Requião Filho protocolou pedido de esclarecimentos ao governo do Paraná sobre as possíveis irregularidades na loteria
As investigações envolvendo o gerenciamento da Loteria do Estado do Paraná (Lottopar) trazem à tona uma conexão entre o poder público, empresas privadas e um esquema de lavagem de dinheiro que pode ter repercussões de grande impacto no cenário político do estado. No centro das denúncias está a empresa Paybrokers, que venceu a licitação de R$ 167 milhões para gerir a Lottopar por 20 anos, mas que agora se encontra na mira da Polícia Federal (PF) por suspeita de envolvimento em atividades ilícitas.
O deputado estadual Requião Filho, um dos principais críticos do processo de concessão da Lottopar, protocolou, nesta semana, um pedido de esclarecimentos ao governo do Paraná sobre as possíveis irregularidades na gestão da loteria estadual. Segundo o parlamentar, o governo estadual pode ter ignorado sinais de alerta sobre a atuação da Paybrokers, empresa agora investigada pela PF por suspeita de lavagem de dinheiro e outras atividades ilegais.
“Há uma série de questionamentos que precisam ser respondidos, especialmente se o governo tinha ciência das atividades suspeitas da Paybrokers antes de conceder a gestão da Lottopar. Não podemos permitir que uma empresa envolvida em escândalos dessa magnitude siga operando em nosso estado sem uma resposta clara do governo”, declarou Requião Filho.
Lavagem de dinheiro
A operação da Polícia Federal, que revelou o uso de casas de câmbio e empresas de eventos para movimentar dinheiro proveniente de jogos ilegais, acendeu um alerta sobre a influência dessas práticas no Paraná. Entre os investigados está Edson Lenzi, sócio da Paybrokers e doador de R$ 400 mil para a campanha de Ratinho Junior, atual governador do estado. Lenzi foi apontado pela PF como envolvido no esquema de lavagem de dinheiro, o que intensificou os questionamentos de Requião Filho sobre a licitação.
“Lá atrás, nossas denúncias foram ignoradas pelo Ministério Público. Não dá pra entender como algo grave assim é simplesmente deixado de lado, sem nenhuma investigação adequada”, afirmou o deputado estadual. A concessão da Lottopar à Paybrokers, mesmo com alertas prévios sobre as atividades da empresa, coloca o governo estadual em uma posição delicada, especialmente com o avanço das investigações”.
A operação da PF, que já resultou em 19 mandados de prisão, incluindo o da advogada e influencer Deolane Bezerra, destacou a amplitude do esquema. Empresas como a Paybrokers, ao atuarem em jogos online e apostas esportivas, tornaram-se alvos de um esforço nacional para coibir a lavagem de dinheiro por meio dessas plataformas.
Casas de Apostas na mira
Paralelamente, o governo federal também está intensificando sua atuação contra irregularidades nas casas de apostas esportivas. A Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda, em portaria publicada no Diário Oficial da União, estabeleceu um prazo até 1º de outubro para que empresas de apostas de quota fixa iniciem sua regularização. As empresas que não cumprirem essa exigência terão seus sites bloqueados e seus aplicativos removidos a partir de 11 de outubro. A medida, segundo Regis Dudena, secretário da pasta, visa proteger os apostadores e coibir fraudes e lavagem de dinheiro associadas a essas atividades.
A Paybrokers, que já está envolvida no gerenciamento da Lottopar, está entre as empresas que precisarão se adequar às novas exigências do governo federal. O controle mais rígido sobre as atividades das casas de apostas reflete um esforço conjunto entre o Ministério da Fazenda e a Polícia Federal para garantir a transparência no setor e evitar que ele seja utilizado como ferramenta para crimes financeiros.
“Queremos proteger a saúde mental, financeira e física do apostador, coibindo a atuação de empresas que utilizam as apostas esportivas e os jogos on-line como meio de cometer fraudes e lavagem de dinheiro”, destacou Dudena em um comunicado oficial.
Pressão
Com o aumento da pressão política em torno da regulação das apostas esportivas, figuras como a deputada Gleisi Hoffmann também se manifestaram contra a publicidade desses serviços. Hoffmann apresentou um projeto de lei que veda a comunicação e a publicidade das chamadas “bets”, as apostas de quota fixa, alegando que a exposição excessiva a esses conteúdos está levando a um aumento preocupante de vícios em jogos de azar no Brasil.
“As apostas online movimentaram mais de R$ 50 bilhões só em 2023, e isso precisa ser regulamentado de forma a proteger o público mais vulnerável. Essas empresas utilizam a publicidade de maneira agressiva, criando um ambiente que normaliza o jogo de azar, especialmente entre os jovens”, argumentou Hoffmann em sua justificativa.
O projeto de lei propõe que a publicidade de apostas esportivas seja tratada com a mesma severidade que a propaganda de bebidas alcoólicas e cigarros, visando mitigar os impactos sociais do jogo compulsivo. Caso aprovado, o projeto poderá afetar significativamente o modelo de negócios de empresas como a Paybrokers, que depende em grande parte da publicidade para atrair novos usuários.
Impactos
A correlação entre as investigações sobre a Lottopar e as medidas regulatórias impostas pelo governo federal sugere que o setor de apostas esportivas está passando por um escrutínio sem precedentes no Brasil. O envolvimento de uma empresa como a Paybrokers, tanto na gestão da Lottopar quanto em esquemas de lavagem de dinheiro, levanta questões sobre a transparência e a ética das licitações públicas, especialmente em um setor tão lucrativo e controverso quanto o das loterias e apostas esportivas.
O governo do Paraná tem até 45 dias para responder aos questionamentos de Requião Filho, mas as implicações dessas investigações podem reverberar por muito mais tempo, especialmente se forem encontradas irregularidades que envolvam outras figuras públicas e empresas de apostas. Enquanto isso, o cerco se fecha cada vez mais sobre as apostas esportivas no Brasil, e o Paraná parece estar no centro dessa tormenta.
Fonte: Brasil de Fato Paraná