Palestra ocorre amanhã (27) e aborda Edital 02/22. Publicado pela SEED, o documento abre credenciamento para que grupos empresarias assumam a gestão de 27 escolas no estado
Na próxima quinta-feira (27), a partir das 19h, ocorre a palestra “Empresariamento das escolas públicas no Paraná: em pauta o Edital 02/22”. O documento publicado pela Secretaria de Estado de Educação e Esporte (SEED), sob a gestão de Ratinho Júnior (PSD), coloca 27 escolas estaduais à disposição para grupos privados que desejarem assumir a administração política e pedagógica das unidades.
O evento é organizado pelo Grupo de Pesquisa em Educação, Estado Ampliado e Hegemonias (GPEH), vinculado à Universidade Estadual de Londrina (UEL) e Grupo de Pesquisa Estado, Políticas e Gestão da Educação, associado a Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (Unicentro).
Adriana Medeiros Farias, professora do Departamento de Educação da UEL e uma das conferencistas, explica que a atividade é destinada a trabalhadores da educação, estudantes, demais membros das comunidades escolares, integrantes de movimentos sociais e a sociedade de maneira geral, visto a urgência de debater a proposta e criar estratégias que permitam combater mais esta incursão que busca privatizar a educação pública no Paraná.
A docente ressalta a necessidade de desconstrução de discursos neoliberais, responsáveis por equipar o direito à educação a circulação de mercadorias. Ela também destaca que a organização escolar é diferente da administração de uma empresa e, portanto, os espaços educativos não devem ser submetidos a lógicas que focalizem apenas cumprimento de metas em detrimento da aprendizagem efetiva. Entre as vantagens apresentadas pela direção de grupos empresariais está apontada “gestão com metas e desempenho”.
“Este projeto denominado “parceiro”, que está descrito no Edital 02/22, de credenciamento destas empresas para administrar estas escolas estaduais já demonstra, a partir desta experiência piloto, o caminho que este governo assumirá nos próximos quatro anos para a destituição dos fins públicos da educação pública. Nenhuma escola pode ser comparada ao funcionamento de uma empresa. Funcionamento este que tem como objetivo principal, anunciado pela SEED, elevação dos indicadores de avaliação da educação básica. Não é possível que os fins públicos da educação estejam condicionados ao cumprimento de metas, a relação custo-benefício, ao tratamento da escola pública como se fosse uma empresa que oferta produtos e serviços, com clientela”, observa.
Farias aponta, ainda, que este modelo está em conformidade com a concepção privatista de educação gratuita disseminado pelo governo de Jair Bolsonaro (PL). Esta visão reflete, por sua vez, no crescente sucateamento dos serviços públicos e desrespeito aos direitos sociais. A pesquisadora classifica o projeto como “dos mais nefastos” e evidencia a falta de diálogo com os profissionais da Educação e população, reafirmando o modo autoritário com que as políticas educacionais são encaminhadas pelo atual governador.
“Somente a educação pública é capaz de atender uma demanda fundamental que é do acesso e permanência à educação. É importante destacar que mais uma vez a população está sendo enganada, com uma proposta falaciosa que anuncia uma escola de qualidade, com uma série de benefícios que não serão cumpridos por esta forma de organização privatista da educação. Os únicos beneficiados com este projeto são os conglomerados empresariais educacionais que ganham duplamente com o recebimento de recursos públicos para administrar uma forma de educação empresarial que a própria SEED vem adotando na educação paranaense”.
Em Londrina, as escolas indicadas pela SEED são: Colégio Estadual Professora Lúcia Barros Lisboa, Colégio Estadual Professora Olympia Morais de Tormenta, Escola Estadual Rina de Francovig e Escola Estadual Roseli Piotto. Além da professora Adriana Medeiros Farias (UEL), participa da mesa Michelle Fernandes Lima, docente da Unicentro.
A discussão poderá ser acompanhada no canal do GPEH – Youtube:
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.