Segundo entidade, dois homens atiraram contra um grupo que estava acampado na Zona Sul de Boa Vista
A Hutukara Associação Yanomami (HAY) publicou uma nota neste sábado (12) pedindo a investigação do assassinato de uma indígena por dois homens, na noite desta sexta-feira (11), no bairro São Vicente, na Zona Sul de Boa Vista, em Roraima. O caso foi registrado como homicídio no 3º Distrito Policial, sob investigação da Polícia Civil.
De acordo com a associação, dois homens passaram de bicicleta e atiraram contra um grupo de indígenas acampados na avenida Venezuela. Dois dos disparos atingiram uma mulher na cabeça, que morreu no local. Um homem foi socorrido e está internado no Hospital Geral de Roraima.
“As autoridades precisam investigar com diligência os responsáveis pelos ataques e o que os motivou. A disposição em assassinar indígenas de passagem pela cidade, reunidos pacificamente em local público, configura crime de ódio e deve ser investigado como tal”, disse a organização dirigida por Dario Yanomami, filho do líder Davi Kopenawa.
O Conselho Indígena de Roraima (CIR) se somou à Hutukara Associação Yanomami e pediu uma “investigação minuciosa” sobre o caso, “que não deverá e nem pode ficar impune, pois uma criança está órfã e uma família perde um de seus membros em um ato covarde e sem precedentes, novamente a um povo que saiu de suas terras devido ao contato forçado com invasores e garimpeiros onde perderam parte de suas terras, e sua territorialidade ancestral”.
A Hutukara Associação Yanomami afirma que o caso faz parte de um ciclo de ódio e violência contra os povos indígenas. O grupo que sofreu o ataque pertence à região do Ajarani, no sul de Roraima, que vem sendo ocupada por não-indígenas desde a década de 1970, com a construção da perimetral Norte (BR-210), que avançou cerca de 100 quilômetros pelas terras tradicionais dos Yanomami. Com o avanço sobre as terras, os indígenas foram obrigados a se deslocar para outras regiões.
“A presença do grupo de yanomamis que foi alvo de ataques na cidade [de Boa Vista] tem sido constante motivo de queixas preconceituosas contra os mesmos, ignorando não só a situação de vulnerabilidade a que ficam sujeitos quando estão na cidade, como também alimentam a discriminação contra os indígenas em razão de suas particularidades culturais e modos de vida”, destaca a organização.
“Não é admissível que a cidade, capital do estado de maior presença de indígenas em relação ao total da população, permaneça como lugar de hostilização e ataques contra indígenas que nela circulam. Ao contrário, a Funai e demais órgãos públicos precisam criar condições para que este e outros grupos de passagem tenham um local de referência com boas condições para recebê-los durante sua estadia na cidade enquanto encaminham questões de seu interesse.”
Fonte: Brasil de Fato