O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse em pronunciamento na noite deste domingo (2), após a confirmação de que irá ao segundo turno da eleição contra o presidente Jair Bolsonaro (PL), que a nova rodada da disputa é uma prorrogação e que usará o que chamou de “segunda chance” para ampliar alianças e amadurecer propostas.
Com mais de 97% das urnas apuradas, o petista se aproximava de 48%, ante quase 44% de Bolsonaro, que registrou um desempenho superior ao que previam as pesquisas encerradas na véspera. O tom geral do petista e dos aliados é o de que a candidatura venceu neste domingo e será novamente vitoriosa.
“Isso para nós é apenas uma prorrogação”, discursou Lula, minimizando a distância curta que o adversário conseguiu impor. Após a fala, ele seguiu para a avenida Paulista, onde disse a uma multidão de apoiadores que é “apenas uma questão de tempo” o PT ganhar as eleições.
O petista disse ainda que nunca venceu uma eleição no primeiro turno e que gostaria de ter ganhado já na rodada inicial do pleito, “mas nem sempre é possível”, e “a luta continua até a vitória final”.
“Toda eleição que eu disputei foi no segundo turno, todas. O segundo turno é a chance de você amadurecer as suas propostas e a sua conversa com a sociedade”, continuou ele, descrevendo as próximas quatro semanas como um período para “construir um leque de alianças e apoios antes de você ganhar”.
“Para desgraça de alguns, eu tenho mais 30 dias para fazer campanha. Eu adoro fazer campanha, […] e vai ser importante porque vai ser a primeira chance de a gente fazer um debate tête-à-tête com o presidente da República, para saber se ele vai continuar contando mentiras ou se vai pelo menos uma vez na vida falar a verdade com o povo brasileiro”, afirmou.
“Acho que é uma segunda chance que o povo brasileiro me dá. […] Eu sempre achei que a gente ia ganhar essas eleições. E quero dizer para vocês que nós vamos ganhar essas eleições”, prosseguiu, defendendo bandeiras de campanha como o combate à pobreza e a retomada econômica.
Lula acompanhou a apuração em um hotel no centro de São Paulo. Ele falou à imprensa e aos correligionários no auditório do local. A seu lado no palco estavam a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e o candidato a vice, Geraldo Alckmin (PSB), entre outros.
Gleisi também fez uma fala na intenção de manter a militância engajada. “Se acharam que estávamos tristes ou abatidos, erraram. Estamos fortes e firmes”, disse ela. “Nós cumprimos o nosso objetivo de atingir um percentual de votos […] imenso da sociedade brasileira.”
A dirigente se declarou confiante em vitória no segundo turno, convocou “para a luta” e afirmou que a campanha do PT lutou “contra uma máquina muito grande”, baseada em mentira, violência e dinheiro. “Mas isso não vai nos derrotar. Não nos derrotou até aqui.”
Alckmin, na mesma linha de Gleisi, procurou demonstrar ânimo. “Nós estamos em festa. Fomos para o segundo turno, [em] primeiro lugar, mais de 5 milhões de votos de frente, e agora já é começar a segunda tarefa, que é ganhar a eleição, salvar a democracia e fazer o Brasil voltar a crescer.”
O candidato da coligação ao Senado por São Paulo, Márcio França (PSB), não participou do pronunciamento. O ex-governador perdeu a vaga para o bolsonarista Marcos Pontes (PL).
O ex-presidente disse que começará a campanha de segundo turno já nesta segunda-feira (3) e pediu empenho dos aliados. Dirigindo-se ao candidato do PT ao Governo de São Paulo, Fernando Haddad, que estava no palanque, ele disse: “Vamos ganhar em São Paulo e vamos ganhar no Brasil”.
Haddad enfrentará no segundo turno o bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos).
“São Paulo será um grande palco de um confronto nacional e estadual. É um confronto de ideias, programático, de propostas para a sociedade. E eu estou disposto a fazer tudo que for possível”, afirmou Lula.
