Casos de violência política batem recorde nas eleições municipais de 2024
Na última quinta-feira (17), a produtora, espaço onde são criados programas de rádio e TV bem como materiais para as redes sociais veiculados pela campanha da candidata à Prefeitura de Londrina, Professora Maria Tereza (PP), foi alvo de um mandado de busca e apreensão.
Segundo Guilherme Gonçalves, advogado e coordenador jurídico da campanha de Maria Tereza, a candidatura do oponente, Tiago Amaral (PSD) levantou a acusação de que o ambiente constituiria uma espécie de “comitê do ódio”, responsável por disseminar notícias falsas.
“Tentaram primeiro na 42ª Zona Eleitoral, mas a juíza entendeu que a competência era da 41ª Vara Eleitoral. O juiz da 41ª, por sua vez, simplesmente extinguiu, por entender que não tinha nada a ver. Pela terceira vez, eles tentaram, na 157ª Zona Eleitoral, induzir o juiz em erro, pedindo um mandado de busca e apreensão, no lugar que eles diziam que era o comitê do ódio”, explica.
“Mas, na verdade, é onde fica a produtora, o estúdio de TV para gravação dos programas, as ilhas de edição, o pessoal das redes sociais. Enfim, a gestão da campanha, que fica no comitê, porque exige um pouco mais de sigilo, era esse local que não é comitê do ódio”, complementa Gonçalves.
De acordo com o jurista, durante a inspeção, chegaram a acusar pessoas que não tem vinculação com a campanha. “Produziram uma grande fake news. A fake news, a falsidade, na verdade, foi dessa busca apreensão”, assinala.
Gonçalves pontua que nada foi encontrado pelos oficiais de justiça. Para ele, a ofensiva buscou acessar informações estratégicas e sigilosas, além de tentar empastelar a campanha da candidata.
Prática recorrente durante o golpe empresarial-militar de 1964, o “empastelamento” consiste em tentar impor, de forma violenta, silêncio a um meio de comunicação pela destruição de seus equipamentos.
“Mas ainda bem que a justiça foi cautelosa e só determinou a verificação se havia algum tipo de produção de fake news, e essa medida resultou infrutífera, porque de fato não tem nenhum tipo, não é essa a estratégia da campanha da Maria Tereza”, adverte.
Em resposta à reportagem, os advogados de Tiago Amaral, por meio de assessoria, informaram que “o processo está em curso e é licito, mas está por protegido por sigilo e relatos podem ser considerados violação do sigilo processual”.
“Eles dizem que o processo é sigiloso, mas na hora que eles estavam fazendo um escândalo lá na frente [da produtora], chamaram toda a imprensa para filmar, vários repórteres estavam lá. Que sigilo é esse? Eles violaram o sigilo”, rebate Gonçalves.
Tiago Amaral e Professora Maria Tereza receberam 42,69% e 23,64% dos votos respectivamente e disputam o segundo turno, que ocorre no próximo domingo (27).
Intimidações crescem
Ainda, o advogado pontua que as perseguições à campanha de Maria Tereza têm aumentado neste segundo turno. “Até essa busca e apreensão, já houve outros episódios de robôs invadindo a rede social da candidata Maria Tereza e derrubando o Instagram por algumas horas. Já tínhamos recebido informações de estarem seguindo a candidata”, relata.
Os ataques, segundo ele, também têm sido direcionados a familiares da candidata. “Nós tivemos que requisitar segurança especial para a mãe da candidata e ela está muito assustada porque nunca tinha visto uma situação dessa”, compartilha.
A mãe da ex-secretária de Educação e atual prefeiturável possui 68 anos e reside em Ourinhos, cidade localizada no interior de São Paulo, a aproximadamente 160 KM de Londrina.
“E essa busca e apreensão, da forma como foi articulada, demonstra que a truculência está sendo regra geral na campanha. Eu tenho 30 anos de direito eleitoral, advogo desde 1995, nunca tinha presenciado um episódio desse, entre as inúmeras campanhas de prefeito, governador, que já participei”, reflete Gonçalves.
As eleições municipais de 2024 é umas violentas já registradas desde a redemocratização do país. Segundo um levantamento do Grupo de Investigação Eleitoral da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Giel/Unirio), neste ano, os casos de violência política bateram recorde.
Ao menos 338 casos de violência aconteceram entre julho e setembro deste ano, durante a campanha eleitoral para prefeitos e vereadores. Em 2022, foram 263 ocorrências.
Franciele Rodrigues
Jornalista e cientista social. Atualmente, é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Estadual de Londrina (UEL). Tem desenvolvido pesquisas sobre gênero, religião e pensamento decolonial. É uma das criadoras do "O que elas pensam?", um podcast sobre política na perspectiva de mulheres.