Ato no Calçadão de Londrina, organizado pelos estudantes da UEL e UTFPR, contou com a participação da população e destacou outros retrocessos como aumento do desemprego e fome
Ontem (18), estudantes ocuparam as ruas de Londrina para denunciar o sucateamento da educação pública. Atos, realizados em diversas cidades do país, foram chamados pela União Nacional dos Estudantes (UNE) após anúncio de corte de mais de R$ 2 bilhões das verbas destinadas às universidades e institutos federais pelo governo de Jair Bolsonaro (PL).
Em Londrina, a manifestação foi organizada pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Estadual de Londrina (UEL) juntamente com discentes da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
Murilo Camilo, assistente social, residente do Programa em Saúde da Família da UEL esteve no Calçadão e durante fala aos participantes destacou o desmonte que também atinge cursos de pós-graduação em todas as áreas do conhecimento.
“O atual governo tem feito cortes de 60% nas residências profissionais [modalidade de curso em nível de pós-graduação voltado às áreas da Saúde]. Isto significa que teremos menos vagas para capacitação de profissionais para atuarem no SUS [Sistema Único de Saúde]. Com isso, há uma superlotação e demora nos atendimentos e precarização do trabalho para os profissionais da Saúde”, ressalta.
Gabriel Santana, estudante de Direito da UEL e membro do DCE, lembrou dos diversos retrocessos de direitos em curso e que atingem, principalmente, a classe trabalhadora e grupos subalternizados, a exemplo do confisco dos recursos da Farmácia Popular. O projeto de orçamento para 2023 enviado pelo governo de Bolsonaro ao Congresso Nacional estabelece corte de 59% dos investimentos do Programa.
“É fundamental que os estudantes se posicionem, saíam as ruas para mostrar sua indignação, o quanto repudiam este governo que promove um desmonte da educação pública, o que é um projeto, até porque ‘quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é se tornar o opressor’, ele avalia.
Na última segunda-feira (17), durante assembleia, estudantes da UEL aprovaram, por unanimidade, nota na qual expressam apoio à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à presidência da República. O segundo turno das eleições ocorre no próximo dia 30 de outubro. Confira o documento aqui.
Julie Costa, aluna da UTFPR, salientou que as universidades federais têm passado por crescente processo de sucateamento. Ela cita a falta de equipamentos e insumos para o desenvolvimento das pesquisas e pontua que o apoio tem chegado, sobretudo, da iniciativa privada devido à negligência do Estado. Para Costa, as dificuldades além de afetar os estudantes, traz prejuízos para a população.
“Em busca dos direitos estudantis acima de tudo, nós da UTFPR estamos aqui em prol disso. A universidade federal é, principalmente, voltada para o desenvolvimento da ciência e tecnologia. Para ter qualquer tipo de avanço econômico, social, tecnológico, a gente precisa de pesquisa. Precisamos de cientistas trabalhando”.
Lenir de Assis, vereadora na cidade pelo Partido dos Trabalhadores (PT) foi a única parlamentar da Casa que compareceu ao ato. Ela evidenciou a importância da juventude e movimento estudantil para a defesa da democracia em diversos períodos da história como este momento, marcado pelo avanço da extrema-direita e de projetos neoliberais que penalizam os grupos mais vulnerabilizados.
“Fundamental esta manifestação, ainda mais neste momento crucial que estamos vivendo hoje. É primordial que a juventude se coloque em um lugar que é dela, que é a luta, na rua, na defesa de seus direitos. A juventude tem perdido muito, mas é essencial se posicionar. Parabenizo os estudantes. É com luta e ousadia que nós venceremos”, avaliou a vereadora.
Tabata Rosa, professora da educação básica, também assinalou o desrespeito da gestão de Bolsonaro aos direitos humanos. “Além da gente barrar os cortes, precisamos defender um projeto de educação que seja voltado para o povo e de qualidade, sem esta destruição que está precarizando a formação da juventude da classe trabalhadora. Tantos ataques aos servidores públicos. Estamos nas ruas para denunciar o Bolsonaro e esta política de morte”, afirma.
O plano de governo de Jair Bolsonaro registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) não cita as populações negra e LGBTQIA+.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.