Ao agradecer aos eleitores por “mais esse gesto de generosidade”, Lula falou que quatro anos atrás, em 2018, quando foi preso, ele era tido “como se fosse um ser humano jogado fora da política”. “Eu disse que a gente retornaria e com mais força, mais vontade e mais disposição.”
As três primeiras fileiras de cadeiras do auditório ficaram reservadas para familiares e aliados do ex-presidente. Apoiadores de sua candidatura como a cantora Daniela Mercury, o comediante Paulo Vieira, a chef Bela Gil, a historiadora Lilia Schwarcz e o advogado Silvio Almeida estavam no espaço para convidados.
Cerca de 400 jornalistas foram credenciados para a cobertura. Como a Folha mostrou, o ex-presidente estava sereno enquanto acompanhava a apuração, e aliados demonstravam apreensão, segundo presentes. Por volta das 20h, Lula caminhava pelo salão, enquanto, impávido, Alckmin acompanhava a evolução dos números pelo celular.
Depois de falar no hotel, Lula seguiu para a avenida Paulista, onde simpatizantes se concentravam à sua espera. Ele repetiu parte da fala de minutos antes. “Eu nunca ganhei eleição em primeiro turno. Parece que o destino gosta de me fazer trabalhar um pouco mais.”
“Nós vamos ganhar as eleições outra vez. É apenas uma questão de tempo, de esperar um pouco mais de dias, para que a gente converse mais, aprimore o nosso programa, convença outras pessoas”, disse o ex-presidente. “O Brasil precisa de nós [do Partido dos Trabalhadores].”
O petista fez ainda o que chamou de apelo a todos os partidos aliados. “A gente não tem folga”, disse, conclamando esforço conjunto em São Paulo, a partir desta segunda, para ajudar sua campanha e a de Haddad. “A justiça divina vai fazer com que mais uma vez a gente possa ganhar essas eleições para recuperar a dignidade do povo brasileiro.”
Os discursos em frente ao Masp martelaram a ideia de que, melhor que ganhar de Bolsonaro uma vez, será vencê-lo duas vezes. Alckmin foi um dos que afirmaram que a chapa “vai ter duas vitórias”. “Agora vamos unir todos os democratas do Brasil, todos unidos para a gente vencer a mentira, o ódio, voltar a democracia, emprego, desenvolvimento e, dia 30 de outubro, resgatar o Brasil. Lula e Haddad!”, disse.
A Polícia Militar não forneceu uma estimativa do público presente na avenida. Lula foi recebido às 22h40 com gritos de “olê, olê, olê, olá, Lula, Lula”. Cada frase dita pelo candidato era seguida de gritos de aprovação e aplausos. Boa parte das pessoas ficou de pé cerca de cinco horas, acompanhando a apuração por telão.
Haddad, em crítica a Tarcísio, disse no carro de som que o bolsonarismo não vai “pisar em São Paulo”.
A campanha de Lula avaliou que Haddad cometeu um erro na estratégia de preservar o candidato bolsonarista na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes e mirar sua artilharia em Rodrigo Garcia (PSDB), que disputava a reeleição.
As pesquisas do comando da campanha nacional já apontavam uma reação e crescimento de Tarcísio e de Marcos Pontes. Os dirigentes informaram a coordenação da campanha de Haddad, que alegou ter outro número. Nas palavras de um íntimo aliado de Lula, São Paulo foi o calcanhar de aquiles do ex-presidente.
Há ainda uma avaliação que Bolsonaro foi beneficiado pelo voto útil, uma vez que parte do eleitorado de Ciro Gomes (PDT) migrou para o presidente.
Além disso, a campanha nacional avalia que a vantagem de Lula em Minas Gerais foi menor do que a prevista. Para esses coordenadores, a frustração da expectativa de vitória no primeiro turno aconteceu no Sudeste.
Fonte: Redação Folha de S. Paulo