontade por parte da Renault. A empresa, de forma intransigente, adotou uma postura de não diálogo, querendo impor ao trabalhador uma condição que somente atende aos interesses dela. Precisamos de mais maturidade para resolver o impasse de modo a preservar a saúde, segurança e uma melhor condição para o trabalhador. Com o trabalhador motivado a empresa só tem a ganhar mais em produtividade e competitividade. Mas parece que a Renault insiste em não entender isso”, afirma o presidente do SMC, Sérgio Butka.
Polo automotivo
Curitiba e região, após a década de 90, passaram a constar entre os principais polos automotivos do Brasil, com montadoras de peso, caso da Volvo, Bosch, New Rolland, Audi-Volkswagen e Renault (São José dos Pinhais), Fiat (Campo Largo), entre outras.
A fábrica da Renault possui cerca de cinco mil trabalhadores (3.500 da produção e 1.500 administrativos) em dois turnos. A produção diária da fábrica atualmente é de cerca de 800 veículos por dia. A fábrica tem capacidade máxima para produzir cerca de 1.380 veículos\dia.
Já a fábrica da Horse, que produz os motores da Renault, possui cerca de 600 trabalhadores, fabrica atualmente 900 motores\dia, de acordo com informações do sindicato.
Fonte: Brasil de Fato