Na última semana, governo federal apresentou contraposta para docentes que avaliam o plano. Já técnicos administrativos aguardam andamento das negociações
A greve dos docentes e técnicos administrativos em educação do IFPR (Instituto Federal do Paraná) – campi Londrina está prestes a completar dois meses. Os servidores paralisaram as atividades em 25 de março após o governo federal anunciar ‘reajuste zero’ em 2024.
No estado, além da suspensão do calendário nos 26 campis do IFPR no ínicio de maio, UFPR (Universidade Federal do Paraná), UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) e UNILA (Universidade Federal de Integração Latino-Americana) também aderiram à mobilização.
Em todo país, ao menos 53 universidades e 79 institutos federais interromperam as atividades até o momento.
Entre as reivindicações das categorias estão: reestruturação dos planos de carreira, revogação de medidas aprovadas durante os governos de Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL), responsáveis por enxugar o orçamento da rede federal, e recomposição salarial de 22% a ser paga pelos próximos três anos – 7,06% em cada, começando já em 2024.
Um levantamento realizado pelo FONASEFE (Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Públicos Federais) revelou que os servidores enfrentam um grave cenário de perdas salariais, chegando a acumular até 25% de redução em seus vencimentos entre 2016 e o final de 2023.
Após sinalizar mudanças apenas nos valores de benefícios como auxílio-alimentação, auxílio-creche e per capita da saúde (subsídio suplementar concedido pelo governo federal a servidores que sejam titulares de plano de saúde e seus dependentes) – proposta que como apontado pelo Portal Verdade é criticada pelos trabalhadores já que não contempla as perdas inflacionárias e, ainda, deixa de fora grande parcela do funcionalismo federal formada por aposentados (relembre aqui), na última quarta-feira (15), foi realizada nova reunião para tentar destravar as negociações.
No encontro entre representantes do Palácio do Planalto e lideranças sindicais, foi mantida a proposta de reajuste salarial zero em 2024, mas com melhora na oferta nos próximos anos. As modificações apresentadas terão reflexos financeiros por meio de modificações nos degraus da carreira. Cada classe e cada nível terão um índice diferenciado de recomposição, não havendo mais um índice unitário. Dentre esses níveis, o menor ajuste vai ser de 13,3% e o maior, de 31%.
A nova oferta foi apresentada na Mesa Específica e Temporária da Educação, coordenada pelo MGI (Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos) com participação do MEC (Ministério da Educação) e de representantes dos docentes.
Reinaldo Benedito Nishikawa, diretor do IFPR – Londrina, destaca que durante a greve uma série de ações tem sido realizadas para chamar a atenção da população sobre as reivindicações dos trabalhadores que ultrapassam a recomposição salarial.
“A ideia também é trazer a sociedade civil para dentro das instituições para que entendam a importância desta paralisação que não é apenas em relação a salários, mas é uma recomposição e também de regime do trabalho tanto docente quanto dos técnicos. São várias pautas importantes que estamos lutando por quase dez anos para que haja uma melhoria na qualidade do trabalho docente e dos técnicos que vai, na verdade, afetar toda população”, diz.
Cinedebates sobre a repressão instaurada pela ditadura empresarial-militar, palestras sobre o sucateamento das universidades públicas além de atos que evidenciam as ofensivas em prol da mercantilização do ensino são exemplos de atividades que têm integrado a agenda de mobilização.
Ainda, de acordo com ele, as bases sindicais vão se reunir durante esta semana para avaliar o aceite ou recusa da proposta do poder Executivo. “É obvio que dentro destas propostas que foram feitas pelo governo há algumas divergências, alguns acham que é interessante, outros acham que não é justo. Vai ter um movimento político bastante importante dentro das bases para ver se vamos aceitar ou não”, indica.
Contraproposta para técnicos também é aguardada
Já representantes dos servidores técnicos administrativos em educação devem se reunir com membros do governo federal nesta próxima terça-feira (21) para discutir o andamento das negociações.
“Ao mesmo tempo em que esta proposta foi feita já para os servidores docentes, nós vamos aguardar também as propostas para os técnicos, estamos juntos. Não seria justo sairmos da greve sem uma proposta também para os técnicos administrativos. É importante que as duas bases sejam atendidas na sua totalidade ou em boa parte dela. Como os professores, assim que a proposta for feita, os técnicos vão se reunir com suas bases e vão tentar fechar o acordo ou não”, finaliza Nishikawa.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.