Cerca de 3,7 mil famílias vivem em imóveis totalmente irregulares na cidade
Dona Irene Teodoro Rocha não lembra ao certo quando saiu da roça com a mãe, o pai e um filho para viver na cidade. Como milhares de outras pessoas na região, ela foi obrigada a deixar o campo. “Foi acabando o trabalho no sítio porque entrou um monte de maquinário, que foi tirando nosso serviço”, conta.
A solução que a família encontrou foi ocupar um terreno no local que hoje é chamado de Vila Marísia, à margem da Avenida Brasília, próximo à Dez de Dezembro.
Dona Irene, que hoje tem 64 anos, também não recorda o ano que o marido dela recebeu a escritura da casa onde mora atualmente na mesma vila. Mas lembra bem da insegurança que sentia nos muitos anos em que viveu em habitação irregular, com medo de ser despejada a qualquer hora.
Assim como ela esperou muito tempo para morar “legalmente”, hoje existem mais de 3,7 mil famílias nessa situação, segundo a Companhia de Habitação (Cohab) de Londrina. Elas ocupam 65 áreas irregulares, sendo apenas oito particulares.
A ocupação mais antiga tem 56 anos. São terrenos localizados na Vila Marízia II, perto de onde vive a dona Irene, onde os primeiros moradores chegaram, em 1966. Hoje, são 68 famílias que ainda vivem em situação irregular no bairro.
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A segunda ocupação mais antiga é a do Fundo de Vale Jardim Sérgio Antônio, de 1973, na região Leste da cidade. Ali, ainda estão 51 famílias.
Já a ocupação mais recente, segundo a Cohab, é a da Rua Francisco Mendes, na Zona Norte. Para o terreno da Prefeitura, se mudaram seis famílias no ano passado.
Segundo a Cohab, o Jardim União da Vitória (Zona Sul) abriga hoje o maior número de famílias vivendo em moradias irregulares. São 716. O Município já regularizou os jardins União da Vitória I e II e as áreas ainda irregulares foram batizadas por moradores como União V e União VI.
Ocupações ocorrem no ritmo da economia
O ano de 2016 foi marcado por várias ocupações. Entre elas, uma das maiores e mais emblemáticas da cidade, o Residencial Flores do Campo (zona norte), onde estão hoje 361 famílias. Era um projeto do Minha Casa, Minha Vida abandonado pela construtora que foi à falência.
Mas já teve época pior. A segunda metade dos anos 1980 e toda a década de 1990 são o período em que as ocupações se tornaram mais frequentes na cidade. Foram 36.
Já o início deste século teve poucos casos. Durante nove anos (2003 a 2011), houve apenas uma ocupação, a do Morro do Carrapato, numa área particular da zona leste, para onde se mudaram 16 famílias em 2007.
A partir de 2014, as ocupações voltaram à tona. “A evolução das ocupações em Londrina está diretamente relacionada com a situação social, política e econômica do País. Dessa forma, o fortalecimento do setor econômico e das políticas sociais de habitação contribuem para reduzir esse problema”, afirma o diretor Técnico da Cohab, Luiz Cândido de Oliveira.
Segundo ele, entre os anos de 2009 e 2015, foram entregues mais de 5 mil unidades habitacionais para famílias pobres, sendo cerca de 4,5 mil com renda de até R$ 1,8 mil. “Das famílias contempladas, mais de 2,3 mil vieram de áreas irregulares, fato que contribuiu para uma redução de ocupações nesse período”, alega.
Cohab regulariza 13 áreas
De acordo com o diretor da Cohab, atualmente há 13 áreas em processo de regularização pela companhia. “Serão beneficiadas aproximadamente 730 famílias. Desde 2012 – incluindo essas que estão sendo regularizadas agora – serão 1.573 famílias, algo em torno de 4.800 pessoas”, conta.
Conforme explica Oliveira, nem toda área ocupada é legalizável. Não é possível regularizar áreas de preservação ambiental (fundos de vale) e locais impossibilitados de receber infraestrutura como saneamento básico e asfalto.
“Nesses casos, a alternativa tem de ser o remanejamento das famílias para programas habitacionais.”
As 13 áreas que estão atualmente em processo de regularização são o Jardim Shekinah (parte 2), a Vila Marízia II, o Jardim Cristal, uma área remanescente do Vivi Xavier, e os jardins Santa Luzia (Guaravera), Monte Cristo, Marieta, São Rafael II, Alto da Boa Vista, Nova Conquista, Nova Esperança e Morar Melhor.
Fonte: Rede Lume