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Julho das Pretas: educação é pilar na luta contra a discriminação de raça e gênero

Principalmente na educação, heroínas que ficaram gravadas na história, intelectuais e ativistas negras são fundamentais para criar um vínculo entre o(a) aluno(a) e a memória

Celebrado no dia 25 de julho, o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana Caribenha não traz à tona apenas o debate sobre raça, gênero e perspectivas para a redução da desigualdade existente no país, mas também, como as referências negras são importantes para essa discussão.

A data é uma oportunidade para jogar luz sobre o tema, já que os dados sobre a violência e desigualdade atingem diretamente a população negra, principalmente as mulheres. De acordo com a Associação de Mujeres Afro, na América Latina e no Caribe, 200 milhões de pessoas (54% da população)  identificam-se como negras, porém, no Brasil são elas as que mais sofrem com a pobreza, falta de educação formal e emprego.

O PNAD de 2022 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) aponta que no Brasil, as mulheres negras são o maior grupo populacional, 60,6 milhões, sendo 11,30 milhões de mulheres pretas e 49,3 milhões de mulheres pardas que respondem por mais de 28% da população total.

Para além de dados que evidenciam um contexto de violências e desigualdade, é necessário a partir da educação construir um futuro onde jovens negras possam esperançar e quebrar paradigmas pré-estabelecidos pelo racismo, machismo, LGBTIfobia e capacitismo.

Principalmente na educação, heroínas que ficaram gravadas na história, intelectuais e ativistas negras são fundamentais para criar um vínculo entre o(a) aluno(a) e a memória daquelas que lutaram para construir um país mais igualitário.

A Professora Doutora na graduação e pós-graduação em educação, Megg Rayara Gomes de Oliveira, aponta que é fundamental que crianças negras e brancas tenham acesso à história de mulheres negras, sejam elas cisgêneras ou trans, que contribuíram e continuam contribuindo para a formação de nossa sociedade.

“Ao longo da minha formação escolar, da educação básica até o final da graduação, não tive acesso a história de nenhuma mulher negra, brasileira ou estrangeira. Quando assuntos relativos à história e cultura africana eram abordadas, reiteraram visões estereotipadas e preconceituosas a respeito da população negra”, explica a educadora.

A educadora reforça que a data permite e facilita ampliar o debate sobre as interseccionalidades da luta antirracista.

“Essa data destaca o fato de que o racismo opera de maneira diferente entre homens e mulheres; entre pessoas cis e pessoas trans; entre mulheres negras cis heteras e mulheres negras cis lésbicas, e assim por diante. Essa data possibilita chamar a atenção para o fato de que a população negra é diversa e que a luta contra o racismo precisa vir acompanhada da luta contra o machismo, contra a transfobia, contra a lesbofobia”, completa.

Foto: Samira Chami Neves / Sucom

Cabe reforçar que Megg Rayara Gomes de Oliveira foi pioneira ao ser a primeira travesti negra a receber o título de Doutora no Brasil. Doutora em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), a tese da educadora abordou temas como racismo e homofobia na educação.

“É fundamental que mulheres negras, cis e trans, sejam lembradas o ano todo, mesmo porque existimos, resistimos e produzimos o ano todo. É fundamental que crianças negras se reconheçam positivamente em outras pessoas negras e a escola pode contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e plural”, salienta.

A doutora cita ainda algumas de suas referências que foram fundamentais em sua trajetória. ”Entender o feminismo negro e como ele se articulava contra vários sistemas de opressão foi fundamental para minha formação profissional. Hoje utilizo muitas pesquisadoras negras nas minhas aulas, cis e trans: Lélia González, Beatriz Nascimento, Jurema Werneck, Maria Aparecida Silva bento, Conceição Evaristo, Nilma Lino Gomes, Marcilene Garcia de Souza, Jéssica Santana Bruno, Fran Demétrio, Letícia Nascimento, Jaqueline Gomes de Jesus, Sueli Carneiro, Bell hooks, Angela Davis, Oyèrónké Oyěwùmí, etc”, finaliza Megg.

Julho das Pretas

O Julho das Pretas remete ao dia 25 de julho, quando é comemorado o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. A data foi sancionada através da Lei nº 12.987/2014, que entrou em vigor no dia 02 de junho de 2014. 

