Negociações travadas e propostas abaixo da inflação levam bancários a intensificar mobilizações; paralisação geral pode ocorrer se o impasse persistir
Na última quarta-feira (21), o Comando Nacional dos Bancários rejeitou a proposta de reajuste salarial apresentada pela Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), considerada insuficiente. A proposta, apresentada no dia 14 de agosto, oferecia um reajuste abaixo da inflação, de 85% do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), resultando em uma perda salarial real de 0,57% para os bancários, em cálculo feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Laurito Porto de Lira, diretor de Formação do Sindicato dos Bancários de Londrina e Região, expressou a insatisfação da categoria com as negociações, após a Fenaban culpar bancos menores e a concorrência como justificativas de um reajuste abaixo do esperado.
“Mesmo durante a pandemia, os bancos continuaram a apresentar lucros expressivos. Não há justificativa para uma proposta tão aquém das expectativas, especialmente, considerando o papel crucial desempenhado pelos bancários no fortalecimento do setor financeiro”, afirma Laurito.
Mobilizações em Londrina e ameaça de greve
Diante do impasse, os bancários têm intensificado as mobilizações em diversas regiões do país. Em Londrina, a categoria está engajada em ações de conscientização e já realizou paralisações pontuais, como no Banco Santander, onde foram denunciadas práticas crescentes de terceirização.
As discussões e mobilizações seguem ativamente, com os representantes locais participando das mesas de negociação e organizando os trabalhadores para ações futuras. Laurito, destaca as ações realizadas pelo Sindicato na região de Londrina.
“A gente tem realizado as conversas junto a base para poder esclarecer, informá-los, através das nossas redes sociais ou presencialmente através dessas mobilizações, e indo presencialmente nas agências e nos departamentos dos bancos aqui em Londrina, tentamos fazer com que os bancários entendam o que está acontecendo e participem dos atos que nós convocamos para demonstrar força e insatisfação diante da não apresentação de uma proposta decente do empregador”, pontua.
A liderança destacou, ainda, que uma greve geral não está descartada. “Se o impasse continuar e não houver uma proposta decente por parte dos bancos, poderemos ter uma greve geral”, relata.
Violência policial em protesto
Durante protesto pacífico realizado no Banco Santander, na última quinta-feira (22), em São Paulo, contra as práticas de terceirização, a Polícia Militar agiu com violência contra os manifestantes. O protesto, que tinha como objetivo denunciar a precarização do trabalho bancário e a terceirização de atividades , acabou resultando em agressões físicas e prisões, apesar de ter sido conduzido de forma pacífica pelos profissionais.
Laurito comentou o episódio, classificando-o como “um ato de violência desnecessária e inaceitável”. Segundo ele, a resposta violenta do Santander ao movimento legítimo dos trabalhadores apenas reforça a necessidade de união e resistência da categoria.
Lucros dos bancos contrastam com a proposta de reajuste
Um dos principais pontos de indignação da categoria é a disparidade entre os lucros crescentes dos bancos e a proposta de reajuste salarial abaixo da inflação. De acordo com matéria publicada do Valor Econômico, na última quarta (21), sete das dez maiores empresas com lucros trimestrais no Brasil pertencem ao setor financeiro, sendo cinco delas bancos: Itaú, Banco do Brasil, Bradesco, Santander e BTG. Essa realidade contrasta fortemente com a oferta feita pela Fenaban, o que alimenta a insatisfação dos bancários.
Próximos passos
Com o impasse nas negociações, a insatisfação dos bancários com a proposta da Fenaban aumenta, Laurito destaca que a categoria tem se sentido desrespeitada pelos bancos e frustrada pelo aumento da terceirização e cobrança excessiva por resultados.
“A categoria está se sentindo desrespeitada, especialmente depois dos esforços durante a pandemia, quando os trabalhadores bancários continuaram a entregar resultados significativos. Vamos continuar a mobilização e, se necessário, entraremos em greve para garantir nossos direitos”, conclui Laurito.
A rejeição da proposta fez com que o Comando Nacional dos Bancários aprovasse um dia nacional de mobilização para dia 26 de agosto, com paralisação parcial nos locais de trabalho. Além disso, a categoria também se organiza para uma série de plenárias e lives ao longo da semana, visando fortalecer a unidade dos bancários e preparar os próximos passos nas negociações, que serão retomadas nesta terça-feira (27).