Tereza foi líder e rainha do quilombo Quariterê no século XVIII. Por meio da sua liderança, resistiram à escravidão por duas décadas até que o acampamento foi arrasado por forças do Estado a mando de Luiz Pinto de Souza Coutinho, então governador da capitania do Mato Grosso. Os registros históricos apontam que parte da população foi exterminada enquanto outra aprisionada.

A homenagem à Tereza de Benguela foi inspirada no Dia da Mulher Afro-Latino-Americana e Caribenha, marco internacional da luta e da resistência da mulher negra, criado em 25 de julho de 1992, durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, na República Dominicana.Em Curitiba, diversas atividades estão sendo realizadas em prol da data. A secretária de Promoção de Igualdade Racial e Combate ao Racismo da APP, Julia Maria Moraes, reforça que é importante a participação dos(as) educadores(as) nas agendas.

“Dia 25 de julho é o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Caribenha para continuar mostrando resistência e é isso que a gente mais faz. Durante esse mês de julho, sendo Julho das Pretas, várias atividades são realizadas em todo Brasil e em Curitiba não é diferente”, explica Julia.

Confira a programação do Julho das Pretas aqui

Lista de sugestões de conteúdo para salas de aula

Filmes

Mulher Rei – Gina Prince-Bythewood – 2022

A Mulher Rei acompanha Nanisca (Viola Davis) que foi uma comandante do exército do Reino de Daomé, um dos locais mais poderosos da África nos séculos XVII e XIX. Durante o período, o grupo militar era composto apenas por mulheres que, juntas, combateram os colonizadores franceses, tribos rivais e todos aqueles que tentaram escravizar seu povo e destruir suas terras.

Documentários

Olhos Azuis (1968) – de Jane Elliott

ganhador do Emmy, o documentário registra o experimento desenvolvido pela professora e socióloga estadunidense Jane Elliott. Durante duas horas, pessoas que têm olhos azuis são separadas dos demais e bombardeadas por um tratamento discriminatório e ofensivo normalmente reservado para minorias.

AmarElo (2020) – É Tudo Pra Ontem – de Emicida

Muito mais do que mostrar os bastidores de um show impecável no Theatro Municipal de São Paulo, o documentário resgata a importância e o legado da cultura e do movimento negro no país.

(trans)fobias (2014) – de Yan Teixeira 

O documentário aborda as opressões diárias sofridas por pessoas trans e travestis. Vivências que raramente uma pessoa cisgênera enfrenta.

Tia Ciata – (2017) – Raquel Beatriz, Mariana Campos

O documentário aborda o protagonismo feminino negro sob a ótica de Hilária Batista de Almeida, a Tia Ciata, uma mulher de suma importância para a história e a cultura brasileiras.

Livros

Mulheres, Raça e Classe (1981) – Angela Davis

Livro da lendária militante antirracista, o livro discorre sobre as relações entre opressão de gênero raça e classe, com base na teoria feminista-marxista. 

Quarto do Despejo (1960) – Carolina de Jesus

O livro reproduz o diário de Carolina de Jesus, em que ela narra o seu dia a dia nas comunidades pobres da cidade de São Paulo. Em seu relato, ela descreve a dor, o sofrimento, a fome e as angústias dos favelados e mudanças pelas quais passavam as favelas neste momento.

Ponciá Vicêncio (2003) – Conceição Evaristo

A obra narra a trajetória de Ponciá Vicêncio, uma mulher negra, desde sua infância até a idade adulta. A narrativa, feita em flashbacks, descreve a infância da menina na vila junto da mãe e do artesanato com o barro que elas fazem. 

Heroínas Negras Brasileiras em 15 Cordéis (2020) – Jarid Arraes

O livro é resultado de anos de pesquisa da autora, que se dedicou em recuperar e recontar histórias de heroínas negras brasileiras como Tereza de Benguela, Luiza Mahin, Carolina de Jesus, Eva Maria do Bonsucesso e outras.  

Caderno Pedagógico Oralidades Afrobrasileiras (2018) – Edna Aparecida Coqueiro; Melissa Reinehr; Adegmar J. Silva

O material cumpre o que preconiza a Lei 10.639/2003, que é o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana, que torna o estudo do tema obrigatório nas instituições de ensino.


Fonte: APP-Sindicato